Ascensão: o Triunfo do Vencedor, Jesus
Cristo
Ao Celebramos a
Ascensão do Senhor, sejamos enriquecidos pelo Sermão de São Máximo de Turim
(séc. V):
“’Se o grão de trigo não cai na terra e morre, fica
infecundo; mas se morre, dá muito fruto’. Floresceu, pois, novamente o Senhor
ressuscitando do sepulcro; frutifica quando sobe ao céu.
É flor quando é gerado nas profundezas da terra; é
fruto quando é assentado em Sua sublime sede. É grão – como Ele mesmo diz –
quando, só, padece a Cruz; é fruto quando Se vê cercado da copiosa fé dos
Apóstolos.
De fato, durante aqueles quarenta dias em que, depois
da Ressurreição, conviveu com Seus discípulos, instruiu-lhes em toda a
maturidade da sabedoria e os preparou para uma safra abundante com toda a fecundidade
de Sua doutrina. Depois subiu ao céu, ou seja, ao Pai, levando o fruto da carne
e deixando em Seus discípulos as sementes da justiça.
Subiu, portanto, o Senhor ao Pai. Vossa santidade
recordará, sem dúvida, que comparei o Salvador com aquela águia do salmista, da
qual lemos que renova sua juventude.
Realmente existe uma semelhança, e não pequena. Pois
assim como a águia abandonando os vales se eleva às alturas e penetra impetuosa
nos céus, assim também o Salvador abandonando as profundidades do abismo Se
elevou aos serenos picos do paraíso, e penetrou nas mais elevadas regiões do
céu.
E assim como a águia, abandonando a mesquinharia da
terra, e voando para as alturas, usufrui da salubridade de um ar mais puro,
assim também o Senhor, abandonando a imundície dos pecados terrenos e revoando
em Seus santos, alegra-Se na simplicidade de uma vida mais pura.
De forma que a comparação com a águia se encaixa
perfeitamente ao Salvador. Mas, então, como explicar o fato de que
frequentemente a águia destroça sua presa e arrebata seguidamente a presa
alheia? Contudo, tampouco nisto é dessemelhante ao Salvador.
De certo modo arrastou com a presa quando ao homem
que tinha assumido, arrancado das gargantas do inferno, o conduziu ao céu, e ao
que era escravo de uma dominação alheia, isto é, da potestade diabólica,
libertado da catividade, cativo o conduziu às regiões elevadas, como escreve o
profeta: ‘Subiu ao alto levando cativa a catividade e deu dons aos homens’.
Esta frase certamente significa que levou ao alto dos
céus a catividade cativa. Uma e outra catividade são designadas com idêntica
palavra. Mas ambas com um significado bem distinto, visto que a catividade do
diabo reduz o homem à escravidão, enquanto a catividade de Cristo restitui a
liberdade.
‘Subiu’, disse, ‘ao alto levando cativa a catividade’.
Quão bem descreve o profeta o triunfo de Cristo! Pois, segundo dizem, a pompa
da carruagem dos vencidos costuma preceder ao rei vencedor.
Mas eis aqui que a catividade gloriosa não precede ao
Senhor em sua Ascensão aos céus, mas que o acompanha; não é conduzida a
carruagem à frente, mas sim que é ela a que leva ao Salvador.
Por um inefável mistério, enquanto o Filho de Deus
eleva ao céu o Filho do homem, a própria catividade é ao mesmo tempo portadora
e portada. O que acrescenta: ‘deu dons aos homens’, é o gesto típico do
vencedor.” (1)
O Prefácio da
Solenidade da Ascensão é expressivo para aprofundamento de quanto tenha dito
São Máximo de Turim em seu Sermão:
“Na Verdade, é justo e necessário, é nosso dever e
salvação dar-vos graças, sempre e em todo o lugar, Senhor, Pai santo, Deus
eterno e todo-poderoso. Vencendo o pecado e a morte, vosso Filho, Jesus, Rei da
glória, subiu (hoje) ante os anjos maravilhados ao mais alto dos céus. E
tornou-Se o mediador entre vós, Deus, nosso Pai, e a humanidade redimida, juiz
do mundo e Senhor do universo. Ele, nossa cabeça e princípio, subiu aos céus,
não para afastar-Se de nossa humildade, mas para dar-nos a certeza de que nos
conduzirá à glória da imortalidade...” .
De fato, a
Ascensão de Cristo é o triunfo do vencedor, como tão bem expressa a Oração do
dia desta Solenidade:
Oremos:
“Ó Deus todo-poderoso, a Ascensão do
Vosso Filho já é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação
de graças, pois, membros de Seu corpo, somos chamados na esperança a participar
da Sua glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do
Espírito Santo. Amém.”
(1)
Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 - pp. 110-111
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