“A verdade vos tornará livres”
Uma síntese da Mensagem para o 52º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que tem como Lema “A verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32), tendo como temática – “Fake news e jornalismo de paz”, como já foi feito pelos seus predecessores, a começar por Paulo VI (cf. Mensagem de 1972: “Os instrumentos de comunicação social ao serviço da Verdade”).
Inicia destacando a importância da comunicação humana no projeto de Deus, como modalidade essencial para viver a comunhão.
No entanto, no contexto de uma comunicação cada vez mais rápida e dentro de um sistema digital, assiste-se ao fenômeno das “notícias falsas’, as chamadas ‘fake News’.
O Papa deseja uma tríplice contribuição:
- esforço comum de prevenir a difusão das notícias falsas;
- redescobrir o valor da profissão jornalística;
- responsabilidade pessoal de cada um na comunicação da verdade.
Conceitua a expressão “fake News”: “...diz respeito à desinformação transmitida on-line ou nos mass-media tradicionais. Assim, a referida expressão alude a informações infundadas, baseadas em dados inexistentes ou distorcidos, tendentes a enganar e até manipular o destinatário. A sua divulgação pode visar objetivos prefixados, influenciar opções políticas e favorecer lucros econômicos”.
São notícias falsas, que parecem verossímeis, “...por isto tais notícias são capciosas, no sentido que se mostram hábeis a capturar a atenção dos destinatários, apoiando-se sobre estereótipos e preconceitos generalizados no seio dum certo tecido social, explorando emoções imediatas e fáceis de suscitar como a ansiedade, o desprezo, a ira e a frustração....”
Chama a atenção para a gravidade da publicação de notícias falsas, pois podem favorecer a arrogância, o ódio e a propagação da falsidade.
Aludindo à serpente, ‘o mais astuto de todos os animais’ (cf. Gn 3,1-15), afirma que é preciso desmascarar uma lógica, que define como a ‘lógica da serpente’, capaz de se camuflar e morder em qualquer lugar.
A ‘lógica da serpente’, desde os primórdios da humanidade, foi artífice da primeira ‘fake news’, que levou às trágicas consequências do pecado, concretizadas depois no primeiro fratricídio (cf. Gn 4) e em inúmeras outras formas de mal contra Deus, o próximo, a sociedade e a criação.
Ela tem estratégia própria: “A estratégia deste habilidoso «pai da mentira» (Jo 8, 44) é precisamente a mimese, uma rastejante e perigosa sedução que abre caminho no coração do homem com argumentações falsas e aliciantes...”
As “’f'ake news’ tornarem-se frequentemente virais, propagando notícias com grande rapidez e de forma dificilmente controlável “ deve-se não tanto pela lógica de partilha que caracteriza os meios de comunicação social como sobretudo pelo fascínio que detêm sobre a avidez insaciável que facilmente se acende no ser humano”.
É preciso, portanto, educar para a verdade: ensinar a discernir, a avaliar e ponderar os desejos e as inclinações que se movem dentro de nós, para não nos encontrarmos despojados do bem “mordendo a isca” em cada tentação.
Interessante, neste sentido, a citação de Dostoevskij: “Quem mente a si mesmo e escuta as próprias mentiras, chega a pontos de já não poder distinguir a verdade dentro de si mesmo nem ao seu redor, e assim começa a deixar de ter estima de si mesmo e dos outros. Depois, dado que já não tem estima de ninguém, cessa também de amar, e então na falta de amor, para se sentir ocupado e distrair, abandona-se às paixões e aos prazeres triviais e, por culpa dos seus vícios, torna-se como uma besta; e tudo isso deriva do mentir contínuo aos outros e a si mesmo” (Os irmãos Karamazov, II, 2).
É preciso deixar-se purificar pela verdade, o mais radical antídoto contra o vírus da falsidade.
Esta verdade é o próprio Jesus – “Eu sou a verdade” (Jo 14,6), e somente ela liberta o homem – “A verdade vos tornará livres” (Jo 8,32).
É preciso discernir a verdade, e para discerni-la, é preciso examinar aquilo que favorece à comunhão e promove o bem e aquilo que, ao invés, tende a isolar, dividir e contrapor – “A partir dos frutos, podemos distinguir a verdade dos vários enunciados: se suscitam polêmica, fomentam divisões, infundem resignação ou se, em vez disso, levam a uma reflexão consciente e madura, ao diálogo construtivo, a uma profícua atividade”.
A paz é a verdadeira notícia, e o melhor antídoto contra as falsidades não são as estratégias, mas as pessoas que livres da ambição, estão prontas a ouvir e, através da fadiga de um diálogo sincero, deixam emergir a verdade; pessoas que, atraídas pelo bem, se mostram responsáveis no uso da linguagem.
Destaca o papel fundamental que têm os jornalistas, como guardiães das notícias – No mundo atual, ele não desempenha apenas uma profissão, mas uma verdadeira e própria missão. No meio do ‘frenesim’ das notícias e na voragem dos ‘scoop’, tem o dever de lembrar que, no centro da notícia, não estão a velocidade em comunicá-la nem o impacto sobre a audiência, mas as pessoas. Informar é formar, é lidar com a vida das pessoas. Por isso, a precisão das fontes e a custódia da comunicação são verdadeiros e próprios processos de desenvolvimento do bem, que geram confiança e abrem vias de comunhão e de paz”.
Convida para que se promova um jornalismo de paz – “sem entender, com esta expressão, um jornalismo ‘bonzinho’, que negue a existência de problemas graves e assuma tons melífluos. Pelo contrário, penso num jornalismo sem fingimentos, hostil às falsidades, a slogans sensacionais e a declarações bombásticas; um jornalismo feito por pessoas para as pessoas e considerado como serviço a todas as pessoas, especialmente àquelas – e no mundo, são a maioria – que não têm voz; um jornalismo que não se limite a queimar notícias, mas se comprometa na busca das causas reais dos conflitos, para favorecer a sua compreensão das raízes e a sua superação através do aviamento de processos virtuosos; um jornalismo empenhado a indicar soluções alternativas às ‘escalation’ do clamor e da violência verbal”.
Conclui com uma oração a Jesus, a Verdade em Pessoa, inspirada na conhecida oração franciscana:
“Senhor, fazei de nós instrumentos da Vossa paz.
Fazei-nos reconhecer o mal que se insinua em uma comunicação que não cria comunhão.
Tornai-nos capazes de tirar o veneno dos nossos juízos.
Ajudai-nos a falar dos outros como de irmãos e irmãs.
Vós sois fiel e digno de confiança;
fazei que as nossas palavras sejam sementes de bem para o mundo:
onde houver rumor, fazei que pratiquemos a escuta;
onde houver confusão, fazei que inspiremos harmonia;
onde houver ambiguidade, fazei que levemos clareza;
onde houver exclusão, fazei que levemos partilha;
onde houver sensacionalismo, fazei que usemos sobriedade;
onde houver superficialidade, fazei que ponhamos interrogativos verdadeiros;
onde houver preconceitos, fazei que despertemos confiança;
onde houver agressividade, fazei que levemos respeito;
onde houver falsidade, fazei que levemos verdade.Amém.”
PS: Acesse, se desejar, e leia a mensagem na integra:
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