domingo, 21 de maio de 2023

SÍNTESE DA MESAGEM PARA O 52º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS - “A verdade vos tornará livres”


“A verdade vos tornará livres”

Uma síntese da Mensagem para o 52º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que tem como Lema “A verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32), tendo como temática – “Fake news e jornalismo de paz”, como já foi feito pelos seus predecessores, a começar por Paulo VI (cf. Mensagem de 1972: “Os instrumentos de comunicação social ao serviço da Verdade”).

Inicia destacando a importância da comunicação humana no projeto de Deus, como modalidade essencial para viver a comunhão.

No entanto, no contexto de uma comunicação cada vez mais rápida e dentro de um sistema digital, assiste-se ao fenômeno das “notícias falsas’, as chamadas ‘fake News’.

O Papa deseja uma tríplice contribuição:

- esforço comum de prevenir a difusão das notícias falsas;
- redescobrir o valor da profissão jornalística;
- responsabilidade pessoal de cada um na comunicação da verdade.

Conceitua a expressão “fake News”: “...diz respeito à desinformação transmitida on-line ou nos mass-media tradicionais. Assim, a referida expressão alude a informações infundadas, baseadas em dados inexistentes ou distorcidos, tendentes a enganar e até manipular o destinatário. A sua divulgação pode visar objetivos prefixados, influenciar opções políticas e favorecer lucros econômicos”.

São notícias falsas, que parecem verossímeis, “...por isto tais notícias são capciosas, no sentido que se mostram hábeis a capturar a atenção dos destinatários, apoiando-se sobre estereótipos e preconceitos generalizados no seio dum certo tecido social, explorando emoções imediatas e fáceis de suscitar como a ansiedade, o desprezo, a ira e a frustração....”

Chama a atenção para a gravidade da publicação de notícias falsas, pois podem favorecer a arrogância, o ódio e a propagação da falsidade.

Aludindo à serpente, ‘o mais astuto de todos os animais’ (cf. Gn 3,1-15), afirma que é preciso desmascarar uma lógica, que define como a ‘lógica da serpente’, capaz de se camuflar e morder em qualquer lugar.

‘lógica da serpente’, desde os primórdios da humanidade, foi artífice da primeira ‘fake news’, que levou às trágicas consequências do pecado, concretizadas depois no primeiro fratricídio (cf. Gn 4) e em inúmeras outras formas de mal contra Deus, o próximo, a sociedade e a criação.

Ela tem estratégia própria: “A estratégia deste habilidoso «pai da mentira» (Jo 8, 44) é precisamente a mimese, uma rastejante e perigosa sedução que abre caminho no coração do homem com argumentações falsas e aliciantes...”

As “’f'ake news’ tornarem-se frequentemente virais, propagando notícias com grande rapidez e de forma dificilmente controlável “ deve-se não tanto pela lógica de partilha que caracteriza os meios de comunicação social como sobretudo pelo fascínio que detêm sobre a avidez insaciável que facilmente se acende no ser humano”.

É preciso, portanto, educar para a verdade: ensinar a discernir, a avaliar e ponderar os desejos e as inclinações que se movem dentro de nós, para não nos encontrarmos despojados do bem “mordendo a isca” em cada tentação.

Interessante, neste sentido, a citação de Dostoevskij: “Quem mente a si mesmo e escuta as próprias mentiras, chega a pontos de já não poder distinguir a verdade dentro de si mesmo nem ao seu redor, e assim começa a deixar de ter estima de si mesmo e dos outros. Depois, dado que já não tem estima de ninguém, cessa também de amar, e então na falta de amor, para se sentir ocupado e distrair, abandona-se às paixões e aos prazeres triviais e, por culpa dos seus vícios, torna-se como uma besta; e tudo isso deriva do mentir contínuo aos outros e a si mesmo” (Os irmãos Karamazov, II, 2).

É preciso deixar-se purificar pela verdade, o mais radical antídoto contra o vírus da falsidade.

Esta verdade é o próprio Jesus – “Eu sou a verdade” (Jo 14,6), e somente ela liberta o homem – “A verdade vos tornará livres” (Jo 8,32). 

É preciso discernir a verdade, e para discerni-la, é preciso examinar aquilo que favorece à comunhão e promove o bem e aquilo que, ao invés, tende a isolar, dividir e contrapor – “A partir dos frutos, podemos distinguir a verdade dos vários enunciados: se suscitam polêmica, fomentam divisões, infundem resignação ou se, em vez disso, levam a uma reflexão consciente e madura, ao diálogo construtivo, a uma profícua atividade”.

A paz é a verdadeira notícia, e o melhor antídoto contra as falsidades não são as estratégias, mas as pessoas que livres da ambição, estão prontas a ouvir e, através da fadiga de um diálogo sincero, deixam emergir a verdade; pessoas que, atraídas pelo bem, se mostram responsáveis no uso da linguagem.

Destaca o papel fundamental que têm os jornalistas, como guardiães das notícias – No mundo atual, ele não desempenha apenas uma profissão, mas uma verdadeira e própria missão. No meio do ‘frenesim’ das notícias e na voragem dos ‘scoop’, tem o dever de lembrar que, no centro da notícia, não estão a velocidade em comunicá-la nem o impacto sobre a audiência, mas as pessoas. Informar é formar, é lidar com a vida das pessoas. Por isso, a precisão das fontes e a custódia da comunicação são verdadeiros e próprios processos de desenvolvimento do bem, que geram confiança e abrem vias de comunhão e de paz”.

Convida para que se promova um jornalismo de paz – “sem entender, com esta expressão, um jornalismo ‘bonzinho’, que negue a existência de problemas graves e assuma tons melífluos. Pelo contrário, penso num jornalismo sem fingimentos, hostil às falsidades, a slogans sensacionais e a declarações bombásticas; um jornalismo feito por pessoas para as pessoas e considerado como serviço a todas as pessoas, especialmente àquelas – e no mundo, são a maioria – que não têm voz; um jornalismo que não se limite a queimar notícias, mas se comprometa na busca das causas reais dos conflitos, para favorecer a sua compreensão das raízes e a sua superação através do aviamento de processos virtuosos; um jornalismo empenhado a indicar soluções alternativas às ‘escalation’ do clamor e da violência verbal”.

Conclui com uma oração a Jesus, a Verdade em Pessoa, inspirada na conhecida oração franciscana:

“Senhor, fazei de nós instrumentos da Vossa paz.
Fazei-nos reconhecer o mal que se insinua em uma comunicação que não cria comunhão.

Tornai-nos capazes de tirar o veneno dos nossos juízos.
Ajudai-nos a falar dos outros como de irmãos e irmãs.

Vós sois fiel e digno de confiança;
fazei que as nossas palavras sejam sementes de bem para o mundo:
onde houver rumor, fazei que pratiquemos a escuta;

onde houver confusão, fazei que inspiremos harmonia;
onde houver ambiguidade, fazei que levemos clareza;

onde houver exclusão, fazei que levemos partilha;
onde houver sensacionalismo, fazei que usemos sobriedade;
onde houver superficialidade, fazei que ponhamos interrogativos verdadeiros;

onde houver preconceitos, fazei que despertemos confiança;
onde houver agressividade, fazei que levemos respeito;
onde houver falsidade, fazei que levemos verdade.Amém.”



PS: Acesse, se desejar, e leia a mensagem na integra:

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