sábado, 17 de maio de 2025

Pontes de concórdia, fraternidade e paz

 


Pontes de concórdia, fraternidade e paz

Reflexão à luz da Carta aos Coríntios, escrita pelo papa São Clemente (séc. I), em que nos fala das muitas veredas, mas somente um Caminho:

“Este é o caminho, caríssimos, onde encontramos nossa salvação: Jesus Cristo, o pontífice de nossas oferendas, nosso defensor e arrimo nas fraquezas.

Por Ele nossos olhos se voltam para as alturas dos céus; por Ele contemplamos, como num espelho, o rosto puríssimo e sublime de Deus; por Ele abrem-se os olhos de nosso coração; por Ele a nossa inteligência, insensata e obscurecida, desabrocha para a luz; por Ele quis o Senhor fazer-nos saborear a ciência imortal, pois sendo Ele o esplendor da glória de Deus, foi colocado tão acima dos anjos quanto o nome que herdou supera o nome deles (cf. Hb 1,3.4).

Combatamos, portanto, irmãos, com todas as forças, sob as suas ordens irrepreensíveis.

Consideremos os soldados, que combatem sob as ordens dos nossos comandantes. Quanta disciplina, quanta obediência, quanta submissão em executar o que se ordena! Nem todos são chefes supremos, ou comandantes de mil, cem ou cinquenta soldados, e assim por diante; mas cada um, em sua ordem e posto, cumpre as ordens do imperador e dos comandantes. Os grandes não podem passar sem os pequenos, nem os pequenos sem os grandes. A eficiência depende da colaboração recíproca.

Sirva de exemplo o nosso corpo. A cabeça nada vale sem os pés, nem os pés sem a cabeça. Os membros do corpo, por menores que sejam, são necessários e úteis ao corpo inteiro; mais ainda, todos se harmonizam e se subordinam para salvar todo o corpo. Asseguremos, portanto, a salvação de todo o corpo que formamos em Cristo Jesus, e cada um se submeta ao seu próximo conforme o dom da graça que lhe foi concedido.

O forte proteja o fraco e o fraco respeite o forte; o rico seja generoso para com o pobre e o pobre agradeça a Deus por ter dado alguém que o ajude na pobreza. O sábio manifeste sua sabedoria não por palavras, mas por boas obras; o humilde não dê testemunho de si mesmo, mas deixe que outro o faça. Quem é casto de corpo não se vanglorie, sabendo que é Deus quem lhe dá o dom da continência.

Consideremos, então, irmãos, de que matéria somos feitos, quem éramos e em que condições entramos no mundo, de que túmulo e trevas nos fez sair Aquele que nos plasmou e criou, para nos introduzir no mundo que lhe pertence, onde nos tinha preparado tantos benefícios antes mesmo de termos nascido. Sabendo, pois, que recebemos todas estas coisas de Deus, por tudo lhe demos graças. A Ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.”(1)

Uma profissão de fé:

Cremos que Cristo é a cabeça da Igreja, e que esta, por sua vez, é o Seu Corpo.

Cremos que Ele é o Princípio, o Primogênito dentre os mortos, e que, com Ele. ressurgirmos pela fé no poder de Deus, que O ressuscitou.

Cremos que n’Ele habita corporalmente a divina plenitude e que temos n’Ele a plenitude, porque fomos sepultados com Ele no dia de nosso Batismo.

Cremos, portanto, que devemos sempre superar todas as distâncias, empenhando-nos na construção de pontes de comunhão e fraternidade, e jamais muros dos distanciamentos e dispersões.

Cremos que, por sermos um Corpo, devemos fazer tudo para que a concórdia, o diálogo, a fraternidade e a paz sejam promovidas, superando todas as formas de conflitos e guerras.

Cremos na civilização do amor e, com a fé no Ressuscitado, firmamos nossos passos como peregrinos da esperança, comprometidos com um novo céu e uma nova terra. Amém.

 

 

 

(1) Liturgia das Horas – Tempo da Quaresma e da Páscoa – Volume II – pág. 718-719

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“O Verbo Se fez humildade, e encarnou entre nós”

                                                   

“O Verbo Se fez humildade, e encarnou entre nós”

Um ensinamento do Divino Mestre sobre a humildade que refletimos com a passagem do Evangelho (Lc 14,1.7-14), proclamado do 22º Domingo do Tempo Comum (ano C).

Assim nos disse o Senhor: “Todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado”.

Em Jesus, encontramos a verdadeira humildade, porque Ele Se abaixou, desceu: “quando encontrando-Se na condição divina, não considerou Sua igualdade com Deus como um tesouro a ser conservado ciosamente, humilhou-Se e foi obediente até a morte (Fl 2,6-8).

Durante a vida, depois, foi sempre coerente com esta escolha: Ele o Mestre, abaixa-Se para lavar os pés dos discípulos, comporta-Se como ‘Aquele que serve’; desce, desce, desce até que – tendo chegado ao ponto mais baixo, no túmulo – chega o Pai para O apanhar, O eleva acima dos céus e o estabelece chefe do universo, colocando tudo sob os Seus pés. Eis como Deus mesmo realizou Sua Palavra: ‘aquele que se humilhar será exaltado. Doravante, ser humilde, significa algo muito simples: ter os mesmos sentimentos de Cristo Jesus (Fl 2,5), comportando-se como Jesus Se comportou” (1).

Voltemo-nos para algumas definições de humildade que encontramos no livro “O Verbo Se faz carne” , de Raniero Cantalamessa, acima citado:

- “A humildade é antes de tudo uma questão de fatos, de escolhas, de atitudes concretas, não uma maneira de sentir e de falar de si.”

- “É a disponibilidade a descer de nós mesmos, abaixar-se para os irmãos, é vontade de servir, e de servir por amor, não por algum cálculo ou vantagem ou glória que possam advir para nós mesmos.”

- “A humildade é gratuidade.”

- “A humildade é uma manifestação do ágape, isto é, do amor de doação, do qual fala São Paulo no famoso hino (1 Cor 13,4); dizer que ‘a caridade é paciente, não se ostenta, não guarda rancor’, significa dizer que a caridade é humilde e que a humildade é caridade.”

- “Ser humilde, segundo modelo de Jesus, significa perder-se, gastar-se gratuitamente; significa ‘não viver para si mesmo’, mas para os outros, isto é, procurando levar os outros para si (reduzindo-os, quem sabe, a escravos ou a objetos para nossas vantagens pessoais), mas procurando ir ao encontro dos outros.”

- “’Humildade é verdade’. Santa Tereza escreve: ‘Perguntava-me uma vez por que o Senhor ama tanto a humildade e me veio à mente de improviso, sem nenhuma reflexão, que isto deve ser porque Ele é suma verdade e a humildade é verdade.”

- “A humildade em estado puro é a que se observa em Deus, na Trindade. Deus é humildade.”

- “Pentecostes – a ‘descida’ do Espírito – é um ato de humildade. Cada vez que Deus vem a nós e nos visita com sua graça Ele se torna ‘condescendente’ e faz atos de humildade.”

- “A água é, então, o melhor símbolo de humildade porque, da posição em que está, tende sempre a ir para baixo, descer, ocupar o lugar mais baixo: ‘Louvado seja meu Senhor, pela irmã água, a qual é muito últil e humilde e preciosa e casta’ (São Francisco)."

- “Ser humildes diante de Deus – no-lo dizem tantos textos dos profetas, dos salmos e, sobretudo, do Evangelho – é ser: ‘os pobres de Javé’, isto, abandonados a Ele, sem pretensões, mas confiantes diante d’Ele; é ser como crianças em seus braços.”

- “A humildade é um equilíbrio entre o modo de ser com Deus (a humildade do coração) e o modo de ser com os homens (humildade dos fatos). Não se pode ter humildade sem passar, de alguma maneira, através da humilhação.”

- “Na família: acho que a humildade foi inventada por Deus também para salvar os matrimônios. O orgulho, a obstinação, o individualismo são os inimigos mortais do amor, os que levam ao divórcio, antes no coração e depois na vida. Eu digo que a humildade é como lubrificante que dissolve na raíz a ferrugem, os atritos; ela impede que se forme incrustações de ressentimentos e muros de silêncio que depois são muito difíceis de superar...”

- “...muitas vezes um matrimônio é salvo pela humildade.... o matrimônio nasce da humildade! Enamorar-se de outra pessoa é o ato mais radical de humildade que se possa imaginar; significa sair de si mesmo, descer para o outro em atitude de quem implora, de mendigo, dizendo-lhe, com os fatos, mais ou menos assim: ‘Dá-me também o teu ser porque o meu não me basta!’. É admitir com todas as fibras do próprio ser que o homem não basta a si mesmo, mas se completa doando-se...

É preciso, porém ficar atentos: pode acontecer, com efeito, que com o passar dos anos, e esfriando-se o amor, se tente fazer pagar ao próprio cônjuge aquele ato inicial de humildade, infligindo lhe toda espécie de humilhações como para se vingar do fato de ter tido e de ter ainda necessidade dele; são os sinais de nossa espantosa miséria e da desordem que há dentro de nós depois do pecado. No início não era assim.”

- “Quanto mais alto queres que suba o edifício da santidade, tanto mais profundo precisa que ponhas o fundamento da humildade” -  (Santo Agostinho).

- “A humildade é o sal da santidade porque preserva toda virtude do perigo de se desgastar pela vanglória”

“A humildade desarma as pessoas... A humildade desarma; a melhor autodefesa não vale tanto quanto o menor ato de humildade.”

O autor também nos fala de uma disparidade entre a lógica evangélica da humildade em relação ao mundo: na vida social e na vida familiar.

Depois de percorrido o caminho, meditando em cada afirmação sobre a humildade, faz-se necessário, rever o quanto a humildade se faz presente em nossa vida. Uma vida marcada pela humildade nos faz cada vez mais identificados com o Senhor, em pensamentos, palavras e ação, sem omissões no melhor que possamos fazer pelos últimos.

A humildade vivida é condição indispensável, para que participemos verdadeira e frutuosamente do Banquete do Senhor, ouvindo Sua Palavra e nos alimentando de Seu Corpo e Sangue.

De fato, Jesus é a encarnação da humildade, e nós haveremos de ser, pela nossa vida, sinais desta humildade, quanto mais a Ele nos configurarmos.

Parafraseando o Evangelista São João, no início de seu Evangelho, podemos dizer que Deus, ao Se encarnar na segunda Pessoa da Santíssima Trindade, possibilitou-nos a contemplação da encarnação da humildade, da pura humildade, naquela frágil, indefesa criança, amparada por José e Maria, na singela gruta de Belém: “O Verbo Se fez humildade, e encarnou entre nós”.

(1) “O Verbo Se faz carne” - Raniero Cantalamessa – Editora Ave Maria  - 2013 - pp.715-720 
Apropriado para o quarto sábado do Tempo da Páscoa, quando se proclama a passagem do Evangelho de João (Jo 14,7-14).

Síntese da Mensagem para o LIX Dia Mundial das Comunicações Sociais – 2025 – Papa Francisco

 


Síntese da Mensagem para o LIX Dia Mundial das Comunicações Sociais – 2025 – Papa Francisco

A Mensagem para o LIX Dia Mundial das Comunicações Sociais -2025, escrita pelo Papa Francisco, tem como tema a passagem bíblica da Primeira Carta de São Pedro – “Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações” (cf. 1 Pd 3,15-16), em perfeita sintonia com o Jubileu da Esperança que estamos celebrando.

Há um forte convite para que todos sejamos comunicadores da esperança, em um tempo marcado pela desinformação e pela polarização, no qual alguns centros de poder controlam uma grande massa de dados e de informações sem precedentes.

Faz-se necessário desarmar a comunicação – “Hoje em dia, com demasiada frequência, a comunicação não gera esperança, mas sim medo e desespero, preconceitos e rancores, fanatismo e até ódio. Muitas vezes, simplifica a realidade para suscitar reações instintivas; usa a palavra como uma espada; recorre mesmo a informações falsas ou habilmente distorcidas para enviar mensagens destinadas a exaltar os ânimos, a provocar e a ferir.”

Outro fenômeno apresentado pelo Papa é a “dispersão programada da atenção”, promovida por sistemas digitais que provocam atomizações, individualismos, enfraquecendo a dimensão comunitária e a promoção do bem comum.

Não podemos empobrecer a “esperança”, que tem dimensões comunitárias e sociais, voltadas à promoção e defesa da dignidade humana e da Casa Comum.

O Papa nos apresenta três mensagens, à luz da passagem mencionada:

1ª – Nossa esperança tem um rosto: o rosto do Senhor Jesus Cristo Ressuscitado;

2ª – Estarmos dispostos a dar a razão da esperança a todos que nos pedirem;

3ª – Comunicação deve ser feita com mansidão, respeito e proximidade, como “companheiros de viagem, nos passos do maior Comunicador de todos os tempos: jesus de Nazaré.

Lembrando o Jubileu da Esperança, que nos renova na missão de sermos “construtores da paz” (cf. Mt 5,9), devemos promover uma comunicação que fale ao coração, cuidando do coração, ou seja, da vida interior. Para tanto, ele nos dá algumas pistas a serem vividas, contando com a graça de Deus:

“Sede mansos e nunca esqueçais o rosto do outro; falai ao coração das mulheres e dos homens ao serviço de quem desempenhais o vosso trabalho.

Não permitais que as reações instintivas guiem a vossa comunicação. Semeai sempre esperança, mesmo quando é difícil, quando custa, quando parece não dar frutos.

Procurai praticar uma comunicação que saiba curar as feridas da nossa humanidade.

Dai espaço à confiança do coração que, como uma flor frágil mas resistente, não sucumbe no meio das intempéries da vida, mas brota e cresce nos lugares mais inesperados: na esperança das mães que rezam todos os dias para rever os seus filhos regressar das trincheiras de um conflito; na esperança dos pais que emigram, entre inúmeros riscos e peripécias, à procura de um futuro melhor; na esperança das crianças que, mesmo no meio dos escombros das guerras e nas ruas pobres das favelas, conseguem brincar, sorrir e acreditar na vida.

Sede testemunhas e promotores de uma comunicação não hostil, que difunda uma cultura do cuidado, construa pontes e atravesse os muros visíveis e invisíveis do nosso tempo.

Contai histórias imbuídas de esperança, tomando a peito o nosso destino comum e escrevendo juntos a história do nosso futuro.”

 

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/communications/documents/20250124-messaggio-comunicazioni-sociali.html

“Não esqueçais o coração”

 


“Não esqueçais o coração”

Na conclusão da Mensagem para o LIX Dia Mundial das Comunicações 2025, o Papa Francisco nos apresentou preciosas pistas para que cuidemos do coração, ou seja, da vida interior, diante de vertiginosas conquistas da técnica:

“Sede mansos e nunca esqueçais o rosto do outro; 

falai ao coração das mulheres e dos homens ao serviço de quem desempenhais o vosso trabalho.

Não permitais que as reações instintivas guiem a vossa comunicação. Semeai sempre esperança, mesmo quando é difícil, quando custa, quando parece não dar frutos.

Procurai praticar uma comunicação que saiba curar as feridas da nossa humanidade.

Dai espaço à confiança do coração que, como uma flor frágil mas resistente, não sucumbe no meio das intempéries da vida, mas brota e cresce nos lugares mais inesperados: na esperança das mães que rezam todos os dias para rever os seus filhos regressar das trincheiras de um conflito; na esperança dos pais que emigram, entre inúmeros riscos e peripécias, à procura de um futuro melhor; na esperança das crianças que, mesmo no meio dos escombros das guerras e nas ruas pobres das favelas, conseguem brincar, sorrir e acreditar na vida.

Sede testemunhas e promotores de uma comunicação não hostil, que difunda uma cultura do cuidado, construa pontes e atravesse os muros visíveis e invisíveis do nosso tempo.

Contai histórias imbuídas de esperança, tomando a peito o nosso destino comum e escrevendo juntos a história do nosso futuro.

Tudo isto podeis e podemos fazê-lo com a graça de Deus, que o Jubileu nos ajuda a receber em abundância. Por isto, rezo por cada um de vós e pelo vosso trabalho, e vos abençoo.” Amém.

Iluminados pelos Prefácios da Páscoa

                                                                



                               Iluminados pelos Prefácios da Páscoa

O Prefácio da Páscoa I: “O Mistério Pascal”:

“...Na verdade, é digno e justo, é nosso dever e salvação proclamar vossa  glória, ó Pai, em todo tempo, mas com maior júbilo, louvar-Vos nesta noite (neste dia ou neste tempo) em que Cristo, porque Cristo, nossa Páscoa, foi imolado.

É ele o verdadeiro Cordeiro, que tirou o pecado do mundo; morrendo, destruiu a nossa morte e, ressurgindo, restaurou a vida. Por isto, transbordando de alegria pascal, exulta a criação por toda a terra; também as Virtudes celestes e as Potestades angélicas proclamam um hino à vossa glória, cantando (dizendo) a uma só voz:...”

O Prefácio da Páscoa II“A vida nova em Cristo”:

“...Por ele os filhos da luz nascem para a vida eterna e para os vossos fiéis abrem-se as portas do reino dos céus. Nossa morte foi redimida pela sua e na sua ressurreição ressurgiu a vida para todos....”

O Prefácio da Páscoa III“O Cristo vivo, nosso intercessor”:

“... Ele continua a oferecer-se por nós, e junto de vós é nosso eterno defensor. Imolado, já não morre; e, morto, agora vive eternamente...”

O Prefácio da Páscoa IV“A restauração do Universo pelo Mistério Pascal”:

“... Pois, destruído o que era velho, toda a criação decaída é renovada e em Cristo nos foi recuperada a integridade da vida....”

O Prefácio da Páscoa V: “O Cristo, sacerdote e vítima”:

“...Pela oblação de seu corpo pregado na cruz levou à plenitude os sacrifícios antigos e, entregando-se a vós para a salvação, revelou-se, ao mesmo tempo, sacerdote, altar e cordeiro...”.

São riquíssimos os Prefácios, que muito podem enriquecer nossa espiritualidade, trilhando o itinerário Pascal. Aleluia!

Amar como Jesus Ama: desafio e missão (VDTPC)

                                                    

Amar como Jesus Ama: desafio e missão

“Vede como eles se amam” (Tertuliano)

A Liturgia do 5º domingo da Páscoa (Ano C) nos convida a aprofundar a vivência do essencial do cristianismo: a prática do Mandamento do Amor – “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (já anunciado no Livro do Levítico 19,18-34 e Dt 10,19).

A vida cristã tem esta marca que garante sua autenticidade: a capacidade de amar até o extremo, no dom total da própria vida.

A passagem da primeira Leitura (At 14,21b-27) retrata o fim da primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé.

A missão do anúncio e do testemunho do Ressuscitado tem traços fundamentais que podem ser assim sintetizados:

- O entusiasmo necessário para vencer os perigos e as dificuldades para o anúncio da boa nova;

- Ter palavras de consolação para fortalecer a fé da comunidade confiada;

- O necessário apoio mútuo; a Oração e a consciência de que a missão não é obra puramente humana, mas de iniciativa divina, tendo Deus como autor autêntico da conversão, sob a ação e iluminação do Espírito Santo.

A passagem da segunda Leitura (Ap 21, 1-5a) nos apresenta a missão de construirmos um novo céu e uma nova terra, que é a meta última de nossa história.

A visão do autor – “Jerusalém que desce do céu” – retrata a realidade de que o novo céu e a nova terra têm origem divina e possibilita nossa resposta, nossa participação.

Discípulos do Ressuscitado, esperamos e nos comprometemos com a Jerusalém Celeste tornando o mundo mais fraterno, mais justo e solidário, a meta da harmonia e da felicidade sem fim. Não haverá mais dor, luto, morte e sofrimento.

A partir desta fé inaugura-se um relacionamento que transforma a si mesmo e todos os que estão em sua volta, culminando até na renovação de todas as estruturas geradoras de lágrimas, dor, sofrimento e luto.

O amor e a alegria de sermos partícipes na construção do Reino devem estar presentes em nossas comunidades. Isto ocorre quando os ministérios diversos são postos a serviço da comunidade, e não nos servimos dela para qualquer outro objetivo. A grandiosidade está no servir à comunidade e não o contrário.

Somente no amor vivido é que reconhecerão que somos discípulos do Ressuscitado, e esta passa a ser para sempre a nossa identidade, de modo que nossa identidade não é uma filosofia, tão pouco a prática de ritos em si mesmo, mas a intensidade e profundidade do como e do quanto amamos.

A Ressurreição de Jesus Cristo nos convoca a nossa própria renovação, bem como de todas as estruturas do mundo, para que seja a expressão de uma Aliança que deu certo. Ter nos amado e nos amado até o fim, não foi em vão.

Esta missão é explicitada na passagem do Evangelho (Jo 13,31-33a.34-35) em que, num contexto de despedida dos Seus discípulos, Jesus deixa o Novo Mandamento do Amor.

Trata-se de um momento muito solene, e não havia possibilidade para conversas inúteis, porque se aproximava o fim, e era preciso recordar aos discípulos o mais fundamental na proposta cristã: o Mandamento do Amor.

A medida do amor fraterno é Ele próprio, o Amor de Cristo – “como Eu vos amei” (Jo 13,34). Portanto, o amor não consiste numa ideia, e tão pouco pode ser reduzido a qualquer sentimento, mas um autêntico movimento de entrega que faz o outro viver, porque gera vida.

Amemos como Jesus nos ama, porque isto é a exigência fundamental para aquele que n’Ele crê.  O Mandamento do Amor é a expressão máxima da vida cristã.

A comunidade será para o mundo um sinal do Deus vivo e que ama a humanidade.

Ser discípulo é testemunhar o Amor de Deus na fidelidade, acolhida, serviço, entusiasmo, generosidade, partilha...

“Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.” Segundo Tertuliano, autor sagrado, os primeiros cristãos tomaram tão a sério estas Palavras do Senhor, que os pagãos exclamavam admirados «Vede como eles se amam!» (cf. Jo 15, 12.13.17; 1 Jo 2, 8; Mt 22, 39; Jo 17, 23; Act 4, 32).

Reflitamos:

- De que modo vivemos o Novo Mandamento do Amor que o Senhor nos ordenou?
- Somos uma comunidade onde o amor é o nosso distintivo?

- Nossas relações dentro da comunidade são marcadas pelo amor fraterno?
- Somos uma comunidade missionária, indo ao encontro daqueles que não conhecem ainda a Boa Nova do Ressuscitado?

- Quais são os sinais que expressam nossos compromissos na construção de um novo céu e uma nova terra?
- Ao virem nossas comunidades, as relações entre os que dela participam e outras manifestações, os que dela não participam dirão – “vede como eles se amam”?

Eis o desafio, eis a nossa missão. Um longo caminho já fizemos, sem nos esquecermos de que somos a Igreja do Ressuscitado, uma Igreja santa e pecadora, somos convidados a viver a religião do amor, a amar como Deus ama, como aprendemos com o Filho, iluminados e inflamados pelo Fogo do Espírito.

Quando não perdemos a meta da Jerusalém Celeste, não nos perdemos também no caminho.

É tempo de amar como Jesus ama; somente assim nossa vida terá sentido e a alegria Pascal transbordará verdadeiramente em nosso coração. Aleluia!

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