quarta-feira, 30 de abril de 2025

O amor de Deus nos impulsiona ao discipulado

                                                          

O amor de Deus nos impulsiona ao discipulado

Na quarta-feira da 2ª semana do Tempo da Páscoa, ouvimos a passagem do Evangelho de João (Jo 3,16-21).

Deus não só levantou a serpente de bronze no deserto para curar Seu povo, mas ofereceu Seu Filho ao mundo:

“Deus amou tanto o mundo, que enviou Seu Filho Unigênito, para que não morra todo o que n'Ele crer, mas tenha a vida eterna” (João 3,16).

Deus não só participou de Sua elevação na Cruz pela Redenção do mundo: Mistério do Amor Trinitário, que em Jesus, possuidor de condição divina, despojando-Se de tudo, aceita a morte, e morte de Cruz.

A Morte de Jesus não é ausência de Deus, mas na aparência de Sua ausência, eterna permanência de Seu amor:

Como Santo Agostinho afirmou: Deus Amante (Pai); Deus Amado (Filho); Deus Amor (Espírito).

Antes de ser elevado, desce ao fundo da miséria da condição humana, vai à mansão dos mortos para reconciliar todos os que habitam nas trevas.

Ressuscitado, elevado, glorificado, à direita de Deus, no eterno relacionamento de Amor, também quer nos elevar um dia ao Seu eterno, alegre e amoroso convívio: Céu - Plenitude da vida e luz!

A humanidade, ainda que experimente os porões da miséria humana, os porões da morte, é chamada a habitar nas alturas, na glória de Deus.

Quando se multiplica a morte dos inocentes, renova-se o compromisso inadiável com os crucificados da História.

Ver Jesus, n'Ele tocar, por Ele ser sempre tocados, com a convicção de que quando N’Ele tocamos e somos tocados pela Palavra e Eucaristia, n’Ele tocamos e somos tocados pela Sua real presença em cada crucificado.

A fé no Ressuscitado, e envolvidos por Seu amor e presença somos enviados a ser d’Ele sinal e instrumento, comprometidos com Ele em tantos rostos e expressões de crucificados. Aleluia!

Cremos no Senhor, expressão maior do Amor de Deus

                                                    


Cremos no Senhor, expressão maior do Amor de Deus

“Pois Deus amou tanto o mundo, que
deu o Seu Filho único para que não morra
quem n’Ele crê, mas tenha vida eterna.”  (Jo 3,16)

Na 2ª quarta-feira da Páscoa, ouvimos a passagem do Evangelho de João (Jo 3, 16-21), no qual encontramos um dos mais belos versículos da Sagrada Escritura: “Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o Seu Filho único para que não morra quem n’Ele crê, mas tenha vida eterna”.

À luz desta passagem, elevo uma Oração ao Senhor, que tendo nos amado, nos amou até o fim, e continua manifestando o Seu Amor com a presença do Seu Espírito, que nos anima e nos fortalece na fidelidade ao Projeto do Pai, pelo qual a Vida entregou.

Oremos: 

Contemplo, Senhor Jesus, Vossa vinda ao mundo como a maior manifestação do Amor misericordioso de Deus por todos nós, que não quer a nossa morte como pecadores que somos, mas que nos convertamos e vivamos.

Creio em Vós, Senhor, e em Vossa missão, que viestes ao mundo não para condená-lo, mas para que seja salvo por Vós, pelo Mistério de Vossa Paixão, Morte e Ressurreição.

Creio em Vós, Senhor, que não permitis que caiamos em tentação diante das dificuldades e provações, multiplicando as obras das trevas, numa vida marcada pelo pecado com suas tristes e por vezes mortais consequências.

Creio em Vós, que nos libertastes para não mais vivermos segundo a carne, escravos do pecado e da morte, e assim, vivendo livres, segundo o Espírito, como filhos e filhas de Deus, irmãos uns dos outros, na graça abundante e revitalizadora de nossos passos, de amanhecer em amanhecer.

Creio em Vós, Senhor, no transbordamento imensurável de Vossa graça em nosso coração, para que movidos pela Paixão do Reino, fascinados por Vós, em adesão total e incondicional a Vossa Palavra, caminhemos na Vida Nova que vem de Vós, Ressuscitado.

Creio em Vós, Senhor, que viestes ao mundo para trazer a Salvação à humanidade mergulhada no pecado, e que por si só é incapaz de se livrar desta trágica situação.

Creio em Vós, Senhor, que viestes para a divina missão de nos reconciliar com Deus, para por fim na antiga inimizade de nossos pais com o Criador, e, pelo Vosso Sangue derramado, selássemos uma indissolúvel Nova e Eterna Aliança de Amor.

Creio em Vós, Senhor, e também Vos peço, para que, sedentos da Salvação eterna, não apenas Vos confessemos com os lábios, mas que verdadeiramente nos configuremos a Vós; com o Vosso divino modo de ser e viver, em total submissão à vontade de Deus Pai, com o Santo Espírito que pousou sobre Vós.

Creio em Vós, Senhor, que fazeis frutificar a nossa fé na prática da caridade, para que se tornem realizadas as mais belas esperanças, também na mente e coração cultivados, para que um dia alcancemos a esperança maior: a eternidade, e junto de Vós e com Vosso Espírito, a face de Deus contemplar.

Senhor, que o Vosso Amor esteja entranhado em nosso coração e seja expresso na relação para com nosso próximo, porque tão somente assim, luminosos seremos, e ao mundo, por vezes tão sombrio, poderemos comunicar um raio de Vossa divina luz. Amém. Aleluia!

Discípulos missionários do Senhor: amados para amar

                             

Discípulos missionários do Senhor: amados para amar


“Pois o Amor que d’Ele vem e
experimentamos é impossível de ser contido.”

Na quarta-feira da 2ª semana do Tempo Pascal, ouvimos a passagem do Evangelho de João (Jo 3,16-21).

Reflitamos sobre a Encarnação e Missão do Verbo, Nosso Senhor, que é também a nossa missão, de uma comunidade que escuta, acolhe, acredita, anuncia, testemunha a Sua Palavra.

Assim lemos na passagem da Epístola aos Hebreus:

“Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos Profetas; nestes dias, que são os últimos, Ele nos falou por meio do Filho, a quem Ele constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual Ele também criou o universo.

Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do Seu ser. Ele sustenta o universo com o poder de Sua Palavra. Tendo feito a purificação dos pecados, Ele sentou-Se à direita da Majestade Divina, nas alturas. Ele foi colocado tanto acima dos Anjos quanto o nome que Ele herdou supera o nome deles.” (Hb 1,1-4)

Como vemos e cremos, Deus Se revelou e Se comunicou com a humanidade num momento histórico por meio de Jesus de Nazaré, a Palavra de Deus viva e encarnada.

Esta citação nos ajuda a dar um passo neste itinerário Pascal que estamos trilhando:

“Jesus é a Palavra de Deus no meio de nós, porque a Palavra não é uma coisa, mas uma pessoa: ‘A Palavra fez-Se Carne e habitou entre nós’ (Jo 1,14).

Jesus é o Messias enviado por Deus e consagrado pelo Espírito para falar em nome do Senhor, trazendo a Sua misericórdia, a liberdade e o auxílio aos cativos, aos pobres, aos oprimidos (Lc 4,14-21).

A condição hoje necessária a cada cristão é o acolhimento de Jesus e da Sua Palavra” (1)

Iluminadoras as citações do Missal Cotidiano que nos ajudam à compreensão desta inserção do Verbo em nossa história e a missão que nos foi por Ele confiada:

- “A Bíblia é a literatura de um povo; nela estão reunidas as vicissitudes, os sofrimentos, as angústias, as alegrias e as esperanças da história de um povo; as reflexões dos sábios, os líricos, os hinos dos poetas, as canções populares até a vida das primitivas comunidades cristãs... A história passada é lida como Palavra de Deus para que, à sua luz, possamos ler a nossa história, a nossa vida, e descobrir e encontrar Deus nas vicissitudes do nosso cotidiano”

“... A Igreja não proclama uma abstrata ideologia humana, mas a Palavra que Se fez Carne em Cristo, Filho de Deus, Senhor e Redentor de todos os homens”.

- “Antigo e Novo Testamento se tornam atuais, próximos, se não ficarmos presos à letra morta. Mais cedo ou mais tarde descobriremos que podemos dizer a cada página – ‘Aqui se fala de nós. Eu sou Adão.

Nós somos os apóstolos no mar. Encontramo-nos precisamente como Jesus no caminho do Calvário e da Ressurreição. Assim, através da Palavra de Deus, vamos lentamente descobrindo como é nossa vida aos olhos d’Ele, isto é, na dimensão profunda...’

A Palavra que vem de Deus possui a força e a eficácia de Deus. Interpela, provoca, consola, cria comunhão e salva, das mais diversas maneiras, conforme os momentos e as formas; todo ato de pregação é glorificação de Deus e acontecimento sociológico para os homens. Hoje também a Palavra quer tornar-se carne para nossa vida”.

A força e a eficácia da Palavra em nossa vida são inegáveis:

“A Palavra de Deus deve ser conhecida, redescoberta, vivida. A Palavra de Deus fundamenta a fé dos crentes e constrói a Igreja: ‘A Palavra de Deus é viva, eficaz’ (Hb 4,12); ‘toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para refutar, para corrigir, para educar... para que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda a boa obra’ (2Tm 3,16-17). Pedro diz claramente que: ’nascemos de novo, não de uma semente mortal, mas imortal, por meio da Palavra de Deus, que é viva e permanece’” (1Pd 1,23)”.

Concluímos com as palavras de São João Crisóstomo, em sua Homilia sobre o Evangelho de São João:

“As Escrituras não nos foram dadas para que as conservássemos só escritas nos livros, mas para que as gravássemos no coração [...] impressas na alma para que esta fosse purificada”.

Expressemos nosso amor ao Senhor, que ainda não amamos nunca o bastante, e que desejamos amá-Lo com todo nosso ser, nossa alma, nossa força e nosso entendimento, pois Ele é Aquele que um dia Se fez igual a nós, exceto no pecado, para caminhar conosco.

Reclinaremos em Seu Sagrado Coração, como fez o discípulo amado, e nada mais diremos, pois diante do amor, as palavras se tornam desnecessárias.

Diante da Palavra, nossas palavras nada são, pois não expressam quão grande é o amor do Senhor por nós.

Refeitos pelo Amor e carinho do Senhor, revigorados pelo Pão da Palavra e da Eucaristia, vamos ao encontro de nosso próximo, pois o Amor que d’Ele vem e experimentamos é impossível de ser contido.



(1) Lecionário Comentado - Tempo Comum – p.121. 

Pães ázimos de pureza e verdade

                                                                 

Pães ázimos de pureza e verdade
 
“Assim, celebremos a Festa, não com velho fermento,
nem com fermento da maldade ou da perversidade,
mas com os pães ázimos de pureza e verdade”
(1 Cor 5,8)
 
Reflexão à luz da passagem da Primeira Carta do Apóstolo Paulo aos Coríntios (1 Cor 5,1-8), que rezamos nas Laudes:
 
- “Purificai-nos, Senhor, de todo fermento de malícia e perversidade, para vivermos a Páscoa de Cristo com os pães ázimos da sinceridade e da verdade;
 
- Ajudai-nos a vencer neste dia o pecado da discórdia e da inveja, e tornai-nos mais atentos às necessidades de nossos irmãos e irmãs”.
 
Para aprofundamento sejamos enriquecidos pelo Sermão do Papa São Leão Magno (séc. V):
 
Caríssimos filhos, a natureza humana foi assumida tão intimamente pelo Filho de Deus, que o único e mesmo Cristo está não apenas neste Homem, primogênito de toda a criatura, mas também em todos os Seus santos [...]
 
É Ele (Jesus) que une à Sua Paixão não apenas a gloriosa fortaleza dos mártires, mas também a fé de todos aqueles que renasceram nas Águas Batismais.
 
É nisto que consiste celebrar dignamente a Páscoa do Senhor com os ázimos da sinceridade e da verdade: tendo rejeitado o fermento da antiga malícia, a nova criatura se inebria e se alimenta do próprio Senhor.
 
A nossa participação no Corpo e no Sangue de Cristo age de tal modo que nos transformamos n’Aquele que recebemos. Mortos, sepultados e ressuscitados n’Ele, que O tenhamos sempre em nós tanto no espírito como no corpo”.
 
Malícia, perversidade, discórdia, inveja, e tantas outras formas de pecado, mancham nossa veste batismal, e ninguém pode dizer que não está livre, tanto que elevamos a Deus súplicas, para que Ele nos ajude a vencer tais tentações. Também suplicamos a Sua Misericórdia para nossa necessária purificação.
 
Sinceridade, verdade, solicitude para com os irmãos e irmãs, são mais do que desejáveis para nós que temos uma fé Pascal.
 
Rezar com a Igreja nos enriquece cotidianamente, e em cada Eucaristia ser nutrido pelo pão ázimo do amor e da verdade, porque isenta de todo fermento de maldade, que impossibilitaria que, n’Ele inserido, nova criatura fôssemos.
 
Somos fortalecidos ao receber a Eucaristia, pois somos nutridos com o mais belo Pão, que foi fermentado sim, mas com o mais puro Amor, no Sangue, copiosamente, na Cruz derramado.
 
Bem como, somos inebriados quando do Cálice participamos e bebemos da mais pura e necessária Bebida.
 
Comungando do Pão Consagrado, bebendo do Vinho consagrado, Corpo e Sangue do Senhor, n'Ele somos transformados e no mundo cada gesto de amor, partilha, perdão, compreensão, solidariedade, Sua ação e presença, testemunhadas.
 
É preciso sempre gerar e formar Cristo em nós, para gerá-Lo e formá-Lo no coração do outro. 
 
Cada Eucaristia é e será sempre um novo e eterno acontecimento, sem nenhum mérito de nossa parte, mas pura expressão do Amor Divino.
 
Ontem, hoje e sempre, a Deus, honra, glória, poder e louvor, acompanhado do mais sincero e autêntico agradecimento. Amém. 
 

Rezando com os Salmos - Sl 35 (36)

 


O Senhor é fonte de vida, graça e luz


“–1 Ao mestre do coro. De Davi, servo do Senhor.

–2 O pecado sussurra ao ímpio
lá no fundo do seu coração;
– o temor do Senhor, nosso Deus,
não existe perante seus olhos.
–3 Lisonjeia a si mesmo pensando:
‘Ninguém vê nem condena o meu crime’.

–4 Traz na boca maldade e engano;
já não quer refletir e agir bem.
=5 Arquiteta a maldade em seu leito,
nos caminhos errados insiste
e não quer afastar-se do mal.

–6 Vosso amor chega aos céus, ó Senhor,
chega às nuvens a Vossa verdade.
–7 Como as altas montanhas eternas
é a vossa justiça, Senhor;
– e os vossos juízos superam
os abismos profundos dos mares.

– Os animais e os homens salvais:
8 quão preciosa é, Senhor, vossa graça!
– Eis que os filhos dos homens se abrigam
sob a sombra das asas de Deus.
–9 Na abundância de Vossa morada,
eles vêm saciar-se de bens.

– Vós lhes dais de beber água viva,
na torrente das Vossas delícias.
–10 Pois em Vós está a fonte da vida,
e em Vossa luz contemplamos a luz.
–11 Conservai aos fiéis Vossa graça,
e aos retos, a vossa justiça!

–12 Não me pisem os pés dos soberbos,
nem me expulsem as mãos dos malvados!
–13 Os perversos, tremendo, caíram
e não podem erguer-se do chão.”

Com o Salmo 35(36) refletimos sobre a malícia do pecador e a bondade de Deus que vem em socorro dos justos, iluminando seus caminhos:

“Em dois quadros bem distintos descreve-se a maldade do pecador que não quer converter-se (v.2-5) e, depois, a infinita misericórdia de Deus, que coloca a salvação ao alcance de todos (v. 6-13).” (1)

Peregrinos do Senhor, experimentamos cotidianamente as delícias de Deus em nosso favor; e Ele nos comunica vida, graça e luz, como tão bem se expressou e rezou o Salmista.

Firmemos nossos passos confiantes na presença do Senhor, porque quem o Segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida (cf. Jo 8,12).

 

(1) Comentário da Bíblia Edições CNBB – pág. 755

Em poucas palavras...

                                                        


Escravos, mercenários ou filhos

 

“Nós, ou nos desviamos do mal por temor do castigo e estamos na atitude do escravo, ou vivemos à espera da recompensa e parecemo-nos com os mercenários; ou, finalmente, é pelo bem em si e por amor d’Aquele que manda, que obedecemos […], e então estamos na atitude própria dos filhos”

 

(1)São Basílio – cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1828

 

Templo e templos - Mesmo amor e zelo tenhamos!

                                                         

Templo e templos - Mesmo amor e zelo tenhamos!  
  
O zelo pela casa do Senhor e o amor pelos
Seus templos vivos, os pobres...

Retomemos a homilia escrita pelo Bispo São João Crisóstomo (séc. IV), sobre o Evangelho de São Mateus, que nos convida a refletir sobre o templo e os templos de Deus.

“Queres honrar o corpo de Cristo?
Não o desprezes quando nu, não o honres com vestes de seda e abandones fora no frio e na nudez o aflito.

Pois aquele que disse: Isto é o meu Corpo (Mt 26,2) e confirmou com a palavra, é o mesmo que falou: Tu Me viste faminto e não Me alimentaste (Mt 25,35); e: O que não fizeste a um destes mais pequeninos, não o fizeste a mim (Mt 25,45). Este não tem necessidade de vestes, mas de corações puros, aquele, porém, precisa de grande cuidado...

Aprendamos, portanto, a raciocinar e a reverenciar a Cristo como lhe agrada... Assim, honra-O tu com a honra prescrita em lei, distribuindo tua fortuna com os pobres. Deus não precisa de vasos de ouro, mas de almas de ouro.

Que proveito haveria, se a mesa de Cristo está coberta de taças de ouro e Ele próprio morre de fome? Sacia primeiro o faminto e, depois, do que sobrar, adorna sua mesa.

Fazes um cálice de ouro e não dás um copo de água? Que necessidade há de cobrir a mesa com véus tecidos de ouro, se não lhe concederes nem mesmo a coberta necessária? Que lucro haverá? Diz-me: se vês alguém que precisa de alimento e, deixando-o lá, vais rodear a mesa, de ouro, será que te agradecerá ou, ao contrário, se indignará? Que acontecerá se ao vê-lo coberto de andrajos e morto de frio, deixas de dar as vestes, mandas levantar colunas douradas, declarando fazê-lo em sua honra? Não se julgaria isto objeto de zombaria e extrema afronta? Pensa também isto a respeito de Cristo, quando errante e peregrino vagueia sem teto.

Não O recebes como hóspede, mas ornas o pavimento, as paredes e os capitéis das colunas, prendes com cadeias de prata as lâmpadas, e a Ele, preso em grilhões no cárcere, nem sequer te atreves a vê-Lo.

Torno a dizer que não proíbo tais adornos, mas que com eles haja também cuidado pelos outros. Ou melhor, exorto a que se faça isto em primeiro lugar. Daquilo, se alguém não o faz, jamais é acusado; isto porém, se alguém o negligencia, provoca-lhe a geena e fogo inextinguível, suplico com os demônios.

Por conseguinte, enquanto adornas a casa, não desprezes o irmão aflito, pois ele é mais precioso que o templo”

São João Crisóstomo possuía  uma capacidade excepcional para explicar a Boa Nova de Jesus Cristo, na linguagem e cultura do seu tempo.

Dava forte ênfase às consequências sociais do Evangelho; era, ao mesmo tempo, invejável o seu esforço para tornar bela a oração e para transmitir a reflexão teológica de forma poética.

É uma Homilia profundamente questionadora na indispensável necessidade de cuidar da beleza do templo e de tudo que ao culto se refira, sem deixar de lado o essencial do Evangelho, o cuidado e a promoção dos pobres.

Reflitamos

- De que modo cuidamos da Casa do Senhor e de tudo quanto esteja relacionado?

- Quanto de recurso financeiro e de tempo investimos no cuidado do Senhor, na pessoa dos pobres que nos interpelam, como Sua real presença?
- A preocupação que temos com o esplendor de nossos templos e liturgia é a mesma que temos com o resgate do esplendor do brilho dos olhos de nossos irmãos empobrecidos? 

Oremos:  
Senhor, que eu cuide de Ti em cada irmão e irmã empobrecido, com o mesmo amor com que cuido do culto e de Tua casa;

Senhor, que o zelo, a promoção da vida e da dignidade dos pobres me consuma como me consome o zelo pela Tua casa.

Senhor, que este zelo inseparável, irrenunciável e inadiável,
Por nós seja vivido, porque para Vós agradável e louvável!

Senhor, não permita que caiamos em omissões execráveis, 
detestáveis e lamentáveis, porque por Vós inadmissíveis e impensáveis!
Amém!

Que nosso coração seja puro e luminoso

                                                           

Que nosso coração seja puro e luminoso

“... Não manches tua alma
com as nódoas do pecado...”

Acolhamos o Sermão do Bispo São Cesário de Arles, quando da Celebração desta Festa da Basílica do Latrão (séc. IV), no dia 09 de novembro.

“Celebramos hoje, irmãos diletos, com exultação jubilosa e com a Bênção de Cristo, o natalício deste templo. Nós, porém, é que temos de ser o verdadeiro templo vivo de Deus. Todavia é com muita razão que os povos cristãos observam com fé a solenidade da Igreja-mãe, por quem reconhecem ter nascido espiritualmente. Pois pelo primeiro nascimento éramos vasos da ira de Deus; pelo segundo, foi-nos dado ser vasos da Sua misericórdia. O primeiro nascimento lançou-nos na morte; e o segundo, chamou-nos de novo à vida.

Todos nós, caríssimos, antes do Batismo fomos templos do demônio; depois do Batismo, obtivemos ser templos de Cristo. E se meditarmos com atenção sobre a salvação de nossa alma, reconheceremos que somos o verdadeiro templo vivo de Deus. Deus não habita somente em construções de mão de homem (At 17,24) nem em casa feita de pedras e madeira; mas principalmente na alma feita à imagem de Deus e edificada por mãos deste Artífice. Desse modo pôde São Paulo dizer: O templo de Deus, que sois vós, é santo (1Cor 3,17).

E já que Cristo, quando veio, expulsou o diabo de nossos corações para preparar um templo para Si, quanto pudermos, esforcemo-nos com Seu auxílio para que em nós não sofra injúria por nossas más obras. Pois quem proceder mal, faz injúria a Cristo. Como disse acima, antes que Cristo nos redimisse, éramos casa do diabo; depois foi-nos dado ser casa de Deus. Deus Se dignou fazer de nós Sua casa.

Por isso, diletos, se queremos celebrar na alegria o natalício do templo, não devemos destruir em nós, pelas obras más, os templos vivos de Deus. E falarei de modo que todos compreendam: cada vez que entramos na igreja, queremos encontrá-la tal como devemos dispor nossas almas.

Queres ver bem limpa a Basílica? Não manches tua alma com as nódoas do pecado. Se desejas que a Basílica seja luminosa, também Deus quer que tua alma não esteja em trevas, mas que em nós brilhe a luz das boas obras, como disse o Senhor, e seja glorificado Aquele que está nos céus. Do mesmo modo como tu entras nesta Igreja, assim quer Deus entrar em tua alma, conforme prometeu: E habitarei e andarei entre eles (cf. Lv 26,11.12)”.

Basílica do Latrão foi “... um dos primeiros templos que os cristãos puderam erguer depois da época das perseguições. Foi consagrada pelo Papa Silvestre no dia 9 de novembro de 324. 

A festa, que a princípio era celebrada apenas em Roma, passou a ser festa universal no rito romano, em honra dessa Igreja chamada 'Mãe e Cabeça de todas as Igrejas de Roma e de todo o mundo' (Urbis et orbis), como sinal de amor e de unidade para com a Cátedra de São Pedro. A história desta Basílica evoca a chegada à fé de milhares de pessoas que ali receberam o Batismo”.

Tomemos consciência de nossa condição pecadora e na acolhida da misericórdia e luz divinas que nos purificam e nos iluminam, e também para que nos tornemos menos impuros para acolhida de Deus em nós, uma vez que o Batismo nos torna templos de Deus.

Acompanhe-nos, todos os dias,  a Oração, a vigilância, a conversão e a penitência a para que sejamos pedras vivas na Igreja, tendo Cristo como a Pedra principal, e os Apóstolos como seus fundamentos.

Sejamos uma comunidade eclesial, onde favoreça o encontro pessoal com o Senhor, num processo de formação permanente, para que vivendo a dimensão missionária não nos omitamos no anúncio do Evangelho a todos os povos.

Purifiquemos nosso coração, pois como o próprio Senhor disse no Sermão da Montanha: “Bem -aventurados os puros de coração porque verão a Deus” (Mt 5,8).

Um canto para finalizar:

“Senhor, quem entrará no Santuário para te louvar?
Quem tem as mãos limpas e o coração puro...”

Rezando com os Salmos - Salmo 34 (35)

 



Na perseguição, uma súplica confiante ao Senhor

“–1 Acusai os que me acusam, ó Senhor,
combatei os que combatem contra mim!
=2 Empunhai o Vosso escudo e armadura;
levantai-Vos, vinde logo em meu socorro
e dizei-me: ‘Sou a tua salvação!’

–3 Vibrai a lança e refreai meus inimigos
e dizei-me: ‘Sou a tua salvação!’
–4 Que sejam confundidos e humilhados,
todos aqueles que procuram me matar.

Que voltem para trás envergonhados,
os que maquinam a maldade contra mim.
–5 Sejam palha que é levada pelo vento
e o anjo do Senhor os leve embora.

–6 Sejam de lama e de trevas seus caminhos
e o anjo do Senhor venha empurrá-los.
–7 Pois sem razão me armaram laços traiçoeiros
para matar-me sem motivo abriram covas.

=8 Caia a ruína sobre eles de repente,
em seus laços traiçoeiros fiquem presos
e na cova que cavaram caiam eles.

–9 Então minh'alma no Senhor se alegrará
e exultará de alegria em seu auxílio.
–10 Direi ao meu Senhor com todo o ser:
‘Senhor, quem pode a Vós se assemelhar,
– pois livrais o infeliz do prepotente
e libertais o miserável do opressor?’

–11 Surgiram testemunhas mentirosas,
acusando-me de coisas que não sei.
–12 Pagaram com o mal o bem que fiz,
e a minh'alma está agora desolada!

=13 Quando eram eles que sofriam na doença,
eu me humilhava com cilício e com jejum
e revolvia minhas preces no meu peito;
–14 eu sofria e caminhava angustiado
como alguém que chora a morte de sua mãe.

=15 Mas apenas tropecei, eles se riram;
como feras se juntaram contra mim
e me morderam, sem que eu saiba seus motivos;
–16 eles me tentam com blasfêmias e sarcasmos
e se voltam contra mim rangendo os dentes.

=17 Até quando, ó Senhor, podeis ver isso?
Libertai a minha alma destas feras
e salvai a minha vida dos leões!
–18 Então, em meio à multidão, Vos louvarei
e na grande assembleia darei graças.

–19 Que não possam nunca mais rir-se de mim
meus inimigos mentirosos e injustos!
– Nem acenem os seus olhos com maldade
aqueles que me odeiam sem motivo!

–20 São incapazes de falar o que é de paz
e maquinam contra os mansos e pacíficos.
–21 Escancaram sua boca contra mim,
dizendo: ‘Ah, ah, ah, nosso olho viu!’.

–22 Vós bem vistes, ó Senhor, não Vos caleis!
Não fiqueis longe de mim, ó meu Senhor!
–23 Levantai-Vos, acordai, fazei justiça!
Minha causa defendei, Senhor, meu Deus!

–24 Julgai-me, ó Senhor, porque sois justo,
ó meu Deus, que não se alegrem com meus males!
–25 No seu íntimo não pensem: ‘Foi bem feito!’,
e não digam: ‘Afinal o devoramos!’

–26 Que se cubram de vergonha e confusão
todos aqueles que se alegram com meus males!
– Que se vistam de ignomínia e de desonra
os que se elevam com orgulho contra mim!

–27 Rejubile de alegria todo aquele
que se faz o defensor da minha causa
– e possa dizer sempre: ‘Deus é grande,
Ele deseja todo o bem para o seu servo!’
–28 Minha língua anunciará Vossa justiça
e cantarei Vosso louvor eternamente!”

Rezemos o Salmo 34(35) confiantes no Senhor, que nos salva nas perseguições. O Salmo trata-se de uma súplica do justo perseguido:

“Os que antes eram amigos, hoje são inimigos. Diante de Deus o orante exprime a amargura de sentir-se traído e pede-Lhe que entre na luta a seu favor, zelando pela sua segurança.” (1)

Confiemos e nos unamos ao Senhor, que não foi poupado da mesma situação:

“Então, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo reuniram-se no palácio do sumo sacerdote Caifás e deliberaram para, com astucia, prender Jesus e matá-Lo.” (cf. Mt 26,3-4).

“Pai nosso que estais nos céus...”

 

 

 

(1) Comentário da Bíblia Edições CNBB – pág. 753

 

Deus não desiste da humanidade

                                                        


Deus não desiste da humanidade

Reflexão à luz da passagem do Livro do Profeta Ezequiel (Ez 47,1-9.12).

Trata-se da segunda fase do ministério do Profeta Ezequiel, que se dá a partir de 586 a.C. até cerca de 570 a.C., quando se encontravam em terra estrangeira (Ez 47,1-2.8-9.12).

A mensagem do Profeta é de esperança, por isto é chamado de “o Profeta da esperança”, anunciando aos exilados a chegada de uma nova era de felicidade e de paz sem fim. Deus mesmo assumirá a condução do Povo, como um “Bom pastor”, e o “coração de pedra” do povo será transformado em “coração de carne”, acolhendo e vivendo os Preceitos da Aliança com Deus.

Um sinal será a reconstrução do Templo de Jerusalém, comunicando que Deus voltará a residir no meio de Seu Povo (Ez 40,1-47,12).

As imagens do Templo, água que jorra, deserto, fertilidade retomam a imagem paradisíaca do jardim do Éden, que expressa a vida em comunhão com Deus, na vivência e obediência às Suas Propostas, numa vida plena e feliz (Gn 2,9-14).

Esta imagem do Templo foi retomada pelo Evangelista João (cf. Jo 2,21) e também no Livro do Apocalipse (cf. Ap 22,1-12): Jesus é o Novo Templo, e do trono sairá um rio de água viva.

Para quem crê em Deus, os incontáveis sinais de morte que vemos não revelam a orfandade divina, ao contrário, despertam no coração uma renovada esperança, firme confiança e desejável serenidade.

O mundo não é um beco sem saídas, uma vez que Deus Se faz presente no meio de nós, e isto nos anima no bom combate, cotidianamente.

É preciso, portanto, que a humanidade abandone os caminhos de orgulho e autossuficiência, aprendendo a escutar com humildade e simplicidade as Propostas que Deus tem sempre a nos oferecer.

Concluindo, a mensagem explícita de Ezequiel é de que Deus não desiste da humanidade, é sempre uma presença amiga e reconfortante na caminhada, comunicando vida plena, vida alegre e feliz.

PS: Reflexão oportuna para a Celebração do Aniversário de uma Igreja Catedral

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