quarta-feira, 31 de julho de 2024

Com a Sabedoria do Espírito, busquemos o Reino de Deus (30/07)

                                                          

 Com a Sabedoria do Espírito, busquemos o Reino de Deus

Na Liturgia da Palavra da quarta-feira da 17ª Semana do Tempo Comum, ouviremos as Parábolas da pérola, do tesouro escondido, sobre o Reino de Deus, questionando nossas prioridades diante de Jesus.

É preciso que o Reino seja para nós o valor supremo e que, a exemplo de Salomão, peçamos a sabedoria para fazer as devidas escolhas, sem nos prendermos aos valores efêmeros, passageiros, mas aos valores eternos.

A súplica de Salomão (1 Rs 3,5.7-12), questiona nossas súplicas: ele pediu um coração sábio para governar com justiça.

Enquanto oração foi perfeita, leva-nos a refletir sobre o que pedimos, o que recebemos de Deus e o que fazemos com o que recebemos. 

A Salomão, Deus acrescentou riqueza, glória, longa vida. Deus nunca deixará faltar nada, mas bem sabemos que Salomão foi seduzido pelos valores passageiros, e é para nós, em todos os tempos, um sinal de advertência para que não incorramos no mesmo erro.

Vivemos numa constante decisão entre o ilusório ou real, passageiro ou eterno, sendo assim podemos nos questionar sobre o que, de fato, fundamenta nossa felicidade.

Voltando às Parábolas exclusivas de Mateus que tinha diante de si uma comunidade imersa na monotonia, na falta de empenho, numa vivência morna da fé, logo, pouco exigente e comprometida.

Colocava-se uma questão fundamental: como perseverar diante das perseguições e hostilidades, dificuldades que vão se apresentando na caminhada da comunidade?

Aqui está a beleza das Parábolas: revigoram o ânimo, reavivam o entusiasmo, ajudam no discernimento e fortalecem no seguimento.

A comunidade deve ver no Reino a grande pérola ou tesouro pelo qual todo sacrifício deve ser feito e toda renúncia não será em vão.

É preciso rever a escala de valores que pautam nossa vida, o que nos seduz, o que consome nossas forças, nosso tempo; bem como refletir sobre a alegria que devemos ter por sermos instrumentos, colaboradores na realização do Reino.

Na conclusão do Evangelho os discípulos são chamados a compreender, acolher o novo ensinamento proposto, num renovado compromisso e empenho.

Deste modo, o Reino de Deus é o nosso maior tesouro. Participemos de sua realização como herdeiros da graça em Cristo Jesus pelo Espírito Santo no amor do Pai.

Renúncias, relativizações, discernimentos são para nós pedidos, para que não nos percamos no que é efêmero, passageiro, ilusório,  buscando o que é eterno.

É preciso buscar e se abrir a Sabedoria divina para acolher e compreender e se comprometer com o Reino.

Devemos renunciar de modo absoluto ao pecado, como assim prometemos no dia de nosso Batismo, e para melhor servir ao Reino renunciar àquilo que não é mal em si (riquezas, prestígio, poder). 

Temos um valor maior, sermos instrumentos do Reino vale muito mais do que tudo isto.

Reflitamos:

- O que pedimos quando dizemos: “Venha a nós o Vosso Reino”?
- Qual tem sido o conteúdo de nossas súplicas?

- Temos consciência de nosso papel na realização do Reino? 
- Como Igreja, estamos a serviço do Reino?

- Sentimos alegria contagiante ao trabalhar para que o Reino de Deus aconteça?

O melhor Ele já nos deu: O Espírito Santo e os sete Dons: Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor de Deus.

Empenhemo-nos alegremente na construção do Reino, o Espírito nos assiste, a Sabedoria nos é comunicada incessantemente.  Saibamos fazer as renúncias necessárias pelo mais Belo Tesouro - Jesus.

Que nossas mãos aprendam a partilhar (30/07)

                                                 

Que nossas mãos aprendam a partilhar

Na passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13,44-52), temos a apresentação das parábolas de Jesus: tesouro escondido; a pérola preciosa e a rede lançada ao mar, que recolhe peixes bons e maus.

São iluminadoras as palavras do Bispo e Doutor Santo Agostinho (séc. V), em seu Sermão, sobretudo em relação à parábola do tesouro escondido:

“Todo o mal que os maus fazem é registrado – e eles não o sabem. No dia em que ‘Deus virá e não se calará’ (Sl 50, 3) […]. Então, Ele Se voltará para os da sua esquerda: ‘Na terra, dir-lhes-á, Eu tinha posto para vós os meus pobrezinhos, Eu, Cabeça deles, estava no céu sentado à direita do Pai – mas na terra os meus membros tinham fome: o que vós tivésseis dado aos meus membros, teria chegado à Cabeça. Quando Eu coloquei os meus pobrezinhos na terra, constituí-os vossos portadores para trazerem as vossas boas obras ao meu tesouro. Vós nada depositastes nas mãos deles: por isso nada encontrais em Mim’” . (1)

Os “pobrezinhos na terra” foram constituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo, portadores das boas obras ao tesouro do Senhor. E apresentarão, nas mãos de Deus, o que nelas depositarmos.

Somos remetidos à prática das Obras de Misericórdia Corporais e Espirituais, na fidelidade a Jesus e ao Evangelho (dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos), que por sua vez não se separam das Obras de Misericórdia Espirituais (aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as fraquezas do próximo, rezar a Deus pelos vivos e defuntos).

Deste modo, seremos autênticos discípulos missionários do Senhor, com os passos firmados a caminho do juízo final diante d’Ele, que nos julgará, ao final de nossa vida, pelo amor vivido.

Concluímos com as palavras de São João da Cruz (séc. XVI): No crepúsculo de nossa vida, seremos julgados pelo amor”.

Fonte de pesquisa: Catecismo da Igreja Católica – n.1039

“Buscai primeiro o Reino de Deus” (30/07)

                                                         

“Buscai primeiro o Reino de Deus”

Reflexão à luz da passagem do Evangelho (Mt 13,44-46), em que Jesus nos fala do Reino comparando a duas conhecidas Parábolas: do tesouro escondido que foi encontrado e da pérola de grande valor, que para sua aquisição tudo se vendeu. 

Procura e encontro, venda e compra. Procura inquietante, desapego para o essencial buscado.

São iluminadoras as palavras do Apóstolo Paulo aos Filipenses:

“Mas o que era para mim lucro tive-o como perda, por amor de Cristo. Mais ainda: tudo considero perda, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, Por Ele, perdi tudo e tudo tenho como esterco, para ganhar a Cristo e ser achado n’Ele, não tendo como minha justiça, aquela que vem da Lei, mas aquela pela fé em Cristo, aquela que vem de Deus e se apoia na fé” (Fl 3,8-9).

Vejamos o comentário do Missal Cotidiano:

“O Evangelho é uma alegre mensagem, não um anúncio fúnebre! Jesus quer enriquecer-nos de bens superiores, e por isso, nos pede renunciar aos bens inferiores. É uma renúncia, mas àquilo que não merece ser supervalorizado, porque transitório. Renúncia, positivamente calculada, capacidade de aquisição. É preferir o mais, o melhor, é dar tudo pelo ‘tudo’, eis porque é ‘alegria’. Tesouro, pérola preciosíssima é a Palavra de Cristo, o Reino, o próprio Cristo. Dar tudo por Ele é ‘lucro’”.

Se o Reino de Deus for tudo para mim, se Deus for tudo para mim, procura, renúncia, desapegos, uma hierarquia onde os bens espirituais e eternos se sobreponham serão necessários e notáveis na minha vida, em todo meu existir.

Reflitamos:

- O que motiva minha vida?
Quais são minhas riquezas?

Quais são os valores maiores que norteiam meus pensamentos e decisões?
- Deus é, de fato, meu “Tudo”? Por Ele tudo sou capaz de renunciar, em incondicional amor e fidelidade?

Concluímos com um canto e uma Oração:

Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo mais vos será acrescentado, Aleluia...”.

Oremos:

“Ó Deus, sois o amparo dos que em Vós esperam e, sem Vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por Vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.”.

terça-feira, 30 de julho de 2024

Em poucas palavras... (30/07)

 


Plena confiança na misericórdia divina

“Quando os homens pecam durante muito tempo, rompem os laços de amor e de comunhão, formam-se feridas profundas que não podem cicatrizar-se de repente ou num breve período.

O Senhor faz-Se nosso médico, partilhando nossas dores, chorando e sofrendo conosco, até maturarem dentro de nós os tempos da Salvação.

Quando éramos pecadores, Deus não nos abandonou, pelo contrário, enviou o Seu Filho que padeceu e morreu por nós, para nos reconciliarmos com Ele (cf Rm 5,6-11). Pelas suas Chagas é que fomos curados (1 Pd 2,25).”  (1)

 

(1) Comentário do Lecionário Comentado - Volume I - Tempo Comum Editora Paulus  - pág. 829, sobre a passagem do Livro do Profeta Jeremias (Jr 14,17-22)

 

O Senhor nos explica a Parábola do joio (29/07)

                                                        

O Senhor nos explica a Parábola do joio

Na terça-feira da 17ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13,36-43), em que Jesus explica a Parábola do joio e do trigo aos seus discípulos.

Algumas passagens bíblicas, de modo especial os Salmos, parecem oferecer uma concepção de um Deus impaciente, que queima as etapas, em que os apelos à vingança são bastante frequentes (1Rs 18,40; SI 82 e 108).

Mas há outras passagens mais importantes que desmentem essa impressão, e podemos afirmar que a Escritura é o Livro da paciência divina, que sempre adia o castigo do Seu povo (Ex 32,7-14).

Os Profetas falam da cólera de Deus, que não é o último e definitivo momento da manifestação divina: o perdão sempre vence.

A Bíblia nos apresenta Javé, rico em graça e fidelidade, e sempre pronto a retirar Suas ameaças, quando Israel volta novamente ao caminho da conversão (Sb 12,12.16-19).

O Profeta Elias, cheio de zelo, em experiência pessoal, compreende que Deus não está no furacão ou no terremoto; Ele Se apresenta na brisa leve, no sopro do vento mais delicado (1Rs 19,9-13).
No Novo Testamento, os Apóstolos Tiago e João são censurados por causa de seu desejo de fazer cair raios sobre os samaritanos que não acolhem Jesus (Lc 9,51-55; Mt 26,51).

Esta foi a Boa Nova do Reino inaugurada por Jesus, anunciada a todos e, de modo especial para os pecadores, sem exclusão de ninguém no Seu Reino: todos são a ele chamados, todos podem aí entrar.

Em todos os momentos, Jesus encarnou e viveu a paciência divina, e nisto consiste a missão da Igreja, Corpo de Cristo, encarnar entre os homens a paciência de Jesus.

Como Igreja, temos que revelar no mundo a verdadeira face do amor, sem jamais destruir as pontes de comunicação com a força misericordiosa de Deus, como vemos no Evangelho (Mt 13,24-43).

O Missal Dominical nos enriquece com este comentário:

“Na terra, o trigo está sempre misturado com o joio, e a linha de demarcação entre um e outro não passa pelas páginas dos registros paroquiais ou pelas fronteiras dos países; está no coração e na consciência de cada homem. Deve-se sempre recordar que a separação entre os bons e os maus só será feita depois da morte”.

Aprendamos com Deus a viver a divina paciência diante das dificuldades do mundo, com os que pensam e agem diferente de nós.

A divina paciência é alcançada quando nos reconhecemos diante de Deus como frágeis criaturas modeladas pela Mão Divina, e nos configuramos a Jesus Cristo, que Se apresentou a nós manso e humilde de coração.

Cabe a Deus o julgamento final, não nos cabe catalogar as pessoas entre trigo e joio. Ao contrário, é preciso que nosso coração seja entranhado pela misericórdia e paciência divinas, para que sejamos puro trigo de Deus em Sua seara.

Somente a abertura e acolhida do Espírito e a vivência da Palavra, que Jesus nos comunicou, é que nos farão verdadeiramente puros trigos de Deus.



PS: Fonte inspiradora: Missal Dominical – Editora Paulus - pág. 749. 

Deus é misericordioso e paciente conosco (30/07)

                                                      

Deus é misericordioso e paciente conosco


Como o joio é recolhido e queimado ao fogo,
assim também acontecerá no fim dos tempos”
(Mt 13,40)

Reflitamos sobre a Parábola do joio e do trigo, apresentada por Jesus para nos falar Reino de Deus, na passagem do Evangelho proclamada na terça-feira da 17ª Semana do Tempo Comum (Mt 13,36-43).

A Parábola do joio e do trigo é um apelo à humildade e à misericórdia que se irradia. É um compromisso concreto que assumimos ao celebrar a Eucaristia neste Domingo, dentro e fora da comunidade:

“Se há alguém que errou, que no próximo encontro ele possa ver em nossos olhos que estamos reconciliados com ele, que não o condenamos mais, porque a Palavra de Deus nos fez cair o gadanho da mão.” (1)

Segundo o Bispo Santo Agostinho, “Os maus existem no mundo ou para que se convertam, ou para que por eles, os bons, exercitem a paciência.”

Tomemos consciência de que todos nós somos trigo e joio ao mesmo tempo. Apenas Jesus foi o puro trigo, sem joio algum, ou seja, não conheceu o pecado, ao contrário, o destruiu.

Jesus é o grão que um dia caiu na terra e morreu. Um grão que foi transformado em Pão Eucarístico que vem a nós e Se entrega por nós como Salutar Alimento, para que nos tornemos trigos de Deus.



(1) “O Verbo Se fez Carne” – Pe Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria - 2013 - p. 157

Mais paciência e misericórdia (29/07)

                                                        

Mais paciência e misericórdia

A Liturgia da Palavra da terça-feira da 17ª Semana do Tempo comum nos convida a refletir sobre a Parábola do joio e do trigo, à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13, 36-43).

A partir da explicação da Parábola feita por Jesus, contemplamos o ser de Deus, que é paciente, cheio de misericórdia, indulgente e clemente.

No Livro da Sabedoria (Sb 12, 13.16-19), um dos livros mais recentes do Antigo Testamento (primeira metade do século I a.C), refletimos sobre a verdadeira Sabedoria de Deus que se manifestou na história de Israel. Somente quem se abrir à ela encontrará a verdadeira felicidade.

A mensagem é de que Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva, pois a sua lógica, muitas vezes se contrapõe à lógica humana, pois se trata da lógica do perdão e da misericórdia revestida em sinais de paciência, como bem retrata o Salmista: “Ó Senhor Vós sois bom, sois clemente e fiel! (Sl 85).

Deus jamais deseja a destruição do pecador, de modo que a salvação Ele nos oferece como dom, e exige de nós uma resposta, esforço, empenho, compromisso, sinceridade, dedicação.

Nisto consiste a vida segundo o Espírito da qual nos fala o Apóstolo Paulo na Carta aos Romanos (Rm 8,26): um caminho sem nenhuma facilidade, mas com a certeza da verdadeira felicidade que deve ser buscada corretamente.

Somente Deus pode:

- vir a todos a nós com a força de que tanto precisamos, para enfrentar as obscuridades de momentos que possamos passar;
- nos ajudar a interpretar os fatos que nos marcam, e a compreender os desígnios divinos;
- renovar no mais profundo de nós o fascínio pelas coisas divinas, sem jamais perdermos o encanto, a paixão, o enamoramento por Jesus;

Somente a vida segundo o Espírito não nos permitirá sucumbir em ativismos que nos levariam inevitavelmente ao cansaço, ao desencanto e desencontro de múltiplas formas e matizes...

Acolher o Espírito nos fará pacientes como Deus é paciente, conforme veremos na Parábola do joio e do trigo.

Urge que saibamos silenciar para a contemplação da face e do ser divino, que Se manifesta na misericórdia, que faz chover sobre bons e maus.

A Parábola do joio e do trigo exorta-nos à conversão e crescimento espiritual, além de nos questionar, animar, ensinar, fortalecer a fé e nos levar ao mergulho tão necessário dentro de nós mesmos.

Ela é como injeção de ânimo, de esperança e renovação de compromissos com o Reino de Deus.

É preciso tomar cuidado, multiplicando na vigilância, a oração, o diálogo, o silêncio, pois dentro de cada um de nós pode muito bem coexistir uma belíssima plantação de trigo, mas sufocada pela indesejável plantação do joio, sem culpar terceiros.

Sendo assim, expulsemos todo o desânimo, a apatia, a indiferença, os prejulgamentos, os preconceitos. Creiamos na força da Palavra, que acolhida no mais profundo de nós, em chão fértil, frutos abundantes jamais faltarão.

Abandonemos toda a atitude simplista de condenação, porque de joio e de trigo todos temos um pouco. Cuidado haveremos de tomar de não excomungar, excluir, extirpar, eliminar o pecador junto com seu pecado.

Mais paciência e misericórdia (não como sinônimo de conivência), menos julgamento e condenação nos farão comunidades mais pascais, evidentemente zelando pelo amadurecimento e crescimento do testemunho, sem jamais esvaziar e mutilar a Palavra Divina e sem negar e contra-testemunhar a Eucaristia que celebramos - Mistério de Amor e Comunhão. 

Em poucas palavras... (30/07)

 


Reconheçamos nossos pecados

“Aprendamos a reconhecer nossos pecados, a confessá-los a Deus que é Pai. Se o nosso coração nos reprovar, ‘Deus é maior do que o nosso coração’ (1 Jo 3,19s)” (1)

 

 

(1) Comentário da passagem do Livro do Profeta Jeremias (Jr 14,17-22) - Missal Cotidiano - Editora Paulus - pág. 1079

Em poucas palavras... (30/07)

 


Qualifiquemos nossa caridade

“O amor dos pobres, como o dos inimigos, é o teste por excelência da qualidade da nossa caridade. Reconhecer aos pobres o direito de receber o pão da vida é engajar-se totalmente nas exigências do amor; e para o cristão, traduzir numa nova ‘multiplicação dos pães’, em escala mundial, o benefício que ele recebeu de Cristo. [...]

É um paradoxo, mas só uma Igreja pobre será sinal da abundância.” (1)

 

 

(1) Comentário do Missal Dominical - Editora Paulus - passagem do Evangelho (Jo 6,1-15) - pág. 973

 

 

segunda-feira, 29 de julho de 2024

Amizades verdadeiras... (20/07)

                                                        

Amizades verdadeiras...

Celebramos dia 29 de julho a Memória dos Santos Marta, Maria e Lázaro:

“Celebrar sua memória nos permite entrar uma vez mais no lar de Betânia, tantas vezes abençoado pela presença de Jesus. Ali, numa família formada pelos três irmãos, Marta, Maria e Lázaro, o Senhor encontrava carinho, e também descanso para o Seu corpo fatigado pelo incessante ir e vir entre aldeias e cidades.

Jesus procurava refúgio nesse lar, sobretudo quando tropeçava mais frequentemente com a incompreensão e o desprezo, como aconteceu na última época da Sua vida na terra.

Os sentimentos do Mestre para com os irmãos de Betânia foram anotados por São João no seu Evangelho: Jesus amava Marta e sua irmã Maria e Lázaro (João 11,5) Eram amigos!”  (1)

O Bispo Santo Agostinho (séc. V) em seu Sermão assim se expressou sobre ela:

“Marta e Maria eram irmãs, não apenas irmãs de sangue, mas também pelos sentimentos religiosos. Ambas estavam unidas ao Senhor; ambas, em perfeita harmonia, serviam ao Senhor corporalmente presente. 

Marta O recebeu como costumam ser recebidos os peregrinos. No entanto, era a serva que recebia o seu Senhor; uma doente que acolhia o Salvador; uma criatura que hospedava o Criador. Recebeu o Senhor para lhe dar o alimento corporal, ela que precisava do alimento espiritual. 

O Senhor quis tomar a forma de servo e, nesta condição, ser alimentado pelos servos, por condescendência, não por necessidade.

Também foi por condescendência que se apresentou para ser alimentado. Pois tinha assumido um corpo que lhe fazia sentir fome e sede... Aliás, Marta, permite-me dizer-te: Bendita sejas pelo teu bom serviço! Buscas o descanso como recompensa pelo teu trabalho. Agora estás ocupada com muitos serviços, queres alimentar os corpos que são mortais, embora sejam de pessoas santas.

Mas, quando chegares à outra pátria, acaso encontrarás peregrinos para hospedar? encontrarás um faminto para repartires com ele o pão? um sedento para dares de beber? um doente para visitar? um desunido para reconciliar? um morto para sepultar?

Lá não haverá nada disso. Então o que haverá? O que Maria escolheu: lá seremos alimentados, não alimentaremos. Lá se cumprirá com perfeição e em plenitude o que Maria escolheu aqui: daquela mesa farta, ela recolhia as migalhas da Palavra do Senhor.

Queres realmente saber o que há de acontecer lá? É o próprio Senhor quem diz a respeito de Seus servos: Em verdade Eu vos digo: Ele mesmo vai fazê-los sentar–se à mesa e, passando, os servirá (Lc 12,37).”

Muitas vezes recai sobre Marta a falta de compreensão, reduzindo-a como modelo de ativismo, contrapondo-a a Maria como modelo de contemplação.

Nem ativismo, nem contemplação. Se de um lado Maria pôs-se a escutar o Divino Mestre, Marta não deixou de acolhê-Lo dando também o melhor que possuía. Em outro momento é ela que sai correndo ao encontro do amigo Jesus, para n'Ele encontrar palavra de conforto, quando da morte de seu irmão Lázaro, amigo de Jesus.

Marta com seu modo próprio de ser soube aos poucos abrir-se ao Amigo Maior, ímpar – Jesus. Impressiona-nos como a casa daqueles irmãos era para Jesus um espaço da acolhida, do restaurar as forças, da amizade verdadeira.

Impressiona a sinceridade no diálogo dos amigos nestas passagens mencionadas. Amigos não dão rodeios, expressam sua verdade regada de caridade para que algo melhor possa nascer. Assim era a amizade de Jesus com os três.

Reflitamos sobre a nossa amizade com Jesus; nossas amizades dentro e fora da comunidade – sua beleza e autenticidade; a necessidade que todos possuímos de um lugar e pessoas com quem possamos compartilhar nossos cansaços, sonhos, esperanças, alegrias e tristezas, fracassos e vitórias.

- Jesus nos chamou de amigos, o somos, de fato?
- Temos e somos amigos, de fato?

Descubramos a cada momento caminhos para a construção de verdadeiras amizades que se eternizam, quando celebradas no Banquete Eucarístico sinalizando a amizade a ser vivida no Banquete da Eternidade.


Santa Marta, Maria e Lázaro: amigos do Senhor (29/07)

                                                      

Santa Marta, Maria e Lázaro: amigos do Senhor

Com a celebração da Memória dos Santos Marta, Maria e Lázaro no dia 29 de julho, somos enriquecidos pelo Sermão São Gregório Magno (séc. VI), Papa e Doutor da Igreja, sobre o Livro do Profeta Ezequiel, que nos ajuda a refletir o sentido de uma vida ativa e contemplativa.

“A vida ativa consiste em dar pão ao faminto, ensinar a sabedoria ao ignorante, corrigir ao que erra, reconduzir o soberbo ao caminho da humildade, cuidar do enfermo, proporcionar a cada qual o que lhe convém e prover os meios de subsistência aos que nos foram confiados.

A vida contemplativa, porém, consiste, é verdade, em manter com toda a alma a caridade de Deus e do próximo, mas abstendo-se de toda atividade exterior e deixando-se invadir somente pelo desejo do Criador, de modo que já não encontre atrativo em atuar, porém, descartada qualquer outra preocupação, a alma arda em desejos de ver a face de seu Criador, até o ponto de que começa a suportar com fastio o peso da carne corruptível e aspirar com todo o dinamismo do desejo unir-se aos coros angélicos que entoam hinos, confundir-se entre os cidadãos do céu e gozar na presença de Deus da eterna incorrupção.

Um bom modelo destes dois tipos de vida foram aquelas duas mulheres, a saber, Marta e Maria, das quais uma se desdobrava para dar conta do serviço, enquanto a outra, sentada aos pés do Senhor, escutava as palavras de Sua boca.

Como Marta se queixa de que sua irmã não se preocupava de ajudá-la, o Senhor lhe contestou: 'Marta: anda inquieta e nervosa com muitas coisas; mas somente uma é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e não lhe será tirada'.

Observa que não se reprova a parte de Marta, mas se louva a de Maria. Nem se limita a dizer que Maria escolheu a boa parte, mas a parte melhor, para indicar que também a parte de Marta era boa. E porque a parte de Maria seja a melhor, o destaca na continuação, dizendo: 'E não lhe será tirada'.

De fato, a vida ativa acaba com a morte. Pois quem pode dar pão ao faminto na pátria eterna, na qual ninguém terá fome? Quem pode dar de beber ao sedento, se ninguém tem sede? Quem pode enterrar os mortos, se ninguém morre?

Portanto, enquanto que a vida ativa acaba neste mundo, a vida contemplativa, iniciada aqui, aperfeiçoa-se na pátria celestial, pois o fogo do amor que aqui começa a arder, à vista do Amado, ainda se aviva em Seu amor.

Assim, a vida contemplativa não cessará jamais, pois alcança precisamente sua perfeição ao apagar-se a luz do mundo atual”. (1)

Oremos:

Senhor, que eu não entenda Tuas palavras dirigidas a Marta, como menosprezo pelo cuidado dos que acolhemos ou convivemos.

Senhor, vos peço, que não me permitais que me deixe enganar pelo falso enunciado de um princípio que estabelece a hierarquia entre “ação” e “contemplação”.

Senhor, que eu reconheça e valorize a riqueza das vocações e estados da vida religiosa ativa e contemplativa.

Senhor, que eu tenha como prioridade absoluta a escuta da Palavra, recuperando o fôlego e coragem para fazer novas e com amor todas as coisas, com sabedoria fazer as renúncias necessárias.

Senhor, que eu me assente regularmente aos Teus pés, como discípulo missionário, atento à Tua Palavra, para colocá-la em prática em meio às muitas ocupações da vida, na expressão de amor e serviço ao próximo.

Senhor, que nada, absolutamente nada (cansaço, doença, preocupações...), me impeça deste acolhimento vital e necessário, servindo a Ti, como primeiro, e depois Te servir concretamente na pessoa do irmão.

Senhor, sentado aos Teus pés, como Maria, a irmã de Marta, tenhamos o coração inflamado pelo Teu amor, como fizeste aos discípulos de Emaús, e por esta Palavra, nos deixemos iluminar e conduzir, até que um dia Te contemplemos, face a face, na glória de Deus Pai, na plena comunhão com Teu Espírito. Amém. (2)


(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes, 2013 – pp. 677-678
(2) Fonte inspiradora da Oração: Missal Dominical – Editora Paulus – Lisboa – p.1632. 

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