domingo, 28 de maio de 2023

Ação do Espírito Santo: “Não vos deixarei órfãos” (Pentecostes) (Parte I)

Ação do Espírito Santo:
“Não vos deixarei órfãos”

Reflitamos à luz das palavras do Patriarca Atenágoras (1886-1972), acerca do Espírito Santo:

“Sem o Espírito Santo, Deus está distante, o Cristo permanece no passado, o Evangelho é uma letra morta, a Igreja uma simples organização, a autoridade um poder, a missão uma propaganda, o culto um arcaísmo, e a ação moral uma ação de escravos.

Mas no Espírito Santo o cosmos é enobrecido pela geração do Reino, o Cristo Ressuscitado está presente, o Evangelho se faz força do Reino, a Igreja realiza a Comunhão Trinitária, a autoridade se transforma em serviço, a Liturgia é memorial e antecipação, a ação humana se diviniza”.

A primeira afirmação que me desperta:
Como Deus nos seria distante sem Ele! Não sentiríamos Sua presença nas situações mais adversas.

Falar em Sua presença, proximidade, intimidade necessária, seria discurso não convincente. Sua distância seria a autodistância e, sobretudo a distância irredutível do outro. Não saberíamos o que é comunhão. Sua proximidade é certeza de comunhão.

Jesus Cristo seria apenas alguém que viveu num tempo marcado, determinado, remoto, um personagem invejável, heróico, abnegado, que nos tocaria apenas o coração, mas não nos asseguraria a eternidade e não nos alcançaria a Salvação. Seria uma memória apenas, prescindindo de toda presença Pascal. Não teríamos a presença do Ressuscitado!

O Evangelho seria um conjunto de palavras e textos, mas não seria a Palavra que Se fez Carne. Letras mortas que mal nos comunicaria um quê de alegria esperança. Não portaria o conteúdo da Boa Nova que é. Seria lido, quando muito, como um livro entre tantos, com “l” minúsculo, e não teríamos mais que algumas poucas edições, se é que ele seria conhecido, se é que valeria a pena sua impressão. Seriam apenas papiros do passado, se ainda assim houvessem sido escritos.

A Igreja nada seria porque não existiria. Quando muito uma ONG, com bons propósitos, mas movida por outras motivações, diferentes das que a move: A fé no Ressuscitado, a missão de ser valioso instrumento do Reino inaugurado por Jesus. Instituída, enviada e assistida pela presença do Espírito, nutrida e revigorada em cada mesa de altar, em cada Celebração da Eucaristia. Sua autoridade marcada por relações hierárquicas, portadoras de desejos comuns de ascensão ao poder, prestígio, glamour.

O topo seria a meta, talvez nem tantos escrúpulos para alcançá-los. A capacitação com anseios impronunciáveis, a livre concorrência legitimada, “sacralizada e abençoada” (com aspas propositalmente). A missão valer-se-ia de todos os recursos de marketing, merchandising.

Carregar a cruz seria discurso ultrapassado, pouco convincente, sem nenhum atrativo e razão de ser. Na verdade ela seria extinta, apagada da memória, porque o que haveria de contar seriam as facilidades, alcançadas pela lei do menor esforço, ou do nenhum compromisso, do nenhum sacrifício.

Doação, amor fiel, entrega seriam discursos não comoventes, pouco atraentes… inócuos, puramente inócuos, sem efeito algum para o bem.

Procurar-se-ia uma propaganda com pretensões de não ser enganosa, com promessas de felicidade, que não seriam as Bem Aventuranças de Mateus (Mt 5).             

Técnicos, especialistas seriam convocados, contratados, para que a palavra convencesse, o consumo acontecesse. Consequentemente aceitabilidade e lucro.

O culto tal como celebramos, seus ritos, sua beleza seriam outras. A espetacularização seria inevitável: valeria o que atraísse audiência, intimismos, descomprometimentos maiores.

Rubricas, disciplina litúrgica seriam desnecessárias. Contaria a criatividade, ou mais ainda, o criativismo de seus sacerdortes.

Mudanças aconteceriam ao sabor de cada comunidade, de cada realidade. Mistério e Mistagógico seriam palavras que não contariam.

A ação moral, uma ação de escravos: seríamos tidos como loucos, sem O Espírito, porque abraçaríamos e concretizaríamos propósitos além de nossas forças e possibilidades humanas. Eclipsar-se-ia a presença do Espírito e Sua luz radiante e revitalizante.

Se há muitas coisas inexplicáveis que realizamos, só o são pela força e presença do Espírito Santo. Ah, se não fosse O Espírito!

Seríamos escravos entristecidos, fazendo coisas boas, talvez, apenas por fazer. Por não ter encontrado Aquele que faz arder nosso coração com Sua Palavra, abre nossos olhos com Seu Corpo, Pão Partilhado.

Teríamos boas ações, mas não movidas pela paixão do Reino, pelo Evangelho. Teríamos boas obras para contar. Voluntarismo sem perspectivas de utopia do Reino. Boas Obras num sadio filantropismo. Alquimia, pura alquimia!

Concluo, se é que é possível concluir, esta reflexão não deixa dúvida alguma de que é o Espírito Santo que garante à Igreja a vida e a eficácia na missão.

O Espírito enriquece a Igreja com todos os dons necessários, porque Ele é o Dom de Deus, Dom dos dons. Fonte inexaurível de todos os dons.

Ausência de Deus? Nunca! Prescindir de Sua presença e ação? Jamais!

Enviai, Senhor, sobre nós, Vosso Espírito:
De sabedoria, inteligência, ciência, conselho,
fortaleza, temor e piedade. Amém!

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