Aspiremos as coisas mais humildes
“Dois
discípulos de nosso Senhor, os santos e ilustres irmãos João e Tiago, desejaram
do Senhor nosso Deus, conforme lemos no Evangelho, o sentar-se em Seu Reino um
a Sua direita e outro a Sua esquerda.
Não
desejaram ser reis da terra, não desejaram de nosso Senhor honras perecedouras,
nem ser cumulados de riquezas, nem se ver rodeados de numerosa família, nem ser
venerados por súditos, nem ser bajulados por aduladores; mas pediram algo
grande e duradouro: ocupar algumas cadeiras imperecíveis no Reino de Deus.
Desejaram
uma grande coisa! Não foram repreendidos em seu desejo, porém foram
encaminhados para uma ordem. O Senhor viu neles um desejo de grandeza e se
dignou ensinar-lhes caminho da humildade, como que lhes dizendo: ‘Percebes
o que desejais, percebes que Eu estou convosco; e Eu que vos fiz e desci até
vós, cheguei até a humilhar por vós’.
Estas
palavras que vos narro não aparecem no Evangelho; contudo, expresso o sentido
do que se lê no Evangelho.
Convido-vos
agora para pensar nas palavras que se leem no Evangelho, para que vejais de
onde saíram as palavras que vos disse.
Uma
vez que o Senhor escutou a petição dos irmãos, lhes disse: Podeis
beber o cálice que vou beber? A vós, que buscais postos de grandeza, não
vos é amargo o cálice da humildade? Ali onde se impõe um preceito duro, ali há
um grande consolo. Os homens negam a beber o cálice da paixão, o cálice da
humilhação. Aspiram as coisas mais sublimes? Amem antes de tudo as coisas
humildes. Partindo do humilde se chega ao sublime.
Ó
homem! Tu tinhas medo de suportar as afrontas da humilhação. Porém te convém
beber o cálice amargo da paixão. Tuas vísceras estão irritadas, tens inflamadas
as entranhas.
Bebe
a amargura para conseguir a saúde. Bebeu-a o médico são, e não quer beber o
enfermo debilitado?
O
Senhor disse aos filhos de Zebedeu: Podeis beber o cálice? Não lhes disse: ‘podeis
beber o cálice das afrontas, o cálice do fel, o cálice do vinagre, o cálice
amarguíssimo, o cálice cheio de veneno, o cálice de todo tipo de dores?’. Se tivesse lhes dito isto, lhes
teria atemorizado em vez de animar-lhes. Onde há participação, também se dá o
consolo.
Por
que desdenhas este cálice, ó servo? O Senhor o bebeu. Por que o desprezas, ó
enfermo? O médico o bebeu. Por que o desprezas, ó homem fraco? O são o bebeu. Podeis
beber o cálice que eu hei de beber?
Naquele
momento, eles, ávidos de grandeza, ignorando as suas forças e prometendo o que
ainda não tinham, dizem: Podemos. O Senhor lhes contesta: Bebereis
certamente meu cálice, já que vos dou para beber, já que vos farei de fracos
fortes, vos concedo a graça de padecer para que bebais o cálice da humildade; porém,
não está em meu poder o sentar-vos a minha direita ou a minha esquerda, senão
para aqueles para os quais foram preparados por meu Pai.” (1)
Retomo
estas palavras – “Os homens negam a beber o cálice
da paixão, o cálice da humilhação. Aspiram as coisas mais sublimes? Amem antes
de tudo as coisas humildes. Partindo do humilde se chega ao sublime”.
Supliquemos
ao Senhor que bebendo do Seu Divino Cálice, participando do Mistério da Eucaristia,
comendo do Seu Corpo e bebendo do Seu Sangue, sejamos redimidos e alimentados para o
combate da fé.
Aspiremos as coisas humildes para chegarmos às mais sublimes, e
que nossa vida seja expressão incansável de amor, doação e serviço, sobretudo
pelos mais necessitados, perfeitamente configurados a Jesus Cristo, no Mistério
de Sua Paixão, Morte e Ressurreição, a serviço do Reino de Deus com a força e a
luz do Santo Espírito.
PS: Oportuno para que reflitamos as passagens dos Evangelhos de São Mateus (Mt 20,17-28) e São Marcos (Mc 10,35-45).
(1) Lecionário Patrístico dominical – Editora Vozes – 2013 -
pág. 490-491
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