segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

A amizade divina e a concórdia humana

A amizade divina e a concórdia humana

Notícias publicadas em jornais europeus, há alguns anos:

“Uma má notícia: Deus morreu.
Uma boa notícia: não é preciso”.

 “É provável que Deus não exista.
Então pare de se preocupar e comece a curtir a vida”.

Não poucas vezes nos deparamos com relativismo, ateísmo crescentes e o crescimento do número dos que se dizem sem religião...

Diante destas afirmações e outras tantas similares recordemos a princípio as palavras do Papa atento a estas posturas acima mencionadas (na homilia de abertura da XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em 2008):

“Tem quem afirme que ‘Deus morreu’ e se considera como ‘deus’ pensando ser os artífices do próprio destino, o proprietário absoluto do mundo. Livrando-se de Deus e esperando Dele a salvação, o homem acredita que pode fazer o que quiser e colocar-se como medida de si mesmo e do próprio agir.

Mas quando o homem elimina Deus do seu horizonte, quando diz que Deus ‘morreu’ é realmente mais feliz? Torna-se verdadeiramente mais livre?

Quando os homens se proclamam proprietários absolutos de si mesmos e únicos patrões da criação, podem realmente construir uma sociedade onde reina a liberdade, a justiça e a paz?

Não acontece ao invés, como demonstra a crônica cotidiana, que tornem árbitros do poder, realizem interesses egoístas, injustiças, exploração e violência de toda forma?

O resultado é que o homem se encontra sempre mais sozinho e a sociedade mais dividida e confusa.

Mas nas palavras de Jesus existe uma promessa: ‘a vinha não será destruída’.

Enquanto o proprietário da vinha abandona os vinhateiros homicidas, a seu próprio destino, o patrão não se distancia de sua vinha e a confia a outros servos fiéis.

Isto indica que, se em algumas regiões a fé se enfraquece até extinguir-se, existirão sempre outros povos prontos a acolhê-la”.

Não há felicidade humana prescindindo da existência de Deus; pois a humanidade, voltar-se-ia contra si mesma, decretando a morte de Deus. 

Já no século II, o Bispo Santo Irineu no Tratado contra as heresias de seu tempo afirmava:

“Deu ainda o Mandamento do Amor de Deus, e ensinou a justiça para com o próximo, a fim de que o homem não fosse injusto nem indigno de Deus.

Assim, por meio do Decálogo, Deus preparava o homem para a Sua amizade e para a concórdia com o próximo.

Era o homem que tirava o proveito de tudo, uma vez que Deus não tinha nenhuma necessidade do homem.

Efetivamente, tudo isso contribuía para a glória do homem, dando o que lhe faltava, isto é, a amizade de Deus.

Porém, isto nada acrescentava a Deus, pois Ele não tinha necessidade do amor do homem.

O homem é que precisava da glória de Deus, a qual de modo algum poderia obter senão servindo a Deus.

Por isso, Moisés lhe disse de novo: Escolhe, pois, a vida, para que vivas; tu e teus descendentes amando ao Senhor e obedecendo a Sua voz e apegando-te a Ele – pois Ele é a tua vida e prolonga os teus dias...”  (Dt 30, 19-20).

O Decálogo que a Moisés foi confiado como expressão da Antiga Aliança, foi aperfeiçoado por Cristo, quando selou a Nova e Eterna Aliança na prática do Amor que Se doa, na vida oferecida em sacrifício pela redenção da humanidade, testemunhando, pela Sua morte, a loucura da Cruz para os gregos e escândalo para os judeus.

No amor está o pleno cumprimento da Lei. Quem a Jesus ama, guarda a Sua Palavra encontra alegria em cumprir a Sua Lei que fortalece nossa amizade com Deus e a concórdia entre nós.

Diante da negação e declaração da morte de Deus insistimos no anúncio de Sua existência e consequentemente resposta de amizade e fidelidade à Sua Lei para que possamos redescobrir caminhos de fraternidade, solidariedade, justiça e paz.

Negá-Lo juntamente com o Decálogo é tornarmo-nos como “deuses”, senhores de nós mesmos, mas escravos e infelizes ao mesmo tempo.

Não houve, não há e nem haverá felicidade sem Deus, muito menos sem a Sua Lei Divina inscrita no mais profundo de nossos corações.

Da mesma forma sem Deus não houve, não há e nem tão pouco haverá liberdade e felicidade.

O que chamam de liberdade, os que a Deus negam, dela se distanciam cada vez mais, e o que chamam de felicidade traduz-se em relações de egoísmo e individualismo.

É tempo de crescermos em concórdia entre nós, de desempoeirarmos o Decálogo, ainda nos recônditos de nossa mente quando o aprendemos na catequese!

Voltemo-nos para Deus, pois o próprio Jesus disse: “Vinde a mim vós que estais cansados e fatigados, pois meu fardo é leve e meu jugo é suave” (Mt 11,29-30). Voltar para Ele e vê-Lo, é voltar-se e ver o Próprio Pai –“Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9).

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