quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Quem são os “Lázaros” de nosso tempo?

Quem são os “Lázaros” de nosso tempo?

A Liturgia da 2ª Quinta-feira da Quaresma nos convida a refletir sobre nossa relação com os bens: bens que passam e que devem ser usados, e os bens eternos, que devem ser abraçados, à luz da Parábola do rico e do pobre Lázaro (Lc 16,19-31).

No Antigo Testamento, o Profeta Amós, o “Profeta da justiça social”, denuncia a exploração dos ricos sobre os pobres, um luxo vivido à custa da exploração dos pobres (Am 6, 1a.4-7).

Sua voz é um grito profético sobre esta situação, e Deus não Se faz indiferente, e não compactua esta, porque não é o Seu Projeto pensado e querido para a humanidade.

O grito de Amós ultrapassa seu tempo e chega até nós, pois também vivemos situações de desigualdade, exploração e miséria que precisam ser superadas: gastos com supérfluos, contrastando com realidades abomináveis de fome, desnutrição, sede e muito mais a ser mencionado.

Na fidelidade a Deus, vivendo a vocação profética, não podemos nos furtar de sagrados compromissos para que todos tenhamos uma vida plena e feliz.

Voltando à Parábola, ela é uma catequese sobre como devemos possuir os bens e não sermos possuídos por eles, vivendo o amor, a partilha e a solidariedade, sobretudo com os mais pobres, com os “Lázaros” de cada tempo.

A Parábola nos ensina que enquanto a Palavra de Deus não for acolhida no mais profundo do coração, a ponto de determinar nossos pensamentos, escolhas e ações, permaneceremos mergulhados na escuridão, encalacrados no egoísmo, no orgulho, na autossuficiência, sem jamais entender e viver a graça do amor e da partilha.

Não podemos perpetuar situações em que um quarto da humanidade fica com oitenta por cento dos recursos disponíveis do planeta, enquanto três quartos ficam com o restante (vinte por cento).

Muito bem nos ensina a Igreja, perita em humanidade: “Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos; de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos...” (Gaudium et Spes n. 69).

O rico da Parábola não tem nome, pois pode ser cada um de nós; representa a humanidade, mas o pobre tem nome, chama-se “Lázaro”, que tem apenas os cães para lhe lamberem a ferida, amenizando a dor, servindo-lhe de companhia na dor da solidão, da marginalização e do abandono.

Que nossos olhos, ouvidos, coração sejam abertos para contemplar a face de Deus e escutar Sua Palavra, para que vivamos o amor, a solidariedade e a partilha com os “Lázaros” de cada tempo.

Os “cães” e os “ais” do Profeta Amós devem ser interpelação constante para todos nós, no amor de compaixão, para a superação de relações pecaminosas de miséria e opressão.

Reflitamos:
- Como usamos os bens que nos são confiados?
- Sabemos partilhar com os outros os bens que possuímos?

- Quais são nossas riquezas que precisamos colocar em comum em alegre sinal de amor, comunhão, partilha e solidariedade?

- Quem são os “Lázaros” que se encontram em nossas portas?

- O que fazemos concretamente em seu favor?

Continuemos nosso itinerário quaresmal, num profundo compromisso de conversão, para que nos empenhemos na superação desta brutal e pecaminosa realidade, que se manifesta em inúmeras formas de desigualdade e injustiça social.

No bom combate da fé vivido, comprometamo-nos com um novo céu e uma nova terra, pois cremos que somente na vivência das Obras de Misericórdia (Obras de Misericórdia Corporais: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. Obras de Misericórdia Espirituais: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as fraquezas do próximo, rezar a Deus pelos vivos e defuntos), muito poderemos contribuir na transformação das estruturas sociais injustas. 


Fonte inspiradora: www.Dehonianos.org/portal 

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