domingo, 22 de outubro de 2023

A verdadeira tradução do Amor de Jesus (XXIXDTCB)

                                                 


                    A verdadeira tradução do Amor de Jesus        

No 29º Domingo do Tempo Comum (ano B), damos mais um passo no seguimento de Jesus, aprendendo a assumir com Ele e como Ele a condição do amor e do serviço, numa entrega total, vivendo assim a lógica de Deus, rompendo com a lógica do mundo (acomodação, egoísmo, ganância, glória a qualquer custo).

"É então necessário que cada um vele sobre si mesmo e desmascare, a partir de si, as formas de lógica competitiva que invadem as relações e corrompem muitos projetos comunitários" (1).

A passagem da primeira Leitura (Is 53,1-11), nos apresenta o quarto cântico do Servo sofredor, retratando a fase final do Exílio (entre 550 e 539 a. C.).

O autor tem uma clara mensagem: uma vida vivida na simplicidade, na humildade, no sacrifício, na entrega e no dom de si mesmo, não é aos olhos de Deus uma vida maldita, perdida e fracassada, ao contrário é uma vida fecunda e plenamente realizada que trará libertação, verdade, esperança e amor à humanidade.

Os primeiros cristãos, pela beleza e profundidade desta passagem, atribuíram-na à figura de Jesus, que como professamos, morreu pela nossa salvação. Somente em Jesus esta figura enigmática do “Servo de Javé” encontra seu pleno significado.

Deste modo, temos como mensagens:

 Deus Se encontra nos simples, humildes, desfigurados, naquilo que enche o coração de paz.

 O sofrimento pelo sofrimento não tem sentido. Jamais na Bíblia encontramos o elogio, a apologia do sofrimento pelo sofrimento, (que se denomina masoquismo). O sofrimento só tem sentido se gerar vida.

 Somos questionados sobre a lógica pela qual pautamos nossa vida: a lógica do mundo ou a lógica de Deus?

A passagem da segunda Leitura (Hb 4,14-16) foi escrita para uma comunidade fragilizada, cansada e marcada pelo desalento, que precisa redescobrir o seu entusiasmo inicial, revitalizar o seu compromisso com Cristo e viver uma fé mais coerente e mais compromissada.

Deve confiar no Sumo Sacerdote que é Jesus Cristo, o Sacerdote fiel e misericordioso, que o Pai enviou ao mundo para mudar o coração da humanidade, reconciliando-a com Ele.

Jesus é o Servo fiel que venceu as tentações e nos ensinou o mesmo fazer. Experimentando e entendendo nossa fragilidade, intercede em nosso favor. Com Ele e como Ele podemos vencer os momentos dramáticos de nossa caminhada na história.

Não estamos sós: “Jesus é um mediador que nos permite reconhecer um Deus misericordioso pronto a nos socorrer”. (2)

Aprender com Jesus a viver um amor sem limites, que desce ao encontro dos últimos, dos desclassificados, dos marginalizados, dos sofredores, para comunicar o Seu Amor.

Ser discípulo do Senhor é ter a mesma atitude: compreender esta lógica de Deus, assumindo e testemunhando concreta e quotidianamente.

Como Jesus, despir-se/despojar-se do egoísmo, da acomodação, da preguiça, da indiferença, e viver alegre e confiante a lógica da doação por amor, simplesmente.

Como cristãos, sermos pessoas serenas e com o coração em paz, conscientes de que, apesar de nossas fragilidades, Deus quer contar conosco para comunicar o Seu Amor, a fim de que todos tenham vida plena:

“Só um amor assim (proposto e vivido por Ele) sabe aceitar os cálices amargos e o naufrágio dos próprios sonhos, a fim de que isso seja para vantagem daqueles que se amam”(3)

A passagem do Evangelho (Mc 10,35-45) nos apresenta a exigência de quem se põe a caminho, no seguimento de Jesus:

“A todos, Jesus recorda que a Sua comunidade está fundada sobre a lei do serviço, de que é modelo supremo o Filho do Homem”. (4)

É preciso viver a lógica do poder que se realiza na doação, na entrega, no serviço, na gratuidade, sem esperar nada em troca, embora o Senhor nos garanta o cêntuplo de retorno, mas não sem perseguições.

A glória de Deus é a vida do homem, mesmo que alguém tenha que se sacrificar para que o outro viva, favorecendo sua promoção.

Em nossas famílias e comunidades esta deve ser a lógica a pautar e orientar a nossa vida; este é o critério de pertença a uma comunidade do Reino.

Beber do Cálice do Senhor, participar de Seu destino e assentar-se no Seu Trono, é assumir a Cruz, o legítimo Trono do Senhor.

As mensagens do Evangelho:

 A presidência da comunidade é uma expressão de amor e serviço, pois esta é a lógica do Reino: amor sem limites, doação, entrega...

 Contemplar na Cruz do Senhor o ponto culminante da Sua vida, expressão máxima e total do Seu amor e doação à humanidade. 

É preciso que os discípulos missionários do Senhor tenham diante do mundo a atitude do serviço e da promoção do bem comum, somente assim encontrarão sentido e felicidade. Nisto consiste a nossa missão.

Quando do Cálice do Senhor participamos, cada momento de nossa vida deve ser consumido por uma atitude de amor, doação e serviço.

Confiantes de que comungando do Seu Corpo, bebendo do Seu Sangue somos fortalecidos, para que não vacilemos na fé, não esmoreçamos na esperança e tão pouco esfriemos na caridade. 



(1) Lecionário comentado - Editora Paulus - Lisboa pág. 597;
(2) Idem pág. 595;
(3) Idem pág. 597;
(4) Idem pág. 596.

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