A verdadeira caridade
Para aprofundarmos sobre a prática da caridade, sejamos enriquecidos pelo Tratado escrito pelo Papa e Doutor da Igreja São Gregório Magno (séc. VI):
“A Lei de Deus, da qual se fala neste lugar, deve entender-se que é a caridade, pela qual podemos sempre ler em nosso interior quais são os preceitos de vida que temos que praticar.
A respeito desta Lei, diz Aquele que é a própria verdade: Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros. A respeito dela diz São Paulo: Amar é cumprir toda a Lei. E também: Ajudai-vos uns aos outros a carregar os vossos fardos, e deste modo cumprireis a Lei de Cristo.
O que melhor define a Lei de Cristo é a caridade, e esta caridade a praticamos de verdade quando toleramos por amor as cargas dos irmãos.
Porém, esta Lei abrange muitos aspectos, porque a caridade zelosa e solícita inclui os atos de todas as virtudes. O que começa somente por dois preceitos se estende a inumeráveis facetas.
Esta multiplicidade de aspectos da Lei é enumerada adequadamente por Paulo, quando diz: O amor é paciente, afável; não tem inveja; não é presunçoso nem é vaidoso; não é ambicioso nem egoísta; não se irrita, não guarda rancor; não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.
O amor é paciente, porque tolera com serenidade os males que lhe são infligidos. É afável, porque devolve generosamente o bem pelo mal. Não tem inveja, porque, ao não desejar nada deste mundo, ignora o que é a inveja pelos êxitos terrenos. Não é presunçoso, porque deseja ansiosamente o prêmio da retribuição espiritual, e por isto não se vangloria dos bens exteriores. Nem é vaidoso, porque tem por único objetivo o amor de Deus e do próximo, e por isto ignora tudo o que se afasta do reto caminho. Não é ambicioso, porque, dedicado com ardor ao seu proveito interior, não sente desejo algum das coisas alheias e exteriores. Nem é egoísta, porque considera como alheias todas as coisas que possui aqui de modo transitório, já que só reconhece como próprio aquilo que perdurará juntamente com ele. Não se irrita, porque, ainda que sofra injúrias, não se deixa levar por desejos de vingança, pois espera um prêmio muito superior aos seus sofrimentos. Não guarda rancor, porque sua alma está livre de toda maquinação doentia. Não se alegra com a injustiça, porque, desejoso unicamente do amor para com todos, não se alegra nem da ruína de seus próprios adversários. Alegra-se com a verdade, porque, amando aos outros como a si mesmo, ao observar nos outros a retidão, alegra-se como se fosse de seu próprio progresso. Vemos, portanto, como esta Lei de Deus abrange muitos aspectos.” (1)
O Tratado do Papa São Gregório em muito nos ajuda à compreensão do Mandamento dos inseparáveis amores, o amor a Deus e ao próximo.
Ainda mais, nos ajuda à compreensão do que consiste a verdadeira caridade, que o Apóstolo Paulo tão bem expressou em sua Carta (1 Cor 13).
No seguimento de Jesus Cristo, como discípulos missionários d’Ele, somos eternos aprendizes destes Mandamentos, para que cresçamos na prática esforçada da caridade, e assim seremos atuantes na fé e firmes na esperança, nas mais diversas realidades e âmbitos da existência.
(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – p.238-239
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