A sabedoria dos simples e a força dos pequenos
Na Festa de São Bartolomeu, dia 24 de agosto, somos enriquecidos pela Palavra proclamada: Ap 21,9b-14 e Jo 1,45-51.
“Por meio de homens ignorantes a Cruz persuadiu, e mais, persuadiu a terra inteira. Não falava de coisas sem importância, mas de Deus, da verdadeira religião, do modo de viver o Evangelho e do futuro juízo. De incultos e ignorantes fez amigos da sabedoria. Vê como a loucura de Deus é mais sábia que os homens e a fraqueza, mais forte.
De que modo mais forte? Cobriu toda a terra, cativou a todos por Seu poder. Sucedeu exatamente o contrário do que pretendiam aqueles que tentavam apagar o nome do Crucificado. Este nome floresceu e cresceu enormemente.
Mas Seus inimigos pereceram em ruína total. Sendo vivos, lutando contra o morto, nada conseguiram. Por isso, quando o grego me chama de morto, mostra-se totalmente insensato, pois eu, que a seus olhos passo por ignorante, me revelo mais sábio que os sábios.
Ele, tratando-me de fraco, dá provas de ser o mais fraco. Tudo o que, pela graça de Deus, souberam realizar aqueles publicanos e pescadores, os filósofos, os reis, numa palavra, todo o mundo perscrutando inúmeras coisas, nem mesmo puderam imaginar.
Pensando nisto, Paulo dizia: O que é fraqueza de Deus é mais forte que todos os homens (1Cor 1,25). Com isso se prova a pregação divina.
Quando é que se pensou: doze homens, sem instrução, morando em lagos, rios e desertos, que se lançam a tão grande empresa? Quando se pensou que pessoas que talvez nunca houvessem pisado em uma cidade e, em sua praça pública, atacassem o mundo inteiro?
Quem sobre eles escreveu, mostrou claramente que eles eram medrosos e pusilânimes, sem querer negar ou esconder os defeitos deles. Ora, este é o maior argumento em favor de sua veracidade. Que diz então a respeito deles? Que, preso o Cristo depois de tantos milagres feitos, uns fugiram, o principal deles O negou.
Donde lhes veio que, durante a vida de Cristo, não resistiram à fúria dos judeus, mas, uma vez Ele morto e sepultado – visto que, como dizeis, Cristo não ressuscitou, nem lhes falou, nem os encorajou – entraram em luta contra o mundo inteiro?
Não teriam dito, ao contrário: 'Que é isto? não pôde salvar-Se, vai proteger-nos agora? Ainda vivo, não socorreu a Si mesmo, e morto, nos estenderá a mão? Vivo, não sujeitou povo algum, e nós iremos convencer o mundo inteiro, só com dizer Seu nome? Como não será insensato não só fazer, mas até pensar tal coisa?'. Por este motivo é evidente que, se não O tivessem visto ressuscitado e recebido assim a grande prova de Seu poder, jamais se teriam lançado em tamanha aventura.”
Como vemos, os discípulos, entre eles Natanael, identificado com Bartolomeu, homens simples, incultos, entre outras limitações, conseguiram irradiar a força do Evangelho.
Este êxito ocorreu e ocorre ainda hoje e continuará a ocorrer é porque existe algo que a razão humana não consegue explicar, que as ciências não conseguem sistematizar e conceituar.
Algo que ultrapassa quaisquer lógicas que possamos pensar, pois se trata de uma verdade que nos remove, impulsiona, seduz, compromete, anima, orienta: a Ressurreição de Jesus.
Algo que ultrapassa quaisquer lógicas que possamos pensar, pois se trata de uma verdade que nos remove, impulsiona, seduz, compromete, anima, orienta: a Ressurreição de Jesus.
Cremos na Ressurreição, na força que dela emana em nossa missão, e assim, cremos que somos e podemos mais do que possamos ser e pensar, na força do Ressuscitado, como falou o apóstolo Paulo – “Tudo posso n'Aquele que me fortalece!” (Fl 4,13).
Cremos e aspiramos as coisas do alto onde Deus está.
Cremos que se com Ele morremos, com Ele ressuscitamos, nos eternizamos.
Cremos que em nós foi, um dia, pelo Batismo, lançada a semente da imortalidade, de modo que somos templos do Espírito. Morte experimentada, não como epílogo, rompimento sem horizonte, mas passagem, nascimento para o que de mais precioso desejamos: a Face Divina contemplar...
Cremos na Vida do Ressuscitado, e seduzidos por Ele, com o coração de amor inflamado, caridade testemunhada, fé e esperança irmanadas numa ciranda provisória que se perpetuará na eternidade.
Cremos que tão somente assim, nenhuma dificuldade será o bastante forte para aniquilar a força e apagar a chama do fogo do Espírito do Ressuscitado em nosso coração, onde Ele quis habitar, para nos divinizar.
Creio Senhor, mas aumentai minha fé.
PS: Apropriado para o dia 05 de janeiro, antes da Epifania, em que se proclama a passagem do Evangelho de João (Jo1,43-51).
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