O Senhor nos envia em missão
Com a Liturgia do 21º Domingo do Tempo Comum (Ano A), refletimos sobre dois temas fundamentais da vida cristã: Cristo e a Igreja, a partir da pergunta de Jesus: “Quem sou Eu para vós?”.
A passagem da primeira Leitura do Profeta Isaías (Is 22,19-23), apresenta-nos um episódio doméstico da vida do palácio, retratado pelo Profeta Isaías.
O Profeta, homem culto, decidido, enérgico, embora participando das decisões relativas à condução do reino, fala com autoridade aos altos funcionários do palácio e reis; mas sem apoiar as classes altas, de modo que os seus maiores ataques são dirigidos aos grupos dominantes, autoridades, juízes, latifundiários, políticos, mulheres da classe alta que vivem num luxo escandaloso.
O episódio refere-se a Sobna, que será substituído de suas funções de administrador do palácio e substituído por Elyaquim, exatamente porque o primeiro talhou para si um sepulcro, no alto, e cavou para si, na rocha, um mausoléu (Is 22,16). Gastou dinheiro do povo em futilidades num momento difícil.
Elyaquim recebe as chaves do palácio. Importante ressaltar o simbolismo das chaves, porque como mordomo do palácio, entre outras atividades, administrava os bens do soberano, fixava a abertura e o fechamento das portas e definia quais os visitantes a introduzir junto do soberano.
Podemos fazer aqui um paralelo com as chaves confiadas a Pedro por Jesus, na passagem do Evangelho, como veremos.
Pedro tem a autoridade, e com isto deve ser um pai para aqueles sobre quem se tem responsabilidade e promover o bem de todos, com solicitude, amor e justiça.
Oportuno para refletirmos sobre o exercício do poder que se traduz num serviço à comunidade, com solicitude, bondade, compreensão, tolerância e misericórdia. Jamais se pode colocar os interesses próprios acima dos interesses do bem comum.
O serviço da autoridade não é uma questão de poder, mas de amor: impensável o exercício de cargos de responsabilidade, e na vida da comunidade, ministérios e serviços se não for decididamente guiado pelo amor.
Esta é a lógica que deve nortear o poder civil, assim como nos âmbitos da comunidade que professa a fé no Senhor Jesus.
Na passagem da segunda Leitura (Rm 11,33-36), o Apóstolo Paulo eleva a Deus um hino de louvor, exaltação do desígnio salvador de Deus, que possui toda riqueza, sabedoria e ciência (v.33).
Como o Apóstolo, fiquemos abismados diante deste Deus e nos entreguemos com toda confiança em Suas mãos, acolhendo humildemente Sua Palavra e seguindo, com simplicidade e amor, o caminho que Ele nos propõe.
Mergulhar na infinita grandeza de Deus, abismados na contemplação de Seu Mistério, precedido pela reflexão e reconhecimento de Sua riqueza, sabedoria e ciência, nos possibilitará ver Deus, não como um concorrente, mas como um Pai cheio de amor; e, assim, afastar de nós toda autossuficiência e orgulho, e corresponder com gratidão aos tantos dons com os quais nos enriquece.
Na passagem do Evangelho (Mt 16,13-20), podemos falar em duas partes: a primeira mais cristológica: Jesus é o Filho de Deus; e a segunda mais eclesiológica: sobre a missão confiada por Jesus a Pedro, a missão da Igreja.
Jesus interrogando sobre a Sua identidade não quer medir a Sua quota de popularidade; ao contrário, é para tornar as coisas mais claras para os discípulos, para uma consciente adesão; e, assim, confirmá-los na missão, confiando a Pedro em primeiro plano, esta missão de conduzi-los, por isto lhe são entregues as chaves do Reino para ligar e desligar.
Este é o real simbolismo da entrega das chaves, mencionado na reflexão da primeira Leitura: Jesus nomeia Pedro para administrador e supervisor da Igreja, com autoridade para interpretar Suas palavras, bem como de adaptar os ensinamentos às novas necessidades e situações, e de acolher ou não novos membros na comunidade.
Também nós somos interpelados por Jesus: “Quem sou Eu para vós?”.
A resposta deve contemplar a realidade: alguém que é mais do que um homem, um ídolo, um revolucionário, uma pessoa de sabedoria incomum...
A nossa resposta tem que ser a de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo”.
Ele é o esperado, que traz vida para o tempo presente e todo tempo; e mais que isto, para a eternidade.
Somos convidados, na renovação de nossa fé, a fortalecer nossa pertença à Igreja, revigorando a dimensão profética e missionária de nossa fé, sem desânimos, fraquezas e esmorecimentos.
Como discípulos missionários do Senhor, abismados pelo Amor de Deus, a quem glorificamos e tributamos toda honra, glória, poder e louvor, porque possui toda ciência, riqueza, poder, sabedoria, continuar o caminho que iniciamos no dia de nosso Batismo.
Bem falou o então Papa Bento XVI sobre este convite de renovação do encontro pessoal com Jesus Cristo, quando tomamos a decisão de nos deixar encontrar por Ele, de procurá-Lo dia a dia sem cessar:
−“Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (cf. n. 7 da EG).
Mais que uma resposta, renovação e adesão e fortalecimento para a missão de discípulos missionários, para que construamos uma Paróquia com um rosto novo em contínua conversão, para que seja comunidade de comunidades, em que se sacia do Pão da Palavra, da Eucaristia e da Caridade.
“No nosso mundo, onde tudo aparece sempre provisório e discutível, uma caminhada de fé, sólida precisa de uma referência clara. Por isso, o serviço de Pedro e dos seus sucessores é preciso e deve ser acolhido como uma dádiva.” (1)
Oremos:
Pai Santo, fonte de sabedoria,
Pai Santo, fonte de sabedoria,
no testemunho humilde do Apóstolo Pedro
Colocastes o fundamento da nossa fé.
Concedei a todos os homens e mulheres, a luz do Vosso Espírito,
Para que, reconhecendo em Jesus de Nazaré,
O Filho do Deus vivo, se tornem pedras vivas
Para a edificação da Vossa Igreja. Por N.S.J.C.Amém.
PS: Fonte de pesquisa - www.Dehonianos.org/portal
(1) Lecionário Comentado – p. 183PS: Apropriado para a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 8,27-35)
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