quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Alma vivente, Espírito Vivificante

                                                         


Alma vivente, Espírito Vivificante

Sobre o Verbo que Se fez Carne, a Sabedoria de Deus presente na história da humanidade, o Bispo São Pedro Crisólogo (séc. V) nos enriquece com seu Sermão. 

“O santo Apóstolo refere que dois homens deram início ao gênero humano: Adão e Cristo. Dois homens, iguais quanto ao corpo, mas desiguais no valor. Com toda a verdade, inteiramente semelhantes na compleição física, mas, sem dúvida, diferentes por seu princípio. O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente; o último Adão, espírito vivificante (1Cor 15,45).

O primeiro foi feito pelo último, de quem também recebeu a alma para poder viver. É ele figura de Seu criador, que não espera de outro a vida, mas só Ele a concede a todos. Aquele de limo vil é plasmado; este vem do precioso seio da Virgem. Naquele a terra se muda em carne; neste a carne é promovida a Deus.

E que mais? É este o Adão que naquele primeiro pôs Sua imagem ao criá-lo, e d'Ele recebeu não só a personalidade, mas ainda o nome para que, tendo-o feito para Sua imagem, não viesse a perecer.

Primeiro Adão, último Adão. O primeiro tem começo, o último não conhece fim. Porque o último é na realidade o primeiro, conforme suas palavras: Eu, o primeiro, e Eu, o último (Is 48,12).

Eu sou o primeiro, isto é, sem começo. Eu, o último, absolutamente sem fim. Contudo, o que veio primeiro não foi o espiritual, mas o natural; em seguida, o espiritual (1Cor 15,46).

Na verdade, primeiro a terra, depois o fruto; mas não tão preciosa a terra quanto o fruto. Ela exige gemidos e trabalhos; este oferece Alimento e Vida.

Tem razão o Profeta de gloriar-se por tal fruto: Nossa terra deu seu fruto (cf. Sl 84,13). Que fruto? Aquele de que se fala em outro lugar: Do fruto de teu ventre porei sobre teu trono (Sl 131,11). O primeiro homem, diz o Apóstolo, vindo da terra, é terreno; o segundo, vindo do céu, é celeste.

Qual o terreno, tais os terrenos; qual o celeste, tais os celestes (1Cor 15,47-48). Não nasceram assim. De que maneira então se transformaram, deixando seu ser do nascimento, permanecem agora no ser em que renasceram?

Para isto, irmãos, o Espírito celeste fecunda por secreta infusão de sua luz a fonte do seio da Virgem, de sorte que aqueles que a origem da raça lamacenta produzira terrenos em mísera condição, sejam dados à luz celeste e elevados à semelhança de seu Criador.

Por conseguinte, já renascidos, já formados de novo à imagem de nosso Criador, realizemos a recomendação do Apóstolo: Portanto, como trouxemos a imagem do terrestre, traremos também a imagem do celeste (1Cor 15,49).

Já renascidos, como dissemos, em conformidade com nosso Senhor, verdadeiramente adotados por Deus como filhos, traremos com plena semelhança a imagem perfeita de nosso Criador; não quanto à majestade em que é único, mas na inocência, simplicidade, mansidão, paciência, humildade, misericórdia, concórdia, em que, por condescendência, Ele Se fez tudo isto por nós e nos deu Sua Comunhão.”

Temos um magnífico paralelo feito entre Adão, o primeiro homem, que foi feito alma vivente, e o último Adão, o próprio Jesus, o espírito vivificante!

Seduzidos por Sua vida, amor e presença, cada vez mais nos configuremos ao Senhor, para viver na inocência, simplicidade,  mansidão, paciência, humildade, misericórdia e concórdia. Tão somente assim estaremos enraizados e fundados na Divina Fonte de Vida, Amor e Paz, Jesus.

Abramos nosso coração se abra ao Espírito vivificante que o Senhor nos comunicou, Espírito Santo, para que, como barro nas mãos de Deus, por Ele continuemos a ser plasmados, modelados...

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG