Fé autêntica: voos mais altos, travessias mais serenas
Com a Liturgia deste 27º Domingo do Tempo Comum (ano C), sobretudo à luz do Evangelho de São Lucas (Lc 17,5-10), veremos que não há autêntico cristianismo sem a fé.
Os patriarcas (AT) são protagonistas das primeiras páginas bíblicas da fé como confiança absoluta em Deus e em Suas promessas, na superação de aparentes contradições, em entrega incondicional a Ele e à Sua Palavra.
Os Profetas, por sua vez, arautos da fé ao convidar a superar as seguranças e confianças em alianças humanas, no apego e confiança à Palavra dada por Deus: Antiga Aliança.
Crer é dar-se a Deus, ainda que Ele pareça ausente, como nos diz o
Profeta Habacuc (Hab 1,2-3; 2-2-4).
A fé torna-se, portanto, o único caminho para compreensão do mistério da história. Vivê-la é permanecer firmemente ancorado somente em Deus, ainda que aos nossos olhos pareça ausente.
Assim afirma o Missal Dominical:
“No Novo Testamento, o objeto da fé atinge a plenitude: O Filho de Deus Se manifesta e Seu Reino é constituído.
Mas a atitude pessoal continua a mesma; uma decisão da vontade que ama, move a inteligência a superar os cálculos humanos, para entregar-se a Deus com toda fidelidade.
A fé não consiste, pois, tanto numa adesão intelectual a uma série de verdades abstratas, mas é a adesão incondicional a uma pessoa, a Deus que nos propõe Seu amor em Cristo morto e Ressuscitado.
A fé é, portanto, obediência a Deus, comunhão com Ele, vitória sobre a solidão. É dom de Deus, mas dom que espera nossa livre resposta, que quer tornar-se a alma da nossa vida cotidiana e da comunidade cristã”.(1)
Diante de Deus, absolutamente soberano, nossa postura deve ser de permanente humildade, abertura e fé. Adesão de fé implica necessariamente em lealdade e fidelidade.
Jamais podemos nos envergonhar ou nos intimidar no testemunho de nosso Senhor, como tão bem nos admoesta Paulo na Carta a Timóteo (2Tm 1,6-8.13-14).
A concretização da fé jamais se dará sem a Oração, a escuta da Palavra Divina, a comunhão com Deus e a celebração ativa, piedosa e consciente dos Sacramentos.
A fé verdadeira é vista quando percebem em nós o entusiasmo para viver o que somos, fazer o que nos propomos, amar para que façamos e vivamos melhor do que vivemos e somos, e assim na fidelidade ao Pai, em voos mais altos nas Asas do Espírito ou atravessando serenamente o mar da vida com nosso pequeno barco, tendo ao nosso lado a imprescindível presença do Senhor.
Não podemos fazer pelo outro o que lhe é próprio, mas não podemos nos tornar indiferentes diante da fé de nosso irmão. O cultivo da própria fé nos faz responsáveis pela fé de nosso próximo.
Trabalhar pelo Reino na concretização de nossa fé é a maior graça que de Deus recebemos, de modo que Ele nada nos deve. Nós é que precisamos viver maior gratuidade no trabalho.
Deus nada nos deve, pelo contrário. De que modo poderíamos quitar nossa dívida para com Ele?
A realização de Seu amor supera qualquer recompensa que ousássemos pensar ou cobrar!
Na Oração do Dia, rezamos que Deus nos dá mais do que ousamos pedir! Dá-nos gratuitamente e incomparavelmente muito mais do mereçamos ou possamos conceber!
Diante de Deus, devemos nos colocar como simples servos: com alegria, gratuidade, serviço, prontidão, confiança, testemunhando a fé, que é dom, d’Ele recebida.
Nossa fé é necessária para nós mesmos, para ficarmos firmes na adesão a Deus, em Jesus Cristo, na força do Espírito.
Quem vive a fé no espírito de comunhão jamais achará que está fazendo demais para os outros, ao contrário, quanto mais serve por amor, mais desejará fazê-lo, com alegria e sem cansaço que extenue, esvazie.
A fé é o novo conhecimento, o modo pelo qual lemos a realidade com o olhar de Cristo.
A fé é virtude, atitude habitual da alma, inclinação permanente a julgar e agir segundo o pensamento de Cristo, com espontaneidade e vigor, diz a Igreja sempre.
Voltando ao Missal Dominical:
“Com sua fé, tem o cristão neste mundo a tarefa de destruir as falsas seguranças propondo-lhe as questões fundamentais e oferecendo a todos sua grande esperança.
A fé cristã é posta diante de um desafio: tornar-se propugnadora de problemas que nenhum laboratório, experiência ou computador eletrônico podem resolver, e que, no entanto, decidem o destino do homem e do mundo".
O Bispo e mártir São Policarpo (séc. II) já nos dizia com intensa profundidade em sua Carta aos Filipenses:
“... se a lerdes com atenção, sereis edificados na fé que vos foi dada. Ela é a mãe de todos nós (Gl 4,26), seguida pela esperança, precedida pela caridade em Deus, em Cristo e no próximo...”
Vivendo a fé na comunhão com Deus e com o outro, a vida tem outra cor, as páginas outro teor, e em tudo invejável vigor!
“Creio, Senhor, mas aumentai minha fé.”
(1) (2) Missal Dominical - Editora Paulus - página 1258
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