O Abade São Máximo Confessor (séc. VIII) nos enriquece com esta reflexão sobre a caridade.
“A caridade é a boa disposição do espírito, que nada coloca acima do divino conhecimento. Ninguém poderá jamais alcançar uma caridade permanente de Deus, se estiver preso pelo espírito a qualquer coisa terrena.
Quem ama a Deus antepõe o conhecimento e a ciência d’Ele a toda Sua criatura. N’Ele pensa incessantemente com íntimo desejo e amor.
Se todas as coisas que existem têm Deus por Criador e por Ele foram feitas, então Deus, que assim as criou, como não será incomparavelmente de maior valor? Quem abandona a Deus, o bem insuperável e se entrega ao que é pior, dá provas de considerar Deus abaixo da criação.
Quem me ama, diz o Senhor, guardará meus Mandamentos. É este o meu Mandamento: que vos ameis uns aos outros. Portanto, quem não ama o próximo, não guarda o Mandamento. Quem não guarda o Mandamento, também não pode amar o Senhor.
Feliz o homem que é capaz de amar igualmente todos os homens. Quem ama a Deus, ama também sem exceção o próximo. Sendo assim, não consegue guardar seu dinheiro, mas gasta-o divinamente, dando a quem quer que dele precise.
Quem, à imitação de Deus, dá esmolas, não faz diferença nas necessidades corporais entre bons e maus, porém a todos igualmente distribui em vista da indigência real. Contudo, em atenção à boa vontade, prefere o virtuoso e diligente ao mau.
A caridade não se revela apenas nas esmolas em dinheiro. Muito mais em partilhar a Doutrina e em prestar serviços corporais.
Quem, verdadeiramente, de coração, rejeita as coisas mundanas e, sem fingimento, se entrega aos serviços de caridade para com o próximo, este, bem depressa liberto dos vícios e paixões, torna-se participante do Amor e ciência de Deus.
Quem encontrou em si a caridade divina, sem cansaço, sem fadiga, segue o Senhor, seu Deus, conforme o admirável Jeremias, mas com fortaleza de ânimo suporta todo labor, opróbrio e injúria, sem nada pensar de mal.
Não digais, diz o Profeta Jeremias, somos o templo do Senhor. Tu também não digas: ‘A fé nua, sem mais, em Nosso Senhor Jesus Cristo, pode conceder-me a salvação’. Isto não pode ser se não lhe unires também o amor por Ele mediante as obras. Quanto à simples fé: Os demônios também creem e tremem.
Obra de caridade é prestar de boa vontade benefícios ao próximo como também a longanimidade e a paciência; e ainda, usar das coisas com discernimento.”
Podemos afirmar que tudo feito sem a caridade é a pura expressão da vaidade das vaidades, e não passamos de sal insípido, e deixamos de resplandecer a luz de Deus, que se revela em palavras e gestos de amor e solidariedade.
Refletir sobre a caridade autêntica, como discípulos missionários do Divino Mestre Jesus, é sempre uma oportunidade para crescermos em sua prática. Ainda que a caridade vivamos, é o nunca bastante comparado ao infinito Amor que Deus tem por nós.
Vemos como são inseparáveis as virtudes teologais: fé, esperança e caridade, para que façamos resplandecer a luz de Deus que em nós habita, como templos do Espírito Santo que o somos, na fidelidade ao Senhor.
Também assim é que seremos reconhecidos como discípulos Seus: “Se vos amais uns aos outros, nisto reconhecerão que sois meus discípulos” (Jo 13,35).
Que em todo o nosso ser e em nosso agir seja impresso, como selo, algo que mais nos faça reconhecidos como imagem e semelhança de Deus: o Mandamento do Amor, que se revela em duas dimensões inseparáveis, ou seja, amor a Ele sobre todas as coisas e ao nosso próximo como Ele nos amou.
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