As virtudes divinas se renovam no combate
Sejamos
enriquecidos por mais uma Homilia do Bispo São João Crisóstomo (séc. IV), cuja
memória celebra-se no dia 13 de setembro.
“Sobrevêm muitas
ondas e fortes tempestades, mas não tememos afogar, pois estamos firmados sobre
a pedra. Enfureça-se o mar, não tem forças para destruir a pedra. Ergam-se as
vagas, não podem submergir o navio de Cristo.
Pergunto eu: que
temeremos? A morte? Para mim, viver é Cristo, e morrer é lucro (Fl 1,21). O
exílio talvez, dizes-me? Do Senhor é a terra e tudo quanto contém (Sl 23,1). A
confiscação dos bens? Nada trouxemos para o mundo e, é certo, nada daqui
poderemos levar (1Tm 6,7); os pavores deste mundo são desprezíveis, e seus
bens, merecedores de riso.
Não tenho medo da
pobreza, não ambiciono riquezas; não temo a morte, nem prefiro viver a não ser
para vosso proveito. Por isto recordo os acontecimentos atuais e rogo à vossa
caridade que tenhais confiança.
Não escutas o
Senhor dizer: Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, estarei ali no
meio deles? (Mt 18,20). E onde há tanta gente ligada pelos laços da caridade,
não estará Ele presente? Tenho Seu penhor.
Será que confio
em minhas próprias forças? Seguro Seu testamento. Este é o meu bordão, a minha
segurança, o meu porto tranquilo. Abale-se embora o universo, tenho Sua
resposta, leio os Seus escritos: aí está a muralha para mim, a fortaleza. Que
escritos? Eu estou convosco todos os dias até a consumação do mundo (Mt 28,20).
Cristo está
comigo, a quem temerei? Mesmo que as ondas, os mares, o furor dos príncipes se
agitem contra mim, tudo isto não me impressiona mais do que uma aranha. E se Vossa
caridade não me retivesse, não recusaria partir ainda hoje mesmo para outro
lugar.
Repito sempre:
Senhor, faça-se a Tua vontade (Mt 26,42); não o que quer este ou aquele, mas o
que Tu queres. Esta é a minha torre, minha pedra imóvel; este, o meu báculo
firme. Se Deus quer isto, faça-se. Se quiser que permaneça aqui, agradecerei.
Onde quer que me queira, darei graças.
E onde estou eu,
aí estais vós; onde estais, aí eu também: somos um só corpo e não se separa o
corpo da cabeça nem a cabeça do corpo. Estamos em lugares distantes, mas unidos
na caridade, que nem a morte poderá separar. Porque, embora morra meu corpo,
viverá a alma que se lembrará do povo.
Vós sois meus
cidadãos, vós, meus pais, vós, meus irmãos, vós, filhos, vós, membros, vós,
corpo. Para mim sois a luz, ou melhor, mais deliciosos que esta luz. O que
poderá enviar-me um raio igual à Vossa caridade? O raio de sol para mim é vida,
porém Vossa caridade tece-me a coroa para o futuro”.
Esta
Homilia é fundamental, sobretudo quando passamos momentos de dificuldades,
provações, e somos chamados a dar razão de nossa esperança, testemunho de fé, e
crendo na perenidade do amor. Fé, esperança e caridade, as três virtudes que
nos movem enquanto peregrinamos longe do Senhor.
Tenhamos a mesma coragem, firmeza e serenidade do Bispo São João
Crisóstomo, e de tantos que viveram e testemunharam sua fé, e são para nós
luminares no tempo presente, até que completemos nossa corrida, o bom combate
da fé.
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