segunda-feira, 31 de julho de 2023

“E depois do Hexa que não veio... as Eleições!”


“E depois do Hexa que não veio, as Eleições!”
  
Retomo o artigo que escrevi no ano de 2006, por ocasião da Copa da Alemanha.

“A seleção brasileira não ganhou o hexacampeonato, como se esperava pelo franco favoritismo, pela quantidade de craques, badalação, etc...

Não ganhou e também não mereceu. E o que mais me chamou a atenção foi a reação do povo brasileiro: não houve mais que alguns momentos de silêncio e profunda decepção.

Ganhar ou perder é normal num esporte; o que não se compreendeu e nem se perdoou foi a total apatia, falta de entusiasmo e empenho da seleção.

Não veio o título como não vieram as lágrimas, porque o povo sabe por quem e por que deve chorar.

Passada a decepção histórica é mais do que hora de voltarmos a nossa atenção para as eleições que acontecerão em outubro, quando elegeremos o Presidente da República, Senador, Deputado Federal, Governador e Deputado Estadual.

Que tenhamos a mesma disposição e empenho para nos encontrarmos com nossos grupos, comunidades, para estudar, refletir...

A nação parou diante da TV por causa da Copa!

Quanto tempo será capaz de parar para este trabalho tão urgente e necessário?

Lembremos que há outros campeonatos a serem vencidos, para que as lágrimas derramadas não sejam de decepção, mas de alegria, vida e felicidade: uma sociedade mais humana, justa, fraterna e solidária”.

Com compromissos renovados e assumidos, como sal da terra e luz do mundo, empenhemo-nos no bom combate da fé, para que possamos receber não apenas a taça de um campeonato mundial, mas a coroa da vitória, reservada para aqueles que enamorados por Cristo, se empenharam corajosamente para que o Novo Céu e a Nova Terra sejam construídos.

Alegrias no tempo presente são sempre muito bem-vindas, mais ainda a alegria de ter feito por merecer a alegria na eternidade.

A pequenez da semente e a força transformadora do fermento

A pequenez da semente e a força transformadora do fermento

Com a Liturgia da Palavra da segunda-feira da 17ª semana do Tempo Comum, refletiemos duas Parábolas, em que Jesus nos fala do Reino de Deus (Mt 13,31-35): o grão de mostarda e o fermento na massa.

As Parábolas nos ajudam no crescimento espiritual, pois nos questionam, exortam, animam, ensinam, fortalecem a fé e nos levam ao mergulho tão necessário dentro de nós mesmos.

São elas, como injeção de ânimo, de esperança e renovação de compromissos com o Reino de Deus.

Ainda que tão pequenos como o grão de mostarda, aparentemente tão insignificantes, nossas ações aos olhos de Deus não o serão, pois o mesmo que acontece com o grão de mostarda acontece com o bem que fazemos.

O Reino de Deus não acontece pela grandiosidade, celebridade etc; o Reino acontece pela ação dos simples dos pequenos, dos pobres, de nossos pequenos esforços e entregas, doação total. Ainda que não mude o mundo na totalidade visibiliza a graça do Reino.

Bem disse São Paulo: Deus escolhe os fracos para confundir os fortes. A Cruz, verdadeiramente é loucura para os gregos e escândalo para os judeus.

Um discípulo missionário não fica medindo o tamanho da ação, tão pouco a recompensa recebida, mas antes, por amor, não economiza no multiplicar nos pequenos grandes gestos de amor. Isto é o que nos ensina a Parábola do grão de mostarda.

Mas tudo isto nos pede um fermento para levedar a massa, para fazer crescer o Reino o fermento indispensável: o amor, certos de que Deus  reina por Seu Amor, e o amor jamais força alguém, mas cativa para a livre adesão.

Trabalhar na construção do Reino de Deus é multiplicar palavras e ações feitas com amor, e por menos que sejam, tornarão grandes aos olhos de Deus.

Esta participação se dá quando cremos na força transformadora do melhor fermento, que somente Deus pode nos oferecer: o fermento do Seu Divino Amor.

PS: Passagem paralela do Evangelho de Lucas (Lc 13,18-21)

O Senhor nos confia o Seu Reino

O Senhor nos confia o Seu Reino

Na segunda-feira da 17ª semana do Tempo Comum, a Liturgia da Palavra nos convida a renovar a alegria de trabalhar pelo Reino de Deus, à luz das parábolas do grão de mostarda e do fermento, contidas na passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13, 31-35).

A Parábola é uma forma de linguagem que Jesus Se utiliza, acessível, viva, questionadora, concreta, desafiadora, evocadora e pedagógica, para semear a Palavra no coração e na mente dos Seus ouvintes. Fala coisas tão belas e profundas a partir de coisas simples do quotidiano.

As Parábolas criam controvérsias, diálogo, questionamentos, num primeiro momento, depois se tornam provocadoras para novas atitudes e compromissos, mexendo com seus ouvintes.

Finalmente, levam o ouvinte a tirar as consequências para a vida, pois ajuda a pensar e rever as atitudes, a própria vida, o compromisso com Jesus e o Reino.

Quanto à parábola do grão de mostarda, vemos que o Reino de Deus é pequeno e aparentemente insignificante, mas crescerá até se tornar muito grande, assim como acontece com o grão de mostarda.

Nos fatos aparentemente irrelevantes e insignificantes, na simplicidade e no transcorrer normal de cada dia, na insignificância e limites dos meios de que dispomos na evangelização, esconde-se o dinamismo divino que atua na história oferecendo e possibilitando à humanidade caminhos novos de vida plena e salvação:

“Jesus não é um homem de sucesso, de ibope. Ele lança uma sementinha, nada mais. E de repente, a sementinha brota. O que parecia nada, torna-se fecundo, árvore frondosa”, como nos fala o Pe. Joan Konings (SJ).

O Reino de Deus é uma iniciativa divina, e para que ele aconteça, a comunidade precisa manter a serenidade, a confiança e a paciência. Importa lançar a Semente da Palavra do Reino no coração da humanidade.

Tenhamos a paciência evangélica para continuarmos com alegria, como Igreja, lançando sementes no coração da humanidade, para que possam florir na alegre presença do Reino que já está em nosso meio com a Pessoa e a Palavra de Jesus, que vemos e acolhemos em cada Eucaristia, quando a Palavra é proclamada, acolhida e vivida, e o Pão é comungado e o quotidiano Eucaristizado!

PS: Passagem paralela do Evangelho de Lucas (Lc 13,18-21)

Sejamos contemplativos na ação (15/06) (XIDTCB)


Sejamos contemplativos na ação

Em tempos difíceis que estamos vivendo, em quarentena, devido a pandemia do novo coronavírus, muito oportuna esta reflexão do Papa Bento XVI, no Ângelus do dia 17 de junho de 2012, na Praça de São Pedro, em que reflete a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 4,26-34):

“Queridos irmãos e irmãs,
A liturgia de hoje nos oferece duas breves parábolas de Jesus: a da semente que cresce por si próprio e que da semente de mostarda (cfr Mc 4,26–34). Através de imagens referentes ao mundo da agricultura, o Senhor apresenta o mistério da Palavra e do Reino de Deus, e indica as razões da nossa esperança e do nosso empenho.

Na primeira parábola, a atenção é colocada sobre o dinamismo da semeação: a semente que é lançada sobre a terra, enquanto o agricultor dorme e acorda, germina e cresce sozinha.

O homem semeia com a confiança que o seu trabalho não será infecundo. Aquilo que sustenta o agricultor nos seus afazeres cotidianos é justamente a confiança na força da semente e na bondade do terreno.

Esta parábola refere ao mistério da criação e da redenção, da obra fecunda de Deus na história. Ele é o Senhor do Reino, o homem é seu humilde colaborador, que contempla e aprecia a ação criadora divina e espera pacientemente os frutos.

A colheita final nos faz pensar na intervenção final de Deus no fim dos tempos, quanto Ele realizara plenamente o seu Reino. O tempo presente é o tempo de semear e o crescimento da semente é assegurado pelo Senhor.

Cada cristão, então, sabe bem que pode fazer tudo aquilo que puder, mas que o resultado final depende de Deus: esta consciência é o sustenta no cansaço de cada dia, especialmente nas situações difíceis.

A tal propósito escreve Santo Inácio de Loyola: ‘Aja como se tudo dependesse de você, sabendo bem que, na realidade, tudo depende de Deus’ (cfr Pedro de Ribadeneira, Vida de S. Inácio de Loyola, Milão, 1998).

Também a segunda parábola utiliza a imagem da semente. Aqui, porém, se trata de uma semente específica, o grão de mostarda, considerada a menor de todas as sementes.

Embora tão miúda, no entanto, é plena de vida, desde sua ruptura, vem um rebento capaz de quebrar o solo, e chegar até a luz do sol e crescer até se tornar ‘maior de todas as plantas da horta’ (cfr Mc 4,32): a fragilidade é a força da semente, a ruptura é sua potência: assim é o Reino de Deus: uma realidade humanamente pequena, composta por quem é pobre de coração, por quem não confia na própria força, mas naquela do amor de Deus, por quem não é importante aos olhos do mundo; e ainda, justamente através da ruptura deles, explode a força de Cristo e transforma aquilo que é aparentemente insignificante.

A imagem da semente é particularmente querida para Jesus, porque expressa bem o mistério do Reino de Deus. Nas duas parábolas de hoje, isso representa um ‘crescimento’ e um ‘contraste’: o crescimento que vem graças a um dinamismo inserido na própria semente e o contraste que existe entre a pequenez da semente e a grandeza daquilo que produz.

A mensagem é clara: o Reino de Deus, também exige nossa colaboração, é antes de tudo, dom do Senhor, graça que precede o homem e suas obras. A nossa pequena força, aparentemente impotente diante dos problemas do mundo, se colocada naquela de Deus, não teme obstáculos, porque certa é a vitória do Senhor.

É o milagre do amor de Deus, que faz germinar e crescer cada semente de bem lançada na terra. E a experiência deste milagre de amor nos faz otimistas, apesar das dificuldades, sofrimentos e o mal que encontramos.

A semente germina e cresce, porque o que a faz crescer é o amor de Deus. A Virgem Maria, que acolheu como ‘terra boa’ a semente da Palavra divina, reforça em nós essa fé e esta esperança”.
Reflitamos sobre a graça do Reino de Deus que Jesus inaugurou, e que nos chama para sermos colaboradores e trabalhar pelo mesmo.

“...Venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade...”, assim rezamos na Oração que o Senhor nos ensinou.

O Reino cresce no silêncio e na aparente insignificância de nossos trabalhos. No entanto, são preciosos aos olhos de Deus, se feitos com amor.

Retomemos as palavras de Santo Inácio de Loyola (séc. XVI) ao longo destes dias de recolhimento e oração:

“Aja como se tudo dependesse de você, sabendo bem que, na realidade, tudo depende de Deus”.



(1) (cf. Pedro de Ribadeneira, Vida de S. Inácio de Loyola, Milão, 1998).
PS: Escrito em 23 de março de 2020


Unidos ao Senhor, uma fé viva e frutuosa

Unidos ao Senhor, uma fé viva e frutuosa

“Este povo perverso, que recusa ouvir as minhas ordens,
… tornar-se-á semelhante a esta faixa, que para nada serve”
(Jr 13,10)

Na segunda-feira da 17ª Semana do Tempo Comum (ano par), ouvimos a passagem do Livro do Profeta Jeremias (Jr 13,1-11).

O Profeta Jeremias, por ordem do Senhor, realiza uma ação simbólica, a fim de melhor captar a atenção e a compreensão dos seus ouvintes.

Com o simbolismo da faixa apodrecida, Jeremias dá um tom dramático à sua pregação, de modo que a faixa cingida e depois enterrada na lama até apodrecer, tem um duplo simbolismo:

- como a faixa adere ao corpo de quem a cinge, assim Israel era chamado a aderir ao Senhor, respondendo positivamente à Aliança com Deus, que antes uma iniciativa divina;

- porém, como o povo tinha quebrado a Aliança, não escutando a voz do Senhor, seguindo as próprias ideias, votando-se à idolatria, faliu na sua vocação, não prestou a Deus o serviço que lhe devia prestar, tornou-se como uma faixa apodrecida, sem qualquer valor, que não serve para absolutamente nada.

Por isto as duras palavras do Senhor são ditas pelo Profeta: “Este povo perverso, que recusa ouvir as minhas ordens, … tornar-se-á semelhante a esta faixa, que para nada serve” (Jr 13,10).

Esta imagem da faixa de linho, antes nova e depois apodrecida entre os rochedos, “é uma figura da Aliança desejada por Deus com Israel, mas muitas vezes comprometida ao longo da história da infidelidade do povo” (1).

A mensagem profética é contundente: é preciso que o povo se prenda ao Senhor de todo o seu coração, como uma esposa amada ao esposo. No entanto, o povo de Deus deixou apodrecer esta relação de amor por Deus oferecida, perdendo o sentido e o valor da própria existência.

Através do Profeta, Deus demonstra uma profunda amargura por esta atitude absurda do povo, e se tornam explicitas as causas, que levaram à ruína o dom da relação de amizade com Ele:

- a rejeição em escutar a Sua Palavra;
- comportar-se seguindo um coração obstinado;
- a idolatria.

Urge que também nós fiquemos atentos à escuta e acolhida da Palavra de Deus, a fim de que a coloquemos em prática, e não tenhamos, lamentavelmente, uma fé “apodrecida”, que já não servirá para mais nada, como a faixa de linho que fora enterrada e, consequentemente, apodrecida.

É preciso que nos prendamos ao Senhor, com total fidelidade, com pequenos e grandes gestos de amor, partilha, comunhão e solidariedade, e todo o cuidado para não nos desprendermos, distanciando-nos de Sua Palavra e de Seu Projeto de vida plena para todos nós.


(1) Lecionário Comentado - Tempo Comum - Volume I - Editora Paulus - 2011 - p.822

A indiferença ao Mundial na Rússia


A indiferença ao Mundial na Rússia

Andando pelas ruas e praças, observamos uma fraca motivação e expectativa em relação à Copa do Mundo.

Segundo pesquisa da Folha de São Paulo, podem ser atribuídos, em forma de alegoria (alusão à derrota do Brasil na última Copa – 7x1), sete motivos para esta apatia (53% da população são indiferentes ao Mundial de Futebol na Rússia)

1 – a economia – falta de emprego e a perda do poder de compra, inflação crescente;
2 – corrupção, saúde e violência;
3 – descrédito em relação às instituições do país;
4 – governo federal mais impopular desde a redemocratização do país;
5 – falta de esperança;
6 – crescente desinteresse dos brasileiros pelo futebol;
7 – a perda do orgulho em declarar-se brasileiro.
Um ponto positivo é o raro apoio da população em relação ao treinador da Seleção, sobretudo considerando o descrédito em relação às figuras públicas do país.


De fato, não será um hexacampeonato conquistado que resolverá questões tão sérias por que passamos.

Agora é tempo de sonharmos acordados, redescobrindo o caminho do fortalecimento da democracia em que vivemos.

É tempo de pautarmos as reflexões nos temas que nos inquietam e roubam a beleza da vida: fome, desemprego, corrupção, violência, corrupção...

É tempo de ressuscitarmos os princípios éticos, que asseguram uma sociedade mais justa e fraterna, em que rostos desfigurados pela fome, tristeza e abandono sejam transfigurados.

É tempo de que ressuscitarmos a verdadeira política, a fim de que ela seja, de fato, a forma sublime da caridade vivida em vista do bem comum, como tão bem expressou o Bem-Aventurado Papa Paulo VI, na “Octogesima Adveniens”, em 1971: “A política é uma maneira exigente - se bem que não seja a única - de viver o compromisso cristão, ao serviço dos outros.” (n.46).

Mais que o hexacampeonato Mundial de futebol, precisamos novos dias, novos tempos, novos caminhos, novas realidades sociais, políticas, econômicas, culturais.

Torcer pela seleção é possível ou não, mas compromissos com um Brasil mais justo e fraterno, mais que possível, é necessário, inadiável e ninguém pode se omitir.

PS: Texto escrito em julho de 2018 -  Mundial de Futebol na Rússia

domingo, 30 de julho de 2023

Ó Deus, que tanto nos amais

Ó Deus, que tanto nos amais

Reflexão à luz da Leitura Breve das Vésperas, da Carta de Paulo aos Romanos (Rm 8,28-30).

Num contexto de indiferença, e até mesmo negação da existência de Deus, a mensagem do Apóstolo leva-nos a refletir sobre um Deus que nos ama e, incansavelmente, vem ao nosso encontro. 

Fala-nos sobre o Projeto de Salvação que Deus tem para nos oferecer na acolhida do Espírito Santo, lembrando que tudo Deus faz para aqueles que ama – “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o Projeto de Deus” (Rm 8,28) .

Portanto, é preciso viver na fidelidade à graça divina, tendo a plena convicção de que o Espírito intercede por nós junto do Pai e nos concede a graça para realizar Seu Projeto de Salvação.

Como discípulos missionários, cabe-nos concretizar este Projeto de Salvação, e assim o faremos se, de fato, nos identificarmos com Jesus, fazendo d’Ele nosso mais belo e precioso tesouro, e por Ele tudo renunciamos para segui-Lo, carregando com fidelidade nossa cruz de cada dia. 

Oremos:

Ó Deus, que tanto nos amais antes que tenhamos existido, porque somos obra de Vossas Divinas mãos, modelai-nos como vaso de argila na mão do Oleiro.

Ó Deus, que nos chamais para uma relação filial, comunicando-nos Vosso amor, concedei-nos proteção em todos os momentos.

Ó Deus, que nos predestinais à santidade, ajudai-nos, pois sem o Vosso auxílio ninguém é forte, ninguém é santo.

Ó Deus, que nos justificais, concedei-nos a Salvação por meio do Vosso Filho, que nos tendo amado, amou-nos até o fim.

Ó Deus, concedei com a morte e Ressurreição de Vosso Filho, a graça de sermos eternos, com a morada do Vosso Espírito em nós, a fim de que sejamos mortos para o pecado e vivos para Vós. Amém.

O Reino de Deus é a nossa maior riqueza (Homilia XVIIDTCA)

O Reino de Deus é a nossa maior riqueza

Com a Liturgia da Palavra do 17º Domingo do Tempo Comum (ano A) refletimos à luz das Parábolas da pérola, do tesouro escondido e da rede lançada ao mar, sobre o Reino de Deus, questionando nossas prioridades diante de Jesus.

É preciso que o Reino seja para nós o valor supremo e que, a exemplo de Salomão, peçamos a sabedoria para fazer as devidas escolhas, sem nos prendermos aos valores efêmeros, passageiros, mas aos valores eternos.

A súplica de Salomão na passagem da primeira leitura (1 Rs 3,5.7-12), questiona nossas súplicas: ele pediu um coração sábio para governar com justiça.

A Salomão, Deus acrescentou riqueza, glória, longa vida. Deus nunca deixará faltar nada, mas bem sabemos que Salomão foi seduzido pelos valores passageiros, e é para nós, em todos os tempos, um sinal de advertência para que não incorramos no mesmo erro.

Enquanto oração foi perfeita, mas não a sua conduta, e com isto podemos refletir sobre o que pedimos e recebemos de Deus e o que fazemos com o que recebemos.

Vivemos numa constante decisão entre o ilusório ou real, passageiro ou eterno, sendo assim podemos nos questionar sobre o que, de fato, fundamenta nossa felicidade.

Na passagem da segunda Leitura (Rm 8,28-30), o Apóstolo Paulo nos fala sobre o Projeto de Salvação que Deus tem para nos oferecer na acolhida do Espírito Santo, lembrando que tudo Ele faz para aqueles que ama.

Portanto, é preciso viver na fidelidade à graça divina, tendo a plena convicção de que o Espírito intercede por nós junto do Pai e nos concede a graça para realizar Seu Projeto de Salvação.

Não estamos à deriva na história: Deus nos conhece, predestina, chama, justifica, glorifica, de modo que a Salvação destina-se a todos.

Num contexto de indiferença, e até mesmo negação da existência de Deus, a Carta de Paulo leva-nos a refletir sobre um Deus que nos ama e incansavelmente vem ao nosso encontro. 

Como discípulos missionários cabe-nos concretizar este Projeto de Salvação, e assim o faremos se, de fato, nos identificarmos com Jesus, fazendo d’Ele nosso mais belo e precioso tesouro.

Na passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13,44-52), ouvimos as parábolas exclusivas de Mateus que tinha diante de si uma comunidade imersa na monotonia, na falta de empenho, numa vivência morna da fé, logo, pouco exigente e comprometida.

Como perseverar diante das perseguições e hostilidades, dificuldades que vão se apresentando na caminhada da comunidade?

Aqui está a beleza das Parábolas: revigoram o ânimo, reavivam o entusiasmo, ajudam no discernimento e fortalecem no seguimento.

A comunidade deve ver no Reino a grande pérola ou tesouro pelo qual todo sacrifício deve ser feito e toda renúncia não será em vão.

É preciso rever a escala de valores que pautam nossa vida, o que nos seduz, o que consome nossas forças, nosso tempo; bem como refletir sobre a alegria que devemos ter por sermos instrumentos, colaboradores na realização do Reino.

Quanto a Parábola da rede e dos peixes leva a comunidade a refletir mais uma vez sobre a necessidade da paciência para ver o Reino de Deus acontecer (parábola do joio e trigo).

Deus não tem pressa de condenar e destruir. Ele não quer a morte do pecador, por isso dá ao homem o tempo necessário e suficiente para amadurecer as suas opções e fazer suas escolhas.

Novamente refletimos sobre a Misericórdia de Deus que se manifesta na tolerância, paciência, sempre desejoso de que em nós aconteça a conversão e o amadurecimento.

Na conclusão do Evangelho os discípulos são chamados a compreender, acolher o novo ensinamento proposto, num renovado compromisso e empenho.

Renúncias, relativizações, discernimentos são para nós pedidos, para que não nos percamos no que é efêmero, passageiro, ilusório,  e busquemos o que é eterno.

A busca da sabedoria para acolher e compreender e se comprometer com o Reino.

Devemos renunciar de modo absoluto ao pecado, como assim prometemos no dia de nosso Batismo, e para melhor servir ao Reino renunciar àquilo que não é mal em si (riquezas, prestígio, poder). 

Temos um valor maior, sermos instrumentos do Reino vale muito mais do que tudo isto.

Reflitamos:

O que pedimos quando dizemos: “Venha a nós o Vosso Reino”?
Qual tem sido o conteúdo de nossas súplicas?


Temos consciência de nosso papel na realização do Reino? 
-  Como Igreja, estamos a serviço do Reino?

- Sentimos alegria contagiante ao trabalhar para que o Reino de Deus aconteça?

Concluindo a mensagem central deste domingo: O Reino de Deus é o nosso maior tesouro. Participemos de sua realização como herdeiros da graça em Cristo Jesus pelo Espírito Santo no amor do Pai.

O melhor Ele já nos deu: O Espírito Santo e os sete Dons: Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor de Deus.

Empenhemo-nos alegremente na construção do Reino, o Espírito nos assiste, a Sabedoria nos é comunicada incessantemente. 

Saibamos fazer as renúncias necessárias pelo mais Belo Tesouro - Jesus.


A Deus cabe o julgamento final (XVIIDTCA)

A Deus cabe o julgamento final

Vejo o mundo em páginas múltiplas e densas.
Por vezes o vejo confuso, além do meu entendimento...
No campo crescem grão de trigo e joio, ainda que não deseje,
Nas redes entram peixes bons e ruins, aquém de meu querer.

Quantos sofrem por isto e se inquietam.
Indaga-se: por que Deus tolera os maus?
Por que até mesmo na Igreja isto se dá?
As questões se avolumam e até nos consomem.

Por que Cristo não seleciona uma Igreja de puros,
Perfeitos, imaculados e quase anjos?
A uns Deus e Seu Cristo têm paciência demais,
Para salvar quem sumariamente já condenamos.

Aguardemos pacientemente a colheita,
Não diminuída por prematuras intervenções de escolhas,
Ou por uma rede cheia de tão apenas peixes bons,
Ressoe a mensagem das Parábolas do Senhor.

Só então, no fim, haverá a colheita, o recolher da rede
Com base na realidade de ser grão de trigo ou joio, peixe bom ou mau.
Acolhamos a advertência eficaz das parábolas:
Deus é paciente e cabe a cada um fazer a sábia escolha.

Escolher ser bom grão e bom peixe e não joio ou peixe imprestável.
Decidamos enquanto é tempo, pois o tempo é breve.
As urgências nos interpelam a renovar a nossa fé,
Dar razão de nossa esperança e inflamar a chama da caridade. Amém.


PS: conferir Mt 13,1-51

Aprendamos a Matemática de Deus (XVIIDTCB) (27/07)

Aprendamos a Matemática de Deus

Na Liturgia da Palavra do 17º Domingo do Tempo Comum (ano B), ouviremos a passagem do Evangelho de São João (Jo 6, 1-15), em que narra o sinal que Jesus fez no deserto, celebrando com a multidão o Banquete da Vida, em oposição ao banquete de Herodes, o banquete da morte:
 
Sacrifício voraz de vidas inocentes e justas, como a vida de João Batista. No Banquete de Jesus, há credenciais exigidas para autêntica participação:
 
O amor de compaixão, a solidariedade, a confiança na providência de Deus, a gratidão, a bênção, e a consciência de que os bens de graça, d’Ele, recebidos devem ser generosamente partilhados.
 
O pão que de Deus, quotidianamente, recebemos, por Ele abençoado e por nós partilhado, ganha um novo sabor.
 
No Banquete da Vida de Nosso Senhor, não há como se omitir diante da dor, da fome, da miséria da existência humana: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.
 
É possível superar esta brutal realidade que rouba a beleza do Projeto Divino. O Profeta Isaías já anunciara a promessa messiânica, de restauração da vida, em que Deus nos chama a comer e a beber sem paga: Vinho e leite, deleite e força, alegria, revigoramento...
 
O Profeta Eliseu também soube partilhar o pouco para saciar a fome de muitos (2 Rs 4,42-44).
 
Uma última exigência: Aprender a nova matemática de Deus: Na racionalidade da matemática humana 5+ 2 = 7, indiscutivelmente, logo os 5000 homens, sem contar mulheres e crianças, estariam condenados à fome, ao desalento...
 
Na racionalidade da Matemática Divina, 5 + 2 = plenitude, perfeição, tudo!
 
Temos tudo para saciar a fome da humanidade, pois os bens que de Deus recebemos, quando partilhados, são multiplicados.
O milagre da multiplicação dos 5 pães e 2 peixes foi um sinal do Banquete Eucarístico que celebramos.
 
Alimentando-nos de um pedaço de Pão e um pouco de Vinho, Corpo e Sangue do Senhor, prolongamos a celebração na vida, multiplicando gestos de compaixão, partilha, solidariedade, tornamo-nos promotores da justiça, da fraternidade, da vida e da paz.
 
Santo Inácio de Antioquia, Bispo e Mártir, no séc. I, num contexto de dominação e perseguição, nos exortava com sabedoria indiscutível:
 
“Vosso Batismo seja a vossa arma; a fé, o vosso capacete; a caridade, a vossa lança; a paciência, a vossa armadura completa. As vossas obras sejam vosso depósito para receberdes em justiça o que vos é devido”.
 
Quando aprendizes da matemática divina, nada nos separará do Amor de Deus (Rm 8,35-39): nem a tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada...
 
Quando aprendizes da matemática divina, intensificaremos nosso relacionamento com Deus, que é misericórdia, piedade, amor, paciência, compaixão, muito bom para com todos e pleno de ternura que abraça toda criatura (Sl 144).
 
Quando aprendizes da matemática divina, aprenderemos, como disse um autor desconhecido, que:

Somente a água que damos de beber ao próximo poderá saciar nossa sede. Somente a roupa que doamos poderá vestir nossa nudez. Somente o doente que visitamos poderá nos curar.
 
Somente o pão que oferecemos ao irmão poderá nos satisfazer.
Somente a palavra que suaviza a dor poderá nos consolar.
Somente o prisioneiro que libertamos poderá nos libertar”.
 
Somente a partir da matemática de Deus é que teremos o sinal de um novo céu e uma nova terra, pois não é a lógica fria e irracional, mas a lógica da compaixão, amor, solidariedade e partilha que multiplica, abundantemente, em nós, todas as graças divinas.
 
 
 Matemática de Deus... Uma bela lição a aprender. 
 

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