A fina flor da esperança
Vivemos uma crise que desafia o testemunho da nossa fé e a caridade ativa, para que vislumbremos um novo amanhecer, com o renascer da fina flor da esperança.
Múltiplas são suas expressões: planetária, econômica, social, política, moral, ética, familiar, existencial, religiosa, de valores, etc.
Entretanto, precisamos entender as dificuldades não como um ponto final, uma situação em que não há perspectivas, mas como momento de reflexão e incansável busca de saídas e de superação, reconhecendo as nossas infidelidades e pecados, e empenhados na necessária conversão, voltando-nos para Deus, orientando a nossa vida segundo Seus preceitos.
Com relação à crise política nacional atual, por exemplo, se buscarmos na história, veremos que, lamentavelmente, não se restringe aos nossos tempos, mas há décadas.
Todavia, se há na crise inúmeros aspectos negativos, há também positivos, paradoxalmente, porque nos remetem à autocrítica, à revisão, à conversão.
Na Sagrada Escritura, encontramos diversas passagens que não nos permitem ver a crise como ponto final. Dentre elas: “Os que odeiam Iaweh o adularia, e o tempo deles teria passado para sempre. Eu o alimentaria com a flor do trigo, e com o mel do rochedo te saciaria” (Sl 81,16-17).
O Papa Francisco, quando escreveu a Bula “Misericordiae Vultus” (O rosto da misericórdia), retratou perfeitamente o cenário que vivemos, quando alude à violência, ao dinheiro e à corrupção:
“O convite à conversão dirige-se, com insistência ainda maior, àquelas pessoas que estão longe da graça de Deus pela sua conduta de vida... Não caiais na terrível cilada de pensar que a vida depende do dinheiro e que, à vista dele, tudo o mais se torna desprovido de valor e dignidade. Não passa de uma ilusão. Não levamos o dinheiro conosco para o além. O dinheiro não nos dá a verdadeira felicidade.
A violência usada para acumular dinheiro que transuda sangue não nos torna poderosos nem imortais. Para todos, mais cedo ou mais tarde, vem o juízo de Deus, do qual ninguém pode escapar” (n.19).
“O mesmo convite chegue também às pessoas fautoras ou cúmplices de corrupção. Esta praga putrefata da sociedade é um pecado grave que brada aos céus, porque mina as próprias bases da vida pessoal e social. A corrupção impede de olhar para o futuro com esperança, porque, com a sua prepotência e avidez, destrói os projetos dos fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que se esconde nos gestos diários para se estender depois aos escândalos públicos.” (cf. n.19).
Entretanto, a superação deste momento adverso exige esforço e disposição de todos, pois somente assim reencontraremos o caminho para que a fina flor da esperança brote no horizonte, exalando odores de alegria, fraternidade, solidariedade, justiça, partilha, transparência e da autêntica paz, construída no fortalecimento dos pilares do amor, verdade, justiça e liberdade, trazendo vida plena e feliz para a humanidade.
Concluindo, toda a sociedade é interpelada a não se curvar diante da crise e de eventuais dificuldades, e de modo mais explícito, nós, que professamos a fé em Deus, que jamais abandona Seu povo, porque ontem, hoje e sempre, vê nossa miséria, ouve nosso clamor por causa dos opressores, conhece nossas angústias e desce para nos libertar e nos fazer subir para uma terra boa e vasta, terra que emana leite e mel (Ex 3,7-8).
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