segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Quaresma é tempo de relações mais fraternas

                                                              


Quaresma é tempo de relações mais fraternas

"Enquanto o amor humano tende
a apossar-se do bem que encontra no seu objeto,
o Amor Divino cria o bem na criatura amada" 
(Santo Tomás de Aquino)

A passagem do Evangelho de Mateus  proclamado na Sexta-feira da 1ª Semana da Quaresma (Mt 5, 20-26) é parte do desdobramento do Sermão da Montanha (Mt 5,1-12).

No versículo vigésimo, Jesus nos diz: “Se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus”.

Contemplamos o Projeto de Salvação para a humanidade, mas somente na fidelidade ao Senhor e aos Seus Mandamentos é que alcançaremos vida plena e feliz.

Por isto, Jesus dá exemplos em que o amor verdadeiro e puro tem que falar mais alto, se sobrepondo a qualquer sentimento de ódio, indiferença, ira, posse, condenação, falsidade.

Importa fortalecer as relações fraternas acompanhadas da contínua necessidade da reconciliação; fortalecer os relacionamentos na sinceridade e na confiança, tornando os relacionamentos sadios e edificantes.

Deste modo, para quem quiser viver na dinâmica da Boa-Nova do Reino de Deus, não basta o cumprimento rigoroso e escrupuloso da Lei, seguindo a casuística das regras da Lei.

É preciso que se tenha uma atitude interior nova, que revele um compromisso verdadeiro com Deus, envolvendo a pessoa toda, transformando seu coração, suas escolhas, seus relacionamentos, sua postura diante do Criador e Suas criaturas.

Não será o cumprimento das regras externas que nos levará ao alcance da felicidade e de uma religião a Deus agradável, mas antes a atitude de adesão interior a Deus e à Sua Proposta, e como podemos afirmar “o amor é querer o bem do amado”. 

O amor fraterno, preocupado com a reconciliação, torna frutuoso e agradável o sacrifício que oferecemos a Deus.

E ainda, o Senhor nos alerta que quem comparecer diante do divino Juiz sem haver perdoado será condenado a pagar até o último centavo (v.24).

São iluminadoras as palavras do Missal Cotidiano:

A oferenda da própria vida em oblação a Deus (1 Cor. 13,3) e o próprio sacrifício eucarístico não são aceitos por Deus, se não procedem do amor e da paz recíproca” (1).

Deve-se procurar a justiça através do perdão e do amor, um amor novo, gratuito que vai além dos méritos; uma justiça que leva em conta não somente as ações em si, mas suas retas intenções.

Em relação a Deus, sejamos filhos e filhas, em relação ao próximo, sejamos fraternos e solidários.

Somos remetidos a dois grandes Santos da Igreja, São Tomás de Aquino e São João da Cruz que, respectivamente, assim disseram:

“Enquanto o amor humano tende a apossar-se do bem que encontra no seu objeto, o amor divino cria o bem na criatura amada" .

"O afeto e o apego da alma à criatura torna-a semelhante a esta mesma criatura. Quanto maior a afeição, maior a identidade e semelhança, porque é próprio do Amor, tornar aquele que Ama semelhante ao amado."

Reflitamos:

- Cumprimos os Mandamentos da Lei Divina por medo ou amor?

- O que podemos evitar para que sejamos fiéis ao Senhor, considerando que para Jesus, “não matar” é evitar tudo aquilo que cause dano ao próximo (egoísmo, prepotência, autoritarismo, injustiça, indiferença...)?

- Em que as afirmações dos Santos da Igreja, citadas acima, nos ajudam para que vivamos as Bem-Aventuranças e sejamos sal da terra e luz do mundo?

- Fazemos dos Mandamentos Divinos sinais indicadores no caminho que conduz à vida plena?

Eis o grande desafio para nós, discípulos missionários do Senhor: O Sermão da Montanha foi e continua sendo ouvido na montanha, mas é preciso que desçamos à planície do quotidiano. 

Neste Tempo da Quaresma, firmemos nossos passos em nosso itinerário marcado pela penitência e conversão ao Senhor.

Na missão de ser sal da terra e luz do mundo, torna-se necessária a invocação da Sabedoria Divina, a Sabedoria do Santo Espírito, para que sejamos uma Igreja no coração do mundo, e ao mesmo tempo homens e mulheres do mundo no coração da Igreja.

Somente deste modo, não seremos sal insípido, sem gosto, que para nada serve, como já nos alertara o Senhor.



(1) Missal Cotidiano - Editora Paulus - pp. 198-199 - apropriado para a quinta-feira da décima semana do Tempo Comum.

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