domingo, 25 de fevereiro de 2024

Transfiguração do Senhor e a nossa participação na Ceia Eucarística (IIDTQB)

Transfiguração do Senhor e a nossa participação na Ceia Eucarística

No segundo Domingo da Quaresma (ano B), contemplemos Jesus transfigurado no Monte Tabor, e o Monte “...é um lugar de todo especial: demasiado rude ser habitação do homem, mas também demasiado terreno para ser a morada de Deus, é um meio-termo em que Deus e o homem se encontram, o homem com uma subida penosa, e Deus com uma descida humilde. Só quem aposta a sua vida n’Aquele que é fiel (Sl 32) pode chegar ao cume” (1).

Dirigindo-se da Galileia para Jerusalém, Jesus, com a Sua Transfiguração, concede aos discípulos uma antecipação da maravilhosa luz da Ressurreição que alcançará, mas passando, inevitavelmente, pelo Mistério da Paixão e Morte na Cruz.

Com a Transfiguração, o Senhor introduz gradualmente os discípulos (nas presenças de João, Pedro e Tiago) no Mistério do sofrimento, mas ao mesmo tempo da glória do Filho do Homem que é Ele próprio, Jesus.

Neste acontecimento, em que Jesus é envolvido numa grande luz, Ele Se revela como o novo Moisés e ali, no Monte Tabor,  um novo Sinai (onde Moisés recebeu a Tábula da Lei).

A Transfiguração é uma “...breve revelação da luz divina encarnada na opacidade da natureza humana, não é momento de autoexaltação, mas é dádiva feita aos discípulos chamados a serem, por sua vez, anunciadores.

É ingenuidade o desejo de reservar para si mesmo essa luz (v.4); não é felicidade da visão, mas a fadiga da ‘escuta’ é o que resta aos discípulos na sequela de Cristo.

Só Ele, Palavra de Deus, permanece quando o êxtase cessa e volta o temor da majestade pressentida (v. 6-8). E Jesus volta a descer, com os Seus discípulos, para cumprir uma caminhada dolorosa, através da qual, somente, a luz triunfará” (2)

Urge que escutemos a Palavra que Se fez Carne, Jesus:

"'Palavra’ única do Pai, e também única ‘tenda’, a única morada de Deus entre os homens, ‘Palavra’ dura também, que da doçura do monte, embora necessária para aliviar na Oração, nos volta a impelir para um caminho de serviço...

Chamados a seguir o Ressuscitado, também nós, como os Apóstolos, devemos compreender que a contemplação não é evasão da vida, nem condução de uma vida paralela: a sequela de Cristo reconduz-nos à aridez da nossa terra de serviço, embora não estejamos já sozinhos, porque Ele desce do monte conosco, e o nosso caminho é transfigurado porque é marcado pela experiência de Cristo...

O rosto transfigurado de Cristo está escondido no rosto desfigurado do irmão pobre ou enfermo, mas nós próprios somos chamados a demonstrar aos irmãos, através do nosso rosto ferido pela vida, a luz do Ressuscitado” (3).

A experiência vivida pelos discípulos na Transfiguração também podemos vivê-la cada vez que subimos à Montanha, celebramos a Eucaristia e sentimos a presença de Deus em nosso meio, nos alimentando com o Seu Filho, que Se faz Comida e Bebida, e nos fortalecemos com a presença do Espírito Santo.

Revigorados no Banquete Eucarístico, saímos com o Senhor da Montanha Sagrada, a Igreja, descemos à planície para sermos alegres e corajosas testemunhas do Ressuscitado, num vigoroso e autêntico testemunho da fé, redimensionados na esperança e fortalecidos na caridade, para que vivamos sagrados compromisso com a construção do Reino de Deus.

Nisto consiste a Transfiguração: subidas e descidas com o Senhor. Lá na Montanha, ouvir Sua Palavra; na planície, vivê-la.



(1) Lecionário Comentado - Volume Quaresma/Páscoa - Editora  Paulus - Lisboa  p. 94.
(2) Idem pp. 93-94
(3) Idem p. 95  

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