domingo, 25 de fevereiro de 2024

O necessário silêncio fecundo(IIDTQB)

O necessário silêncio fecundo

“Imerso no Amor para fazer emergir a vida...”

Viver o Batismo é graça e missão, e precisamos ter sempre a coragem e a abertura para a revisão e o revigoramento da nossa fé e fidelidade ao Senhor, configurados a Ele com renúncias necessárias para carregarmos a nossa cruz de cada dia rumo à Páscoa definitiva, pois se com Ele vivemos e morremos, com Ele também Ressuscitamos.

Retomando as palavras do Papa Bento XVI na Mensagem Quaresmal 2011, detenhamo-nos nesta afirmação: “A Transfiguração é o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus...”.  

Indubitavelmente, não são poucos os “boatos da vida quotidiana” que podem nos afastar dos fatos que clamam a nossa solicitude, na fidelidade ao Cristo Bom Pastor, no exercício de nosso ministério.

Convém ressaltar  que “boatos” não são meramente fofocas, como se possa pensar, mas ruídos que interferem na escuta dos clamores do rebanho, por Deus, confiado.

Por “boatos” também podemos entender a ditadura do relativismo que o Papa tanto denunciou, onde as verdades se tornam transitórias, valores se tornam relativos, esvaziando de sentido os princípios que deveriam nortear a existência da humanidade.

Também podem ser as propostas satânicas que nos desviam no Projeto Divino, na realização de nossa vocação, quer Presbíteros ou não. São as tentações que Jesus venceu no deserto: ter, ser, poder – abundância, prestígio e domínio, respectivamente.

Ceder a elas nos afastaria da graça de sermos instrumentos de Deus na construção do Reino, pois como bem disse o Bispo Santo Irineu (séc. I): “a nossa glória é perseverar e permanecer no serviço de Deus”.

Evidentemente, muitos outros “boatos” podem seduzir e enfraquecer a missão. Portanto, é sempre bom lembrar que somos anunciadores da Boa-Nova e não ouvintes e multiplicadores de “boatos” que esvaziam o existir, destruindo a vida em todos os níveis, de modo que não viveríamos a vocação como dom divino e resposta nossa a Deus.

Sem ouvidos a “boatos”, com distanciamentos necessários destes, façamos a imersão na presença de Deus. Quanto mais mergulharmos nos Mistérios de Deus, mais místicos o seremos, mais encarnada e densa de conteúdo será nossa espiritualidade no compromisso com os empobrecidos desfigurados pelo caminho.

A imersão no Amor Divino é diretamente proporcional à emersão que somos chamados a realizar com toda a comunidade.

Imersos no Amor, fazemos que surja uma nova Igreja, um Planeta mais bem cuidado e, consequentemente, mais amado.

Urge que nos coloquemos na presença de Deus, para que nosso coração seja configurado ao coração do Cristo  Bom Pastor, no cuidado do rebanho.

Todo o discípulo missionário precisa ser pessoa de imersão quotidiana e constante; em constante oração, no silêncio e na contemplação dos Mistérios Divinos que se manifestam na história.

Urge que a luz divina ilumine a caverna escura de nossa existência, enfim, um homem imerso neste mar de misericórdia e luz; somente assim poderá ajudar a comunidade a fazer e viver a mesma experiência e realidade.

Urge também que estejamos imersos no Mistério do Amor de Deus, pois só assim conseguiremos encontrar luz para os sombrios caminhos a serem trilhados como Igreja em permanente travessia do mar.

O cristão é alguém que a Deus encontrou na Pessoa de Jesus Cristo, por Ele vive uma paixão que se renova em cada instante de sua vida, deixando-se guiar pela luz do Santo Espírito.
  
Reflitamos:

- Como deve ser o discipulado, à luz da Transfiguração do Senhor?
- O que podemos compreender por “distanciar-se dos boatos da vida quotidiana”?

- O que é “imergir na presença de Deus”?

A comunidade, mais do que nunca, precisa de Presbíteros que sejam homens do deserto e do oásis revigorante e que sacia a sede de amor, vida e paz.

Presbíteros que sejam homens do céu e da terra, simultaneamente; da montanha e da planície, corajosamente; da imersão e da emersão, incansavelmente...

Numa palavra: homens itinerantes e Pascais, que sabem recolher-se no silêncio mais profundo para a voz de Deus ouvir, e com coragem e fidelidade ao mundo anunciar e testemunhar, conduzindo, animando o rebanho pela Igreja a ele confiado.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG