segunda-feira, 18 de março de 2024

Envolvidos e acolhidos pela Misericórdia divina

Envolvidos e acolhidos pela Misericórdia divina

O Papa Francisco, em sua Carta Apostólica “Misericórdia et misera” , por ocasião do encerramento do Ano Santo da Misericórdia (2016), apresentou-nos um trecho da passagem do Evangelho sobre a adúltera perdoada (Jo 8,1-11).

Esta passagem, nós ouvimos no 5º Domingo da Quaresma (Ano C), quando a Liturgia da Palavra da Santa Missa nos convida a nos colocarmos de pé, vivendo de maneira diferente, acolhendo a Palavra de Jesus que foi dirigida à pecadora surpreendida em adultério: “vai e não tornes a pecar”.

É sempre tempo de  nos colocarmos num dinamismo de conversão, voltando-nos para um Deus que nos ama e nos desafia a romper as escravidões que nos afastem de Seu Amor e nos colocando a caminho numa vida nova, até que alcancemos a Ressurreição. 

O Apóstolo Paulo aos Filipenses (Fl 3,8-14) exorta os fiéis da comunidade a jogar fora todo “lixo” que impede a mais bela descoberta de Cristo, para se viver a comunhão e a identificação com Ele.

Paulo está preso e escreve esta Carta terna e afetuosa, com palavras de gratidão e exortação à fidelidade a Cristo Jesus, para que a comunidade não se desvie pela pregação dos falsos pregadores.

Somente Cristo importa. Conhecê-Lo numa intimidade de vida, viver em comunhão com Ele, assumir o mesmo destino para Ressuscitar para uma vida nova. É preciso se apaixonar por Cristo e Sua Palavra.

Voltando ao episódio descrito no Evangelho (Jo 8, 1-11), temos a revelação de um Deus de Misericórdia que age por meio do Filho, Jesus.

O cenário de fundo nos coloca frente a uma mulher apanhada em adultério, e de acordo com o Levítico (Lv 20,10) e o Livro do Deuteronômio (Dt 22,22-24), a mulher devia ser morta (lapidada). 

Aplicar a Lei ou não, eis a questão colocada para Jesus. Jesus é posto em face à Lei e, ao mesmo tempo, em face de uma mulher adúltera. 

Jesus não rejeita a Lei, pede tão apenas que escribas e fariseus se voltem para sua própria vida antes de olhar a mulher e de sentenciar a condenação.       

Que se vejam “no espelho” e também vejam quão pecadores também o são. E, assim, a partir dos mais velhos retiram-se.

A ação de Jesus diante da questão posta revela que a Misericórdia Divina não condena, não elimina, não julga e não mata. 

A lógica divina é sempre a possibilidade de uma vida nova. De fato, o amor liberta, renova e gera esta vida nova que tanto ansiamos. 

Embora nossa vida pareça, por vezes, um deserto árido, Deus se apresenta como a Fonte de Água Viva, por Seu Amor faz surgir um rio de Água Viva. A aridez do deserto é vitalizada pela intervenção divina, que nos acompanha e nunca desiste de nós, apesar de nossas infidelidades.

Somos interpelados a rever a lógica sobre a qual se organiza a sociedade, passando da eliminação sumária à reeducação e a reintegração daquele que pecou, ainda que o caminho pareça mais difícil, mais longo.

Somos desafiados a viver a lógica da misericórdia que é criativa. É preciso superar a lógica simplista - “errou, pagou...”. A lógica divina é infinitamente superior: “errou, dê conta do erro e não peques mais, e entre num caminho comunitário de conversão”.

É sempre tempo de revisão de nossa caminhada de fé, reconhecer nossos pecados, e confessá-los diante da Misericórdia de Deus, sobretudo, através do Sacramento da Penitência.

Vigilantes cuidemos melhor de nossos “telhados de vidro”, sem conivência com o pecado do outro, mas crendo que a Misericórdia Divina é a possibilidade de vida reconciliada, de vida nova para todos. 

A alegria de Deus é a conversão do pecador. Deus abomina o pecado e ama o pecador. Ele não quer que ninguém se perca e naufrague no mar imenso de pecado. 

É preciso que esvaziemos nossas mãos das pedras, sempre prontas para as lapidações sumárias do outro. Por vezes estas pedras se encontram em nossa língua e em nossos gestos, se nosso coração estiver cheio de rancores, ressentimentos, autossuficiência, soberba...

Libertemo-nos das pedras, revistamo-nos da Misericórdia Divina que em Cristo nos reconciliou e nos fez novas criaturas.

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