sábado, 30 de março de 2024

“Quando ainda estava escuro...”

“Quando ainda estava escuro...”

Assim ouvimos na Liturgia Pascal: “No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ao sepulcro, de madrugada, quando ainda estava escuro e vê que a pedra fora retirada do sepulcro” (Jo 20,1).

Quão inspiradoras são para nós estas palavras: “... quando ainda estava escuro...” Assim é nossa existência, muitas vezes marcada pela escuridão que parece interminável. São as nossas conhecidas e inevitáveis “noites escuras”: problemas pessoais, familiares, eclesiais, sociais, econômicos, culturais; crises de múltiplas faces, lágrimas de matizes diferenciados.

“... quando ainda estava escuro...” Será esta escuridão eterna? Para quem crê, sem dúvida não. Aquela noite longa fez Maria Madalena se antecipar – quem ama se antecipa e vai ao encontro. Ainda era escuro e ela foi ao encontro do amigo, pois ainda não havia entendido a promessa da Ressurreição.

“... quando ainda estava escuro...” A noite escura, que devorou os sonhos e a esperança de Maria Madalena e da humanidade, parecia ter posto um termo a tudo. Nada se poderia fazer a não ser cuidar do corpo inerte, sem vida, no túmulo, e amargar o extremo pesar, o insuportável desgosto pela morte tão precoce, tão crudelíssima.

“... quando ainda estava escuro...” Passado o susto, tornou-se uma alegre surpresa, a mais bela notícia que o mundo já ouviu: Ele Ressuscitou! Aleluia! Aconteceu a morte da morte; a vida em sua plenitude: eterna, sem mais amarras, sem limites, sem nada que impeça a manifestação e presença de Deus. Vive Aquele que não fugiu da morte, mas que por amor extremo, infinito, total, incondicional, nos amou e nos amou até o fim: "... tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim" (Jo 13.1).

Ele Ressuscitou! Aleluia! Nada pôde conter o amor de Deus que em nenhum momento o Filho amado abandonou, e mesmo na Cruz o Espírito O assistiu, fortaleceu e acompanhou. Na Cruz três amores se intercomunicam maravilhosamente, como disse Santo Agostinho. Encontram-se na comunhão, solidariedade e obediência, e na fidelidade que se eternizou.

É Páscoa! É tempo de experimentarmos o poder radiante da Cruz que é a força do Ressuscitado; a força do Amor e a luz que emanam do Corpo do Senhor Ressuscitado.

Retomando as palavras do Evangelista: “Quando ainda estava escuro”. Celebrar a Ressurreição de Jesus não significa que tudo mudou; que tudo se transformou e que já não há mais nada a fazer.

Portanto, neste Tempo Pascal, nos empenhemos em iluminar as realidades sombrias e obscuras que ainda permanecem. Somente assim a noite se fará clara como o dia, como profetizara Zacarias – “E acontecerá, naquele dia, que não haverá mais luz, nem frio, nem gelo. Haverá um único dia – Javé o conhece -, sem dia e sem noite, mas à tarde haverá a luz” (Zc 14,6-7).
Assim, na esperança de um novo céu e nova terra, finalizo com as Palavras do Livro do Apocalipse - “Verão a sua face e o seu nome estará sobre suas frontes. Não haverá mais noite: não se precisará mais da luz da lâmpada, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus vai brilhar sobre eles e eles reinarão por toda a eternidade” (Ap 22,4-5).

Acreditemos, contemplemos e imitemos a Paixão do Senhor, para com Ele Ressuscitarmos gloriosamente, pois quando ainda for escuro seremos surpreendidos com a mais Bela Notícia: Ressuscitou! Aleluia! Aleluia!

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG