sexta-feira, 29 de março de 2024

Se não é culpa de Deus, de quem é?

Se não é culpa de Deus, de quem é?

Esta reflexão aborda uma questão existencial.
Quem nunca ouviu expressões como estas:
“A culpa é de Deus”
“Deus é culpado”
“Que culpa tenho eu”?
“Quem é o culpado”?
“O que fiz para merecer este castigo?”
“Será que joguei pedra na Cruz?”
“Por que Deus permitiu a morte de...”
“Se Deus existe, por que tal fato aconteceu?”
“Se Deus existisse mesmo e tivesse poder tais coisas não aconteceriam...”

E outras expressões infelizes somar-se-iam a estas, exatamente porque muitas vezes temos a construção da imagem de Deus que não corresponde ao Deus vivo e verdadeiro que as Sagradas Escrituras nos apresentam...

Atribuir certas fatalidades a Deus leva-nos a construção de imagens de um Deus cruel, indiferente e insensível às nossas dores, surdo aos nossos clamores!

Atribuir certas catástrofes à inoperância de Deus leva-nos a não perceber a nossa participação para que algumas coisas possam acontecer: Intervenções abruptas na natureza, sem levar em conta as reais consequências, por exemplo, não ficam sem respostas, como constatamos inúmeras vezes...

Muitas colheitas amargas que fazemos não foi Deus quem plantou suas sementes foi, muitas vezes, nossa pouca inteligência e mau uso da liberdade que não tomou consciência das eventuais consequências...

Ver fatos tristes, partidas repentinas de quem amamos como castigo é uma das piores distorções da imagem de Deus que jamais se comprazeria com nossas dores, lamentos, tormentos e crudelíssimos sofrimentos...

Amar o Deus bíblico, não nos impede de carregar a cruz, ao contrário, ela nos foi proposta para o seguimento. Cruz não como sinal de derrota, mas como sinal daqueles que na força de Deus confiam; força que se manifestou no Amor que nos amou até o fim!

A vida consiste, muitas vezes, no carregar de cruzes próprias, ou na solidariedade no carregar cruzes de nosso próximo...

Finalmente, se algum fato nos interroga e nos deixa inquietos, compreende-se, mas atribuir culpa a Deus é não conhecer Seu Amor; é não ter relacionamento profundo e sincero com Aquele que nos ama e nos quer bem, e com certeza, por isto não escuta as heresias que procedem de nossos lábios, porque procedem de um coração vazio, que do Seu Amor não se preencheu, por isto jamais transbordou... Afinal a boca fala do que o coração está cheio...

Não procurar culpados, muito menos a Deus culpar: silenciar, refletir, converter-se, crescer, amadurecer... e ao Deus de Amor dobrar-se, submeter-se.

Mergulhar nossa mente nos Seus Mistérios e não ter a pretensão de envolver o Sublime Mistério de Amor em nossa limitada mente e às vezes tão pequeno espaço de nosso coração...

Que o Amor de Deus dilate nosso coração, que o Seu Espírito ilumine nossas mentes para que menos ingratos sejamos e tantas infidelidades não cometamos!

Esta reflexão pretende levar a revisão da imagem de Deus que possuímos. Tendo Deus nos criado à Sua imagem, criamos inúmeras imagens Suas. Aqui um gravíssimo problema!

Enriquecerei com comentários edificantes e que nos façam mais sujeitos e a Deus mais confiantes!

Agora o caminho está aberto. Que sejamos mais responsáveis pelo que fazemos. Antes de buscar culpados, assumir cada fato, cada momento...

As podas, ainda que doloridas, são necessárias para que as flores e os frutos se multipliquem.

Há coisas que acontecem que são aparentes perdas sem retorno. Enganamo-nos. Nem a morte é perda final, porque o abismo sepulcral, pela Morte e Ressurreição do Senhor, foi iluminado.

Mais do que respostas aos “por quês”, contemplação e amadurecimento com os mesmos.

Mais do que interrogações para Deus, acolhida de Sua Resposta Maior: O próprio Filho que nos amou e ama, que por nós na Cruz morreu e nos reconciliou e o Amor se eternizou:

“Deus amou tanto o mundo que nos deu
O Seu Filho único para que quem n'Ele crer não morra,
mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).

O que mais Deus poderia ter feito por nós?

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