sábado, 10 de fevereiro de 2024

Capítulo III: VÓS SOIS O AGORA DE DEUS

Capítulo III
VÓS SOIS O AGORA DE DEUS

Os jovens são o futuro e o presente do mundo, por isto devemos nos perguntar (n.64):

- Como são os jovens hoje e o que sucede agora com eles?

Como Igreja, é preciso abandonar esquemas rígidos, abrindo-se à escuta pronta e atenta dos jovens, de modo que esta empatia a enriquece, porque permite que os jovens deem a sua colaboração à comunidade, ajudando-a a abrir-se para novas sensibilidades, e perguntas inéditas. (n.65)

O comportamento de apenas apontar os defeitos da juventude atual, uma lista de desastre, é preciso encontrar caminho que favoreça maior proximidade e ajuda mútua. (n. 66)

“... o coração de cada jovem deve ser considerado ‘terra santa’, diante da qual nos devemos ‘descalçar’ para poder aproximar-nos e penetrar no Mistério”. (n.67)

O Sínodo fala de juventude no plural: “muitas juventudes”, pois “Existe uma pluralidade de mundos juvenis, a ponto de se tender, nalguns países, a usar o termo ‘juventude’ no plural. Além disso, a faixa etária considerada pelo presente Sínodo (16-29 anos) não representa um todo homogêneo, mas compõe-se de grupos que vivem situações peculiares”. (n.68)

Diferentes realidades dos jovens: países com mais jovens, outro com menos; alguns países são objeto de perseguição; em alguns em alguns países maior inclusão e noutros são excluídos e descartados. (n.69.70)

O Papa aponta algumas coisas que sucedem aos jovens com suas vidas concretas, e muitos sujeitos ao sofrimento e manipulação. (n.71), vivendo num mundo em crise (n.72):

- Muitos em contextos de guerra e padecem a violência numa variedade incontável de formas: raptos, extorsões, criminalidade organizada, tráfico de seres humanos, escravidão e exploração sexual, estupros de guerra, etc.

- Outros, por causa da sua fé, têm dificuldade em encontrar um lugar nas suas sociedades e sofrem vários tipos de perseguição, que vai até à morte.

- Numerosos que, por constrangimento ou falta de alternativas, vivem perpetrando crimes e violências: crianças-soldado, gangues armados e criminosos, tráfico de droga, terrorismo, etc.

“Esta violência destroça muitas vidas jovens. Abusos e dependências, bem como violência e extravio contam-se entre as razões que levam os jovens à prisão, com incidência particular nalguns grupos étnicos e sociais” (n.72)

Muitos jovens são mentalizados, instrumentalizados e utilizados como carne de canhão ou como força de choque para destruir, intimidar ou ridicularizar outros. (n.73)

Numerosos no mundo são os jovens que padecem formas de marginalização e exclusão social, por razões religiosas, étnicas ou económicas. Lembramos a difícil situação de adolescentes e jovens que ficam grávidas e a praga do aborto, bem como a propagação do SIDA/HIV, as várias formas de dependência (drogas, jogos de azar, pornografia, etc.) e a situação dos meninos e adolescentes de rua, que carecem de casa, família e recursos econômicos. (n.74)

Quando se trata de mulheres, estas situações de marginalização tornam-se duplamente dolorosas e difíceis. (n.74)

Como Igreja que é Mãe, não podemos nos habituar com isto, mas “chorar”, chorar para que a própria sociedade seja mais mãe, a fim de que, em vez de matar, aprenda a dar à luz, a ser promessa de vida.

“Choramos ao recordar os jovens que morreram por causa da miséria e da violência e pedimos à sociedade que aprenda a ser uma mãe solidária. Esta dor não passa, acompanha-nos, porque não se pode esconder a realidade. A pior coisa que podemos fazer é aplicar a receita do espírito mundano, que consiste em anestesiar os jovens com outras notícias, com outras distrações, com banalidades”. (n.75)

É preciso limpar nossos olhos pelas lágrimas; aprender a chorar:

“A misericórdia e a compaixão também se manifestam chorando. Se o pranto não te vem, pede ao Senhor que te conceda derramar lágrimas pelo sofrimento dos outros. Quando souberes chorar, então serás capaz de fazer algo, do fundo do coração, pelos outros”. (n.76)

Há contextos de colonização ideológica que prejudicam de forma especial os jovens; favorecendo a cultura do descarte, onde os próprios jovens acabam transformados em material descartável. (n.78)

Manipulação consumista – corpo juvenil como modelo. (n.79)

Conflitos geracionais: tradições familiares, valores, transmissão da fé... (n. 80)

Jovens vivem num mundo em que se destaca excessivamente a sexualidade, tornando difícil manter uma boa relação com o próprio corpo e viver serenamente as relações afetivas. (n.81)

Em tempos de progressos da ciência e das tecnologias biomédicas que incidem fortemente na percepção do corpo, induzindo a pensar que se pode modificar sem limites, não se pode perder de vida que a vida é um dom, que somos seres criados e limitados, podendo facilmente ser instrumentalizados por quem detém o poder tecnológico. (n.82)


A Igreja como instrumento neste percurso rumo à cura interior e à paz do coração de tantos jovens, marcados por tantas feridas ao longo de suas histórias. (n.83)

O que encontramos nos jovens:

- em alguns, reconhecemos um desejo de Deus, embora não possua todos os delineamentos do Deus revelado;
- em outros, o sonho de fraternidade;
- em muitos, existe um desejo real de desenvolver as capacidades de que são dotados para oferecerem algo ao mundo;
- em alguns, vemos uma sensibilidade artística especial, ou uma busca de harmonia com a natureza;
- em outros, uma grande necessidade de comunicação;
- em muitos deles, desejo profundo duma vida diferente.

O Sínodo tratou de maneira especial três temas de grande importância:

a) O ambiente digital (nn 86-90);
b) Os migrantes como paradigma do nosso tempo (nn 91-94);
c) Acabar com todas as formas de abuso (nn 95-102).

Há uma via de saída, pois há sinais de esperança e os jovens podem colaborar neste sentido.

É o caso do jovem Venerável Carlos Acutis, que deu grande testemunho no mundo das comunicações. Conhecidos dos mecanismos da comunicação, da publicidade e das redes sociais que podem ser utilizados para nos tornar sujeitos adormecidos, dependentes do consumo e das novidades que podemos comprar, obcecados pelo tempo livre e fechados na negatividade. (n.105).

Dizia Carlos – “Todos nascem como originais, mas muitos morrem como fotocópias». E o Papa exorta aos jovens e à nós: “Não deixes que isto te aconteça!” (n.106)

“Não deixes que te roubem a esperança e a alegria, que te narcotizem para te usar como escravo dos seus interesses” (n.107)

Ser jovem, nos diz o Papa, não significa apenas procurar prazeres transitórios e sucessos superficiais.

Para a juventude desempenhar a finalidade que lhe cabe no curso da vida, deve ser um tempo de doação generosa, de oferta sincera, de sacrifícios que custam, mas tornam-nos fecundos.

Cita o grande poeta Francisco Luís Bernárdes, e seu Sonetto: “Cielo de tierra – Buenos Aires, 1937). (n.108)

«Se, para recuperar o que recuperei,
tive de perder primeiro o que perdi,

se, para obter o que obtive,
tive de suportar o que suportei,

se, para estar agora enamorado,
tive que ser ferido,

considero justo ter sofrido o que sofri,
considero justo ter chorado o que chorei.

Porque no fim constatei
que não se goza bem do gozado
senão depois de o ter padecido.

Porque no fim compreendi 
que quanto a árvore tem de florido
vive do que ela tem de enterrado”.

Jesus está sempre pronto a ajudar, para que valha a pena ser jovem, de modo que todo o jovem dará uma contribuição indispensável porque cada jovem é único e irrepetível. (n. 109)

No entanto, é preciso caminhar juntos, pois, se estivermos demasiado sozinhos, facilmente perderemos o sentido da realidade, a clareza interior e sucumbimos.

Jovens unidos têm uma força admirável:

“Quando vos entusiasmais por uma vida comunitária, sois capazes de grandes sacrifícios pelos outros e pela comunidade; ao passo que o isolamento vos enfraquece e expõe aos piores males do nosso tempo”. (n.110)

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