“Tempo da germinação secreta”
Vamos adiantados no Itinerário Quaresmal (ano B) rumo à Páscoa do Senhor. Há quatro Domingos, estamos aprofundando nossa fidelidade batismal, na prática dos Exercícios Quaresmais (Oração, Jejum e Esmola). Um longo Itinerário de conversão e de acolhida da misericórdia divina.
Fomos com o Senhor ao deserto, para aprender a vencer as tentações. Subimos com Ele ao Monte Tabor para contemplá-Lo, transfigurado, aprendendo que o caminho da glória passa pela Cruz. Entramos com Ele no templo, para participar de sua purificação. No domingo passado, contemplamos o incrível Amor de Deus, narrado, anunciado e revelado plenamente por Ele próprio.
Vamos, agora, dar mais um passo decisivo: contemplar o Mistério do Amor sem limites, que assegurou vida sem limites: a obediência, a fidelidade, a radicalidade do Amor, a entrega de uma vida em favor de todos, à luz de uma pequena e maravilhosa comparação: haveremos de ser como grão de trigo que morre para não ficar só.
Estamos, portanto, em tempo de germinação secreta. Aos poucos, vemos o que é preciso “morrer” dentro de cada um de nós, para o nascimento de flores e frutos pascais.
A morte é aparente epílogo de uma história, mas cremos que o grande epílogo é a vida eterna, cujos capítulos primeiros escrevemos no tempo presente.
É isto que refletimos neste 5º Domingo da Quaresma: na fidelidade ao Senhor, trilhamos o caminho da salvação e vida definitiva, atentos ao que Deus quer e espera de nós.
Na passagem da primeira Leitura, o Profeta Jeremias (Jr 31,31-34) nos faz refletir sobre a Aliança de Deus com Seu povo, que pressupõe a mudança de coração. O Profeta sofre perseguições, incompreensões, traições, cárceres, mas jamais duvida da ação divina, que fará com Seu povo uma Nova Aliança, não mais gravada em tábuas de pedra, porque elas não foram interiorizadas, mas impressas no coração.
O coração, entendido como sede de projetos, decisões, ações e centro do ser humano (assim era entendido o coração na antropologia semita), tem que estar em permanente diálogo com Deus.
O Profeta exorta à adesão de coração, afetiva e efetiva. Somente um coração transformado viverá a fidelidade à Aliança, alcançando harmonia, paz, felicidade.
Acolher o dom que Deus nos concede, Sua paz, só será possível se deixarmos nosso coração por Ele ser transformado.
Na passagem da segunda Leitura, o autor da Epístola aos Hebreus (Hb 5, 7-9) nos apresenta Jesus como o Sumo Sacerdote da Nova Aliança, que se solidariza com a humanidade e aponta o caminho da Salvação através da obediência e fidelidade a Deus. Escreve para estimular a vida cristã e o crescimento na fé.
Impressiona-nos como o autor descreve Jesus, verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, como fora definido pelo Concílio de Niceia.
Como homem, sofreu, chorou, teve medo, angústia, cansaço. Um homem que, vivendo entre os homens, compreendeu as fraquezas humanas. Fez-Se igual a todos nós, exceto no pecado.
Somente na oração pôde viver a adesão incondicional ao Pai, fazendo de Sua vida uma perfeita oferenda, como fonte de Salvação eterna.
Ele, Ressuscitado, caminha conosco, e, conhecedor das fragilidades humanas, pôde cumprir integralmente o Projeto de Amor do Pai para toda a humanidade, ontem, hoje e sempre.
Com a passagem do Evangelho de João (Jo 12,20-33), contemplamos o caminho da Cruz, aparente fracasso e morte, mas é dela que brota a Vida verdadeira e eterna, que Deus tem preparada para aqueles que O amam e são fiéis.
Na Cruz, Se manifestará a glória de Deus. Será nela o último ato de Amor ao extremo, total, incondicional. Nela, conhecemos Jesus, que morre para nos ensinar o Amor sem limites.
É dela que nasce a Vida, e quando o Coração de Jesus é trespassado, jorra água e sangue: Batismo e Eucaristia, Vida e Alimento.
Sua glorificação, como Palavra última do Pai, foi o selo de Deus. Os discípulos não trilham um caminho de fracasso e morte, mas de glorificação e vida, e Jesus há de ser, para quem O quiser conhecer, o Salvador, o centro da História.
É Quaresma. Tempo de rever o caminho que estamos trilhando; rever nossa fidelidade e amor incondicional por Jesus e Sua Igreja.
É tempo de avaliar a coragem que temos no carregar da cruz, e de nos solidarizarmos com os crucificados da história.
É tempo de germinação secreta – silêncio profundo e frutuoso.
Precisamos ter coragem de fazer morrer nossos instintos egoístas, caprichos, vaidades, preguiça, omissão, comodismo e toda forma de autossuficiência.
Sem morte, renúncias, purificação, ousadia na entrega da vida, como expressão de amor e doação total, como Jesus o fez, jamais poderemos alcançar a graça da glória eterna.
Não desperdicemos a graça que Deus nos concede neste Tempo favorável de nossa Salvação.
Sejamos como grão de trigo que morre para não ficar só, mas gerar flores e frutos de eternidade, e então será a nossa grande Páscoa.
PS: Fonte de pesquisa: www.Dehonianos.org/portal
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