Ressuscitando Lázaro, Jesus ressuscita a fé dos discípulos
Ouvimos no quinto Domingo da Quaresma (ano A), a passagem do Evangelho de João (Jo 11,1-45), em que Jesus ressuscita o seu amigo Lázaro.
Sejamos enriquecidos pelo Sermão de São Pedro Crisólogo, Bispo e Doutor da Igreja (séc. V).
“Regressando do além-túmulo, Lázaro sai ao nosso encontro portador de uma nova forma de vencer a morte, revelador de um novo tipo de ressurreição. Antes de examinar em profundidade este fato, contemplemos as circunstâncias externas da ressurreição, já que a ressurreição é o milagre dos milagres, a máxima manifestação do poder, a maravilha das maravilhas.
O Senhor tinha ressuscitado a filha de Jairo, chefe da Sinagoga, porém, o fez restituindo simplesmente a menina à vida, sem ultrapassar as fronteiras do além-túmulo.
Ressuscitou da mesma forma ao filho único de sua mãe, porém o fez detendo o ataúde, como que se antecipando ao sepulcro, como que suspendendo a corrupção e prevenindo os maus odores, como se devolvesse a vida ao morto antes que a morte tivesse reivindicado todos os seus direitos.
Mas no caso de Lázaro tudo é diferente: sua morte e sua ressurreição nada têm em comum com os casos precedentes: nele a morte desenvolveu todo o seu poder, e a ressurreição brilha com todo o seu esplendor. Inclusive me atreveria a dizer que se Lázaro houvesse ressuscitado ao terceiro dia, teria esvaziado toda a sacramentalidade da Ressurreição do Senhor, pois Cristo voltou à vida ao terceiro dia, como Senhor que era; Lázaro foi ressuscitado ao quarto dia.
Mas para provar o que acabamos de dizer, examinemos alguns detalhes do relato evangélico: As irmãs mandaram um recado a Jesus, dizendo: Senhor, Teu amigo está enfermo. Ao expressar desta forma, intencionam sensibilizá-lo, interpelam ao amor, apelam à caridade, tratam de estimular a amizade recorrendo à necessidade. Porém, Cristo, que tem mais interesse em vencer a morte do que em repelir a enfermidade; Cristo, cujo amor radica não em aliviar o amigo, mas em devolver-lhe a vida, não proporciona ao amigo um remédio contra a enfermidade, mas lhe prepara imediatamente a glória da ressurreição.
Por isso, quando ouviu – disse o evangelista – que Lázaro estava doente, ficou ainda dois dias no lugar onde se encontrava. Observem como cede lugar à morte, licença ao sepulcro, como dá curso livre aos agentes da corrupção, não põe obstáculo algum à putrefação nem à fetidez; consente em que o abismo arrebate, traga a si, possua.
Em uma palavra, Jesus atua de forma que se esvai toda humana esperança e a desesperança humana atinja suas dimensões mais elevadas, de modo que aquilo que se dispõe a fazer percebe-se ser algo divino e não humano.
Ele se limita a permanecer onde está em espera do desenlace, para dar Ele mesmo a notícia da morte, e anunciar, então, Sua decisão de ir à casa de Lázaro. Lázaro, disse, está morto, e me alegro. Isto é amar? Cristo Se alegrava porque a tristeza da morte logo se transformaria em alegria da Ressurreição. Alegro-me por vós. E por que por vós? Justamente porque a morte e ressurreição de Lázaro já era um esboço exato da morte e Ressurreição do Senhor, e o que logo acontecera com o Senhor antecipa-se no servo. Era necessária a morte de Lázaro, para que estando Lázaro no sepulcro, ressuscitasse a fé dos discípulos”. (1)
Destaco duas partes em especial que me levaram à meditação:
- “Inclusive me atreveria a dizer que se Lázaro houvesse ressuscitado ao terceiro dia, teria esvaziado toda a sacramentalidade da Ressurreição do Senhor, pois Cristo voltou à vida ao terceiro dia, como Senhor que era; Lázaro foi ressuscitado ao quarto dia”;
- “As irmãs mandaram um recado a Jesus, dizendo: Senhor, Teu amigo está enfermo. Ao expressar desta forma, intencionam sensibilizá-lo, interpelam ao amor, apelam à caridade, tratam de estimular a amizade recorrendo à necessidade”.
- “Lázaro, disse, está morto, e me alegro. Isto é amar? Cristo Se alegrava porque a tristeza da morte logo se transformaria em alegria da Ressurreição”.
- “Era necessária a morte de Lázaro, para que estando Lázaro no sepulcro, ressuscitasse a fé dos discípulos.”
Concluo professando a fé:
(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp. 68-69
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