sexta-feira, 22 de março de 2024

“Deus amou tanto o mundo...”

                                                           


“Deus amou tanto o mundo...”

Com a Liturgia do Domingo de Ramos, iniciamos a Semana Santa, contemplando a imensidão do Amor de Deus por nós, não poupando o próprio Filho – “Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o Seu Filho único, para que todo o que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).

Neste contexto, acolhamos o Tratado sobre a fé de Pedro, do Bispo São Fulgêncio de Ruspe, século IV.

“Os sacrifícios das vítimas materiais, que a própria Santíssima Trindade, Deus único do Antigo e do Novo Testamento, tinha ordenado que nossos antepassados lhe oferecessem, prefiguravam a agradabilíssima oferenda daquele sacrifício em que o Filho unigênito de Deus feito carne iria, misericordiosamente, oferecer-Se por nós.

De fato, segundo as palavras do Apóstolo, Ele Se entregou a Si mesmo a Deus por nós, em oblação e sacrifício de suave odor (Ef 5,2). É Ele o verdadeiro Deus  e o verdadeiro sumo-sacerdote que por nossa causa entrou de uma vez para sempre no santuário, não com o sangue de touros e bodes, mas com o Seu próprio Sangue. Era isto que outrora prefigurava o sumo-sacerdote, quando, uma vez por ano, entrava no santuário com o sangue das vítimas.

É Cristo, com efeito, que, por Si só, ofereceu tudo o quanto sabia ser necessário para a nossa redenção; Ele é ao mesmo tempo sacerdote e sacrifício, Deus e templo. Sacerdote, por quem somos reconciliados; sacrifício, pelo qual somos reconciliados; templo, onde somos reconciliados; Deus, com quem somos reconciliados. Entretanto, só Ele é o sacerdote, o sacrifício e o templo, enquanto Deus na condição de servo; mas na Sua condição divina, Ele é Deus com o Pai e o Espírito Santo.

Acredita, pois, firmemente e não duvides que o próprio Filho Unigênito de Deus, a Palavra que Se fez carne, Se ofereceu por nós como sacrifício e vítima agradável a Deus. A Ele, na unidade do Pai e do Espírito Santo, eram oferecidos sacrifícios de animais pelos patriarcas, Profetas e sacerdotes do Antigo Testamento. E agora, no tempo do Novo Testamento, a Ele, que é um só Deus com o Pai e o Espírito Santo, a santa Igreja Católica não cessa de oferecer em toda a terra, na fé e na caridade, o sacrifício do pão e do vinho.

Antigamente, aquelas vítimas animais prefiguravam o Corpo de Cristo, que Ele, sem pecado, ofereceria pelos nossos pecados, e Seu Sangue, que Ele derramaria pela remissão desses mesmos pecados. Agora, este sacrifício é ação de graças e memorial do Corpo de Cristo que Ele ofereceu por nós, e do Sangue que o mesmo Deus derramou por nós. A esse respeito, fala São Paulo nos Atos dos Apóstolos: Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo vos colocou como guardas, para pastorear a Igreja de Deus, que Ele adquiriu com o Sangue do Seu próprio Filho (At 20,28). Antigamente, aqueles sacrifícios eram figura do dom que nos seria feito; agora, este sacrifício manifesta claramente o que já nos foi doado.

Naqueles sacrifícios, anunciava-se de antemão que o Filho de Deus devia sofrer a Morte pelos ímpios; neste sacrifício anuncia-se que Ele já sofreu essa morte, conforme atesta o Apóstolo: Quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado (Rm 5,6). E ainda: Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela Morte do Seu Filho (Rm 5,10).”

Contemplemos o Amor que por nós Se doa e Se entrega na crudelíssima Morte de Cruz, para nos ensinar o Caminho que nos conduz ao Pai. Fará da Cruz um sinal aparente de derrota, o caminho da nossa vitória, quando for Ressuscitado na madrugada das madrugadas, precedida pela noite sombria, da Sua descida à mansão dos mortos, para libertar os que jaziam na sombra da morte e todos quantos vierem a n’Ele crer.

Mergulhemos na compreensão do Mistério do Amor de Deus, da oferenda de Cristo por Amor de cada um de nós, Mistério que não compreendemos, Mistério de Amor que não merecemos.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG