Palavras e
atos para bem celebrar a Páscoa do Senhor
No quinto Domingo da Quaresma, somos agraciados com uma das Cartas
Pascais escritas pelo Bispo Santo Atanásio (Séc. IV), em que nos convida a
Celebrar, com palavras e atos, a Festa do Senhor que se aproxima, e que
esperamos de coração contrito e humilhado, como rezamos com o Salmista (Sl
50).
“Está próximo de nós o Verbo de Deus, nosso Senhor
Jesus Cristo, que Se fez tudo por nós, e promete estar conosco para sempre. Ele
o proclama com estas palavras: ‘Eis que Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo’ (Mt 28,20).
E porque quis fazer-Se tudo para nós, Ele é o nosso
Pastor, Sumo Sacerdote, caminho e porta; e é também a nossa festa e solenidade
como diz o Apóstolo: ‘O nosso Cordeiro Pascal, Cristo, já está imolado’ (1Cor 5,7).
Cristo, esperança dos homens, veio ao nosso
encontro, dando novo sentido às palavras do salmista: ‘Vós sois a minha
alegria; livrai-me daqueles que me cercam’(cf. Sl 31,7).
Esta é a verdadeira alegria, esta é a verdadeira
solenidade: vermo-nos livres do mal. Para tanto, que cada um se esforce por
viver em santidade e medite interiormente na paz e no temor de Deus.
Os Santos, enquanto viviam neste mundo, estavam
sempre alegres, como em contínua festa. Um deles, o bem-aventurado Davi,
levantava-se de noite, não uma, mas sete vezes, para atrair com suas preces a
benevolência de Deus.
Outro, o grande Moisés, exprimia a sua alegria
entoando hinos e cânticos de louvor a Deus pela vitória alcançada sobre o Faraó
e sobre todos os que tinham oprimido o povo hebreu. Outros, ainda, dedicavam-se
alegremente ao exercício contínuo do culto sagrado, como o grande Samuel e o
bem-aventurado Elias.
Todos eles, pelo mérito das suas obras, já
alcançaram a liberdade e celebram no céu a festa eterna. Alegram-se com a
lembrança da sua peregrinação terrena, vivida entre as sombras do que havia de
vir e, passado o tempo das figuras, contemplam agora a verdadeira realidade.
E nós, que nos preparamos para a grande solenidade,
que caminho havemos de seguir? Ao aproximarem-se as festas pascais, a quem
tomaremos por guia? Certamente nenhum outro, amados irmãos, senão Aquele a quem
chamamos nosso Senhor Jesus Cristo, e que disse: ‘Eu sou o caminho’ (Jo 14,6).
É Ele, como diz São João, ‘que tira o pecado do
mundo’ (Jo 1,29); é Ele que purifica nossas almas, como declara o
profeta Jeremias: ‘Parai um pouco na estrada para observar, e perguntai sobre os antigos
caminhos, e qual será o melhor, para seguirdes por ele; assim ficareis mais
tranquilos em vossos corações’ (Jr 6,16).
Outrora, era com sangue de bodes e a cinza de
novilhas que se aspergiam os que estavam impuros, mas só os corpos ficavam
purificados. Agora, pela graça do Verbo de Deus, alcançamos a purificação
total. Se seguirmos a Cristo, poderemos sentir-nos desde já nos átrios da
Jerusalém celeste e saborear de antemão as primícias daquela Festa eterna.
Assim fizeram os Apóstolos, que foram e continuam a
ser os mestres desta graça divina, porque seguiram o Salvador; diziam
eles: ‘Nós deixamos tudo e Te
seguimos’ (Mt 19,17).
Sigamos também nós o Senhor; preparemo-nos para celebrar a Festa do Senhor, não apenas com palavras, mas também com nossos atos.”
Nossas comunidades multiplicam, nestes dias, reuniões para a devida preparação da Semana Santa, o que é absolutamente necessário: roteiros, proclamações, reflexões, cantos, pequenos e grandes detalhes, que não podem ser esquecidos e que não devem ser improvisados.
Também se multipliquem momentos sagrados, como Vigílias, Sacramento da Penitência, Vias-Sacras, Grupos de Reflexão (novena) sobre a temática da Campanha da Fraternidade, momentos de oração em família, Missas e Celebrações.
Tudo isto é fundamental, mas como o Bispo exorta, “preparemos não apenas com palavras, mas também com nossos atos”. Aqui
é oportuno lembrar a vivência fecunda dos exercícios quaresmais que a Igreja
nos propõe, de modo especial neste Tempo da Quaresma: oração, jejum e esmola.
Verdadeiros discípulos missionários do Senhor que desejam segui-Lo, portanto, jamais poderão:
- separar palavra do ato, o crer do viver, o anúncio do testemunho, as
verdades professadas das ações acompanhadas;
- reduzir a fé a discursos teóricos, vazios de conteúdo,
porque não acompanhado das obras, o que os condenaria à morte, como nos lembra São
Tiago em sua Carta (Tg 2,26);
- ser sinal de esperança no mundo, se esta não for
acompanhada da ação, da participação, em total confiança em Deus, que não nos
infantiliza em imobilismos estéreis;
- reduzir o Mandamento do Amor, que o Senhor nos ordenou,
a meros e passageiros sentimentos do coração, mas fogo abrasador que não se
apaga, que inflama a alma, o coração e todo o nosso ser, dando matizes Pascais
ao nosso existir.
Vivendo a fé, dando razão de nossa esperança contra toda falta de esperança, e amando o nosso próximo como Jesus nos ama, caminhamos para a eternidade.
Concluamos com as palavras do Papa Francisco, na introdução de sua Mensagem para a Quaresma de 2017, uma exortação à prática da misericórdia e solidariedade para com o outro, vendo neste, um dom de Deus, para ser amado, acolhido, valorizado e promovido:
“A Quaresma é o momento favorável para intensificarmos a vida espiritual através dos meios santos que a Igreja nos propõe: o jejum, a oração e a esmola.
Na base de tudo isto, porém, está a Palavra de Deus, que somos convidados a ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui queria deter-me, em particular, na parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31).
Deixemo-nos inspirar por esta página tão significativa, que nos dá a chave para compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, incitando-nos a uma sincera conversão”.
Quaresma: tempo favorável para aprendermos com os que nos antecederam
(patriarcas, Profetas, Santos e Mártires) a entrelaçar mais
intensamente o que celebramos e o que vivemos, para exultar de alegria na
Páscoa do Senhor que se aproxima.
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