domingo, 17 de março de 2024

Palavras e atos para bem celebrar a Páscoa do Senhor! (VDTQ)

Palavras e atos para bem celebrar a Páscoa do Senhor 

No quinto Domingo da Quaresma, somos agraciados com uma das Cartas Pascais escritas pelo Bispo Santo Atanásio (Séc. IV), em que nos convida a Celebrar, com palavras e atos, a Festa do Senhor que se aproxima, e que esperamos de coração contrito e humilhado, como rezamos com o Salmista (Sl 50). 

“Está próximo de nós o Verbo de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo, que Se fez tudo por nós, e promete estar conosco para sempre. Ele o proclama com estas palavras: ‘Eis que Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo’ (Mt 28,20). 

E porque quis fazer-Se tudo para nós, Ele é o nosso Pastor, Sumo Sacerdote, caminho e porta; e é também a nossa festa e solenidade como diz o Apóstolo: ‘O nosso Cordeiro Pascal, Cristo, já está imolado’ (1Cor 5,7). 

Cristo, esperança dos homens, veio ao nosso encontro, dando novo sentido às palavras do salmista: ‘Vós sois a minha alegria; livrai-me daqueles que me cercam’(cf. Sl 31,7). 

Esta é a verdadeira alegria, esta é a verdadeira solenidade: vermo-nos livres do mal. Para tanto, que cada um se esforce por viver em santidade e medite interiormente na paz e no temor de Deus. 

Os Santos, enquanto viviam neste mundo, estavam sempre alegres, como em contínua festa. Um deles, o bem-aventurado Davi, levantava-se de noite, não uma, mas sete vezes, para atrair com suas preces a benevolência de Deus. 

Outro, o grande Moisés, exprimia a sua alegria entoando hinos e cânticos de louvor a Deus pela vitória alcançada sobre o Faraó e sobre todos os que tinham oprimido o povo hebreu. Outros, ainda, dedicavam-se alegremente ao exercício contínuo do culto sagrado, como o grande Samuel e o bem-aventurado Elias. 

Todos eles, pelo mérito das suas obras, já alcançaram a liberdade e celebram no céu a festa eterna. Alegram-se com a lembrança da sua peregrinação terrena, vivida entre as sombras do que havia de vir e, passado o tempo das figuras, contemplam agora a verdadeira realidade. 

E nós, que nos preparamos para a grande solenidade, que caminho havemos de seguir? Ao aproximarem-se as festas pascais, a quem tomaremos por guia? Certamente nenhum outro, amados irmãos, senão Aquele a quem chamamos nosso Senhor Jesus Cristo, e que disse: ‘Eu sou o caminho’ (Jo 14,6). 

É Ele, como diz São João, ‘que tira o pecado do mundo’ (Jo 1,29); é Ele que purifica nossas almas, como declara o profeta Jeremias: ‘Parai um pouco na estrada para observar, e perguntai sobre os antigos caminhos, e qual será o melhor, para seguirdes por ele; assim ficareis mais tranquilos em vossos corações’ (Jr 6,16). 

Outrora, era com sangue de bodes e a cinza de novilhas que se aspergiam os que estavam impuros, mas só os corpos ficavam purificados. Agora, pela graça do Verbo de Deus, alcançamos a purificação total. Se seguirmos a Cristo, poderemos sentir-nos desde já nos átrios da Jerusalém celeste e saborear de antemão as primícias daquela Festa eterna. 

Assim fizeram os Apóstolos, que foram e continuam a ser os mestres desta graça divina, porque seguiram o Salvador; diziam eles: ‘Nós deixamos tudo e Te seguimos’ (Mt 19,17). 

Sigamos também nós o Senhor; preparemo-nos para celebrar a Festa do Senhor, não apenas com palavras, mas também com nossos atos.”

Nossas comunidades multiplicam, nestes dias, reuniões para a devida preparação da Semana Santa, o que é absolutamente necessário: roteiros, proclamações, reflexões, cantos, pequenos e grandes detalhes, que não podem ser esquecidos e que não devem ser improvisados. 

Também se multipliquem momentos sagrados, como Vigílias, Sacramento da Penitência, Vias-Sacras, Grupos de Reflexão (novena) sobre a temática da Campanha da Fraternidade, momentos de oração em família, Missas e Celebrações. 

Tudo isto é fundamental, mas como o Bispo exorta, “preparemos não apenas com palavras, mas também com nossos atos”. Aqui é oportuno lembrar a vivência fecunda dos exercícios quaresmais que a Igreja nos propõe, de modo especial neste Tempo da Quaresma: oração, jejum e esmola.

Verdadeiros discípulos missionários do Senhor que desejam segui-Lo, portanto, jamais poderão:

-  separar palavra do ato, o crer do viver, o anúncio do testemunho, as verdades professadas das ações acompanhadas;

-  reduzir a fé a discursos teóricos, vazios de conteúdo, porque não acompanhado das obras, o que os condenaria à morte, como nos lembra São Tiago em sua Carta (Tg 2,26);

-  ser sinal de esperança no mundo, se esta não for acompanhada da ação, da participação, em total confiança em Deus, que não nos infantiliza em imobilismos estéreis;

-  reduzir o Mandamento do Amor, que o Senhor nos ordenou, a meros e passageiros sentimentos do coração, mas fogo abrasador que não se apaga, que inflama a alma, o coração e todo o nosso ser, dando matizes Pascais ao nosso existir. 

Vivendo a fé, dando razão de nossa esperança contra toda falta de esperança, e amando o nosso próximo como Jesus nos ama, caminhamos para a eternidade.  

Concluamos com as palavras do Papa Francisco, na introdução de sua Mensagem para a Quaresma de 2017, uma exortação à prática da misericórdia e solidariedade para com o outro, vendo neste, um dom de Deus, para ser amado, acolhido, valorizado e promovido: 

“A Quaresma é o momento favorável para intensificarmos a vida espiritual através dos meios santos que a Igreja nos propõe: o jejum, a oração e a esmola.  

Na base de tudo isto, porém, está a Palavra de Deus, que somos convidados a ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui queria deter-me, em particular, na parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). 

Deixemo-nos inspirar por esta página tão significativa, que nos dá a chave para compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, incitando-nos a uma sincera conversão”.       

Quaresma: tempo favorável para aprendermos com os que nos antecederam (patriarcas, Profetas, Santos e Mártires) a entrelaçar mais intensamente o que celebramos e o que vivemos, para exultar de alegria na Páscoa do Senhor que se aproxima. 

  

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