terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Lamentos sentidos que tocaram os céus

Lamentos sentidos que tocaram os céus

Impressiona-nos a história do martírio de São Paulo Miki e seus companheiros, pela coragem que testemunharam a fé no Senhor, cuja Memória celebramos dia 06 de fevereiro, escrita por um autor do século XVI.

“Quando as cruzes foram levantadas, foi coisa admirável ver a constância de todos, à qual eram exortados pelo Padre Passos e pelo Padre Rodrigues.

O Padre Comissário permaneceu sempre de pé, sem se mexer e com os olhos fixos no céu. O Irmão Martinho cantava Salmos de ação de graças à bondade divina, aos quais acrescentava o versículo: Em Vossas mãos, Senhor (Sl 30,6). Também o Irmão Francisco Blanco dava graças a Deus com voz clara. O Irmão Gonçalo recitava em voz alta o Pai-nosso e a Ave-Maria.

O nosso Irmão Paulo Miki, vendo-se colocado diante de todos no mais honroso púlpito que nunca tivera, começou por declarar aos presentes que era japonês e pertencia à Companhia de Jesus, que ia morrer por haver anunciado o Evangelho e que dava graças a Deus por lhe conceder tão imenso benefício. E por fim disse estas palavras:

“Agora que cheguei a este momento de minha vida, nenhum de vós duvidará que eu queira esconder a verdade. Declaro-vos, portanto, que não há outro caminho para a salvação fora daquele seguido pelos cristãos. E como este caminho me ensina a perdoar os inimigos e os que me ofenderam, de todo o coração perdoo o Imperador e os responsáveis pela minha morte, e lhes peço que recebam o Batismo cristão.

Em seguida, voltando os olhos para os companheiros, começou a encorajá-los neste momento extremo. No rosto de todos transparecia uma grande alegria, mas era no de Luís que isto se percebia de modo mais nítido.

Quando um cristão gritou que em breve estaria no paraíso, ele fez com as mãos e o corpo um gesto tão cheio de contentamento que os olhares dos presentes se fixaram nele. Antônio estava ao lado de Luís, com os olhos voltados para o céu. 

Depois de invocar os santíssimos nomes de Jesus e de Maria, entoou o Salmo Louvai, louvai, ó servos do Senhor (Sl 112,1), que tinha aprendido na escola de catequese em Nagasáki; de fato, durante o catecismo, costumavam ensinar alguns Salmos às crianças.

Alguns repetiam com o rosto sereno: ‘Jesus, Maria’; outros exortavam os presentes a levarem uma vida digna de cristãos; e por estas e outras ações semelhantes demonstravam estar prontos para a morte.

Finalmente os quatro carrascos começaram a tirar as espadas daquelas bainhas que os japoneses costumam usar. Vendo cena tão horrível, os fiéis gritavam: ‘Jesus! Maria!’ Seguiram-se lamentos tão sentidos de tocar os próprios céus. Ferindo-os com um primeiro e um segundo golpe, em pouco tempo os carrascos mataram a todos.”


São Paulo Miki foi um religioso jesuíta, sacerdote da Companhia de Jesus, um dos mártires do Japão, filho de um renomado militar, membro de uma família samurai da Provínicia de Harima, conhecido como excelente pregador e orador.

Paulo era filho de pais nobres, e foi educado no Colégio Jesuíta, em Anquiziama, no Japão. A convivência na Escola Jesuíta logo despertou nele o interesse de se unir à Companhia de Jesus.

Como não havia nenhum bispo na região de Fusai, Paulo não pode ser ordenado no tempo certo, mais tarde tornou-se o primeiro sacerdote jesuíta em sua pátria.

Memórias como estas celebradas no Senhor, questionam nossa fé; se de fato levamos uma vida digna de cristãos, vivendo com autenticidade a graça do Batismo, como profetas, sacerdotes e reis.

Os lamentos de Paulo Miki e seus companheiros tão sentidos tocaram os próprios céus, somados a tantos outros lamentos de mártires e testemunhas intrépidas, que professaram a fé desde o princípio da fidelidade no seguimento do Senhor.

Outros lamentos tão sentidos se multiplicam, lá e em outros tantos lugares, de cristãos perseguidos e mortos no testemunho da fé.

Ainda hoje, milhares de cristãos pelo mundo são perseguidos, mortos, impedidos de professarem a fé cristã.

Elevemos Orações por estes, e também peçamos a graça de corresponder como estes mártires numa vida cristã mais coerente, com maior fidelidade ao Evangelho do Senhor, e dizer como o Apóstolo Paulo:

– Com Cristo, eu fui pregado na Cruz. Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim. Esta minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e por mim Se entregou” (Gl 2,19b-20).

Senhor, rezamos por todas as pessoas que participam da missão de Jesus e do seu tríplice múnus: sacerdotal, profético e real:

Que vivendo a graça do Batismo participem do sacerdócio de Cristo através da busca da santificação pessoal e comunitária, na Oração, na intercessão, em profunda comunhão convosco.

Participem, corajosamente, do múnus profético através da Palavra que denuncia o pecado e anuncia a chegada do Vosso Reino de: amor, paz, alegria, justiça, verdade e liberdade.

Conduzidos por Vosso Espírito, nesta participação, renovem o compromisso com a verdade e os valores morais, sem medo da atração da ira dos que sejam contrários à proposta do Evangelho, a exemplo João Batista e tantos Profetas/mártires, que foram vítimas do ódio, da vingança, da perseguição e por vezes culminando na própria morte.

Sejam partícipes do múnus régio pelo serviço aos irmãos e irmãs, no amor, doação e entrega da própria vida como fizestes, Vós que viestes para servir e não para ser servido, para dar a vida em resgate de muitos.

Pai Nosso que estais nos céus...

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