terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

“Discurso do Papa Francisco à Cúria Romana”

                                                        
“Discurso do Papa Francisco à Cúria Romana”

“Catálogo das Doenças curiais.”
“São doenças e tentações que
enfraquecem o nosso serviço ao Senhor.”

Retomemos o “Discurso do Papa Francisco à Cúria Romana”, por ocasião do final do Advento de 2014.

A Curia Romana, como o corpo humano, está exposta também às doenças, ao mau funcionamento, à enfermidade. E como um “corpo”, procura, séria e quotidianamente, ser mais viva, mais sadia, mais harmoniosa e mais unida em si mesma e com Cristo

O papa descreve 15 prováveis doenças curiais mais costumeiras, afirmando: “estas doenças e tais tentações são naturalmente um perigo para todo cristão e para toda a Cúria, Comunidade, Congregação, Paróquia, Movimento eclesial e podem atingir quer em nível individual quer comunitário”.

1. “A doença do sentir-se “imortal”, “imune” ou até mesmo “indispensável” pondo de lado os controles necessários e habituais. Uma Cúria que não faz autocrítica, que não se atualiza, que não procura melhorar é um corpo enfermo. Uma visita ordinária aos cemitérios poderia ajudar-nos a ver os nomes de tantas pessoas, algumas das quais pensassem talvez que eram imortais, imunes e indispensáveis!...”

2. A doença do “martalismo” (que vem de Marta), da excessiva operosidade: ou seja, "daqueles que mergulham no trabalho, descuidando, inevitavelmente, 'a melhor parte': sentar-se aos pés de Jesus (cf Lc 10,38-42)... o tempo do descanso, para quem levou a termo a sua missão, é necessário, obrigatório e deve ser levado a sério: no passar um pouco de tempo com os familiares e no respeitar as férias como momentos de recarga espiritual e física; é necessário aprender o que ensina Coelet que «para tudo há um tempo» (3,1-15)".

3. A doença do “empedernimento” mental e espiritual: o perigo de tornar o coração de pedra, frio e endurecido, deixando de ter os mesmos sentimentos do Senhor (Fl 2,5); ou seja, "daqueles que possuem um coração de pedra e são de 'dura cerviz' (At 7,51-60); daqueles que, com o passar do tempo, perdem a serenidade interior, a vivacidade, a audácia e escondem-se atrás das folhas de papel, tornando-se 'máquinas de práticas' e não 'homens de Deus' (cf Hb 3,12)"

4. A doença da planificação excessiva e do funcionalismo: jamais ter como Igreja a pretensão de regulamentar e domesticar o Espírito Santo que é  frescor, fantasia, novidade - "É necessário preparar tudo bem, mas sem nunca cair na tentação de querer conter e pilotar a liberdade do Espírito Santo, que sempre permanece maior e mais generosa do que toda a planificação humana (cf. Jo 3,8)...” .

5. A doença da má coordenação: os  membros perdem a comunhão entre si e o corpo perde a sua funcionalidade harmoniosa e a sua temperança com a falta do  espírito de comunhão e de equipe.

6. A  doença do “alzheimer espiritual”: ou seja, o esquecimento da “história da salvação”, "...da história pessoal com o Senhor, do 'primeiro amor' (Ap 2,4)... É o que vemos naqueles que perderam a memória do seu encontro com o Senhor; naqueles que não têm o sentido deuteronômico da vida; naqueles que dependem completamente do seu presente, das suas paixões, caprichos e manias; naqueles que constroem em torno de si barreiras e hábitos, tornando-se, sempre mais escravos dos ídolos que esculpiram com as suas próprias mãos".

7. A doença da rivalidade e da vanglória: "...quando a aparência, as cores das vestes e as insígnias de honra se tornam o objetivo primordial da vida, esquecendo as palavras de São Paulo: 'Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses , e sim os dos outros» (Fl 2,3-4)'".

8. “A doença da esquizofrenia existencial: há a criação de um mundo paralelo com uma vida oculta e dissoluta e a conversão é por demais urgente e indispensável para esta gravíssima doença (cf Lc 15,11-32) - "...é a doença dos que vivem uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica do medíocre e do vazio espiritual progressivo que formaturas ou títulos acadêmicos não podem preencher”

9. A doença das bisbilhotices, das murmurações e do mexerico: É uma doença grave, que começa simplesmente, quem sabe, para trocar duas palavras e se apodera da pessoa, transformando-a em “semeadora de cizânia” (como satanás), e em tantos casos “homicida a sangue frio” da fama dos seus colegas e confrades - "É a doença das pessoas covardes que, não tendo a coragem de falar diretamente, falam pelas costas... guardemo-nos do terrorismo das maledicências!"

10. A doença de divinizar os chefes: "...é a doença dos que cortejam os Superiores, esperando obter a benevolência deles. São vítimas do carreirismo e do oportunismo, honrando as pessoas e não a Deus (cf Mt 23,8-12)...”

11. A doença da indiferença para com os outros:  Não se partilha o saber e, às vezes, por ciúme ou por astúcia, sente alegria ao ver o outro cair, ao invés de erguê-lo e encorajá-lo - "Quando alguém pensa somente em si mesmo e perde a sinceridade e o calor das relações humanas.”

12. A doença da cara fúnebre. Quer dizer, das pessoas grosseiras e sisudas que pensam que, para ser sérias, é necessário assumir as feições de melancolia, de severidade e tratar os outros – principalmente os que consideram inferiores – com rigidez, dureza e arrogância. Na realidade, a severidade teatral e o pessimismo estéril são muitas vezes sintomas de medo e de insegurança...”

13. A doença de acumular: "quando o Apóstolo procura preencher um vazio existencial no seu coração, acumulando bens materiais, não por necessidade, mas só para sentir-se seguro...”.

14. "A doença dos círculos fechados onde a pertença ao grupinho se torna mais forte do que a pertença ao Corpo  e, em algumas situações, ao próprio Cristo...".

15. “A doença do proveito mundano, dos exibicionismos, quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder e o seu poder em mercadoria para obter dividendos humanos ou mais poder; é a doença das pessoas que procuram insaciavelmente multiplicar poderes e, com esta finalidade, são capazes de caluniar, de difamar e de desacreditar os outros, até mesmo nos jornais e nas revistas...”

Como podemos perceber, estas “doenças curiais” também estão presentes em nossas comunidades, e é preciso a ajuda do Espírito Santo que, com Sua ação, dá vida nova a quem a Ele se abre.

Como bem afirmou o Papa, o restabelecimento destas enfermidades é fruto da consciência da doença, e da decisão pessoal e comunitária de tratar-se, suportando pacientemente e com perseverança a terapia com propósito de mudança.

Há esperança de cura e conversão, ele diz citando o Bispo Santo Agostinho:  «Enquanto uma parte aderir ao corpo, a sua cura não é desesperada; mas o que foi cortado não pode nem curar-se nem sarar».

Concluo afirmando que, na Cúria Romana ou em qualquer lugar, estas “doenças” podem nos tornar enfermos, e necessitados  da cura que somente Deus pode nos oferecer, em sincera abertura de coração, tomando consciência de nossos pecados, para estabelecer novas relações mais humanas e fraternas, que expressem a verdadeira presença de Deus entre nós.



PS: Confira o texto integral acessando:  http://pt.radiovaticana.va/


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