Com muita sabedoria, a Igreja, desde os tempos antigos, celebra a riqueza do Mistério Pascal ao longo do itinerário de um ano completo, nos propiciando contemplar a Pessoa de Jesus em todas as fases de Sua vida.
Há Tempos fortes como o Advento, que nos pede vigilância na espera do nascimento do Salvador e a Quaresma, que nos leva à conversão dos pecados, em atitude penitencial, enriquecidos pela prática dos exercícios quaresmais: a Oração, o jejum e a esmola.
Ápice destes dois Tempos são o Natal e a Páscoa, respectivamente. No primeiro, nos alegrando com o Nascimento do Salvador e no segundo, com a alegria da Páscoa do Senhor, tendo passado pela morte de Cruz.
Entre um e o outro temos o Tempo Comum que nos revigora e nos ampara da fadiga cotidiana, colocando-nos em contato com o ensino e com a vida do Mestre, nos aperfeiçoando como discípulos missionários, não somente como anunciadores, mas como testemunhas d’Ele em todo lugar, como sal da terra, fermento e luz.
Celebrando em cada Eucaristia a presença do Senhor em nosso meio, e aguardando a Sua vinda gloriosa, pomo-nos a caminho com jejuns, penitências, Orações e gestos concretos de amor, solidariedade e partilha.
Na Exortação “Evangelii Gaudium” o Papa faz alguns apelos, que merecem ser retomados nesta espera do Senhor que vem, para continuarmos, com alegria e ardor, a missão que o Senhor nos confiou, como Igreja:
- Não deixarmos que nos roubem a alegria da evangelização (n. 83): - “desiludidos com a realidade, com a Igreja ou consigo mesmos, vivem constantemente tentados a apegar-se a uma tristeza melosa, sem esperança, que se apodera do coração como o mais ‘precioso elixir do demônio.’”
- “Uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a ousadia é a sensação de derrota que nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre.” (n. 85)
- “Não deixemos que nos roubem a esperança” (n. 86) – “Às vezes o cântaro transforma-se numa pesada cruz, mas foi precisamente na Cruz que o Senhor, trespassado, Se nos entregou como fonte de água viva.”.
“Porque, assim como alguns quiseram um Cristo puramente espiritual, sem carne nem Cruz, também se pretendem relações interpessoais mediadas apenas por sofisticados aparatos, por ecrãs e sistemas que se podem acender e apagar à vontade.” (n. 88)
- “Não deixemos que nos roubem a comunidade” (n. 92) - sermos testemunhas – sal e luz – pertença evangelizadora.
- “Não deixemos que nos roubem o Evangelho” (n. 97) – “Deus nos livre de uma Igreja mundana sob vestes espirituais ou pastorais. Este mundanismo asfixiante cura-se saboreando o ar puro do Espírito Santo, que nos liberta de estarmos centrados em nós mesmos, escondidos numa aparência religiosa vazia de Deus”.
- “Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno!” – (n. 98-101) – comunhão, ecumenismo, oração pelos que nos chateiam, superação da inveja...
- “Não deixemos que nos roubem a força missionária!” “Os desafios existem para ser superados. Sejamos realistas, mas, sem perder a alegria, a audácia e a dedicação cheia de esperança.” (n.109)
De fato, falta por vezes a alegria da novidade trazida pelo Evangelho, e se esta acusação de tristeza dirigida aos cristãos é verdadeira, então pecamos contra a alegria pelo Noivo, Jesus Cristo, que celebra a festa conosco.
Enriquecedora a afirmação do Lecionário Comentado:
“Devemos renovar na nossa vida espiritual o sentido da festa, o gosto pelo lazer, a alegria do encontro, não em prejuízo do trabalho, mas para conceder espaço àquelas dimensões que muitas vezes são sufocadas por múltiplas ocupações...
Na doação de Si mesmo, expressa através do Seu Sangue, Jesus comunicou que o sentido de todas as coisas, tanto da festa como do trabalho, das fadigas e das alegrias encontram-se n’Ele, porque Ele é a paz e a reconciliação de todas as coisas, já que as assumiu a todas e as valorizou com a força do Seu Amor” (1).
Urge rever nossa ação evangelizadora nos espaços já existentes e nos novos areópagos que nos desafiam.
Concluo com as palavras do Apóstolo Paulo:
- “Tudo é de vocês e vocês são de cristo, e Cristo é de Deus” (1 Cor, 3,22-23);
- “Portanto, que nos considerem como servidores de Cristo e administradores do Mistério de Deus. Neste caso, aliás, o que se exige dos administradores, é que cada um seja fiel” (1 Cor 4,1-2).
É preciso, antes de tudo, testemunhar para o mundo que amamos e servimos o Senhor, Divina Fonte de Amor e vida, como alegres servidores de Sua Vinha.
Também, é preciso que tomemos sempre consciência de que ser evangelizador não é algo imposto, mas uma graça que Deus nos concede, e espera de nós doação, liberdade, dedicação, fidelidade, ardor, alegria.
Encontrando e reencontrando o Senhor no momento ápice da Eucaristia, nos encontramos com Ele na pessoa de nosso irmão, naqueles que passam fome, frio, sede, que estão nus ou sem liberdade, porque presos às correntes ou às amarras que nos roubam a beleza da vida e a dignidade de cada criatura por Deus criada.
(1) Lecionário Comentado - Tempo Comum - Volume II - Editora Paulus - Lisboa - 2011 - pp. 273-274.
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