São Beda: memorável testemunha
do Senhor diante da morte
Sejamos
enriquecidos pela “Carta de Cutberto”, sobre o momento da morte do Venerável São
Beda, Presbítero e Doutor da Igreja (Séc. VIII), em que expressa seu desejo de
ver a Cristo.
“Ao
chegar a terça-feira antes da Ascensão do Senhor, Beda começou a respirar com
mais dificuldade e apareceu um pequeno tumor em seu pé. Mas, durante todo
aquele dia, ensinou e ditou as suas lições com boa disposição.
A
certa altura, entre outras coisas, disse: ‘Aprendei depressa; não sei por
quanto tempo ainda viverei e se dentro em breve o meu Criador virá me buscar’.
Parecia-nos que ele sabia perfeitamente quando iria morrer; tanto assim que
passou a noite acordado e em ação de graças.
Raiando a manhã, isto é, na quarta-feira, ordenou que escrevêssemos com
diligência a lição começada; assim fizemos até às nove horas. A partir desta
hora, fizemos a procissão com as relíquias dos santos, como mandava o costume
do dia. Um de nós, porém, ficou com ele, e disse-lhe: ‘Querido mestre, ainda
falta um capítulo do livro que estavas ditando. Seria difícil pedir-te para
continuar?’ Ele respondeu: ‘Não, não custa nada; toma a tua pena e tinta, e
escreve sem demora’. E assim fez o discípulo.
Às
três horas da tarde, disse-me: ‘Tenho em meu pequeno baú algumas coisas de
estimação: pimenta, lenços e incenso. Vai depressa chamar os presbíteros do
nosso mosteiro para que distribua entre eles os presentinhos que Deus me deu’.
Quando
todos chegaram, falou-lhes, exortando a cada um e pedindo-lhes que celebrassem
missas por ele e rezassem por sua alma; o que lhe prometeram de boa vontade.
Todos
choravam e lamentavam, principalmente por lhe ouvirem manifestar a persuasão de
que não veriam mais por muito tempo o seu rosto neste mundo. No entanto,
alegraram-se quando lhes disse: ‘Chegou o tempo, se assim aprouver a meu
Criador, de voltar para aquele que me deu a vida, me criou e me formou do nada
quando eu não existia. Vivi muito tempo, e o misericordioso Juiz teve especial
cuidado com a minha vida.
Aproxima-se
o momento de minha partida (2Tm 4,6), pois tenho o desejo de partir para estar
com Cristo (Fl 1,23). Na verdade, minha alma deseja ver a Cristo, meu rei, na
sua glória’. E disse muitas outras coisas, para nossa edificação, conservando a
sua alegria de sempre até à noitinha.
O
jovem Wilberto, já mencionado, disse: ‘Querido mestre, ainda me falta escrever
uma só frase’. Respondeu ele: ‘Escreve depressa’. Pouco depois disse o jovem:
‘Agora a frase está terminada’. ‘Disseste bem, – continuou Beda – tudo está
consumado (Jo 19,30). Agora, segura-me a cabeça com tuas mãos, porque me dá
muita alegria sentar-me voltado para o lugar santo, onde costumava rezar; assim
também agora, sentado, quero invocar meu Pai’.
E
colocado no chão de sua cela, cantou: ‘Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito
Santo’. Ao dizer o nome do Espírito Santo, exalou o último suspiro.
Pela
grande devoção com que se consagrou aos louvores de Deus na terra, bem devemos
crer que partiu para a felicidade das alegrias do céu”
Nasceu
no território do mosteiro beneditino de Wearmouth (Inglaterra), em 673; foi
educado por São Bento Biscop e ingressou no referido mosteiro, onde recebeu a
ordenação de presbítero; e morreu no ano de 735.
Desempenhou
o seu ministério dedicando-se ao ensino e à atividade literária, escrevendo
obras de cunho teológico e histórico, seguindo a tradição dos Santos Padres e
explicando a Sagrada Escritura de forma simples e profunda.
O
testemunho do Venerável nos permite contemplar um homem de grande sabedoria e
simplicidade de vida (como ele mesmo fala no final da vida, ao repartir com os
seus os “presentinhos de Deus”, serenidade e confiança em Deus no momento
último da existência (a morte).
Oremos:
“Ó
Deus, que iluminais a Vossa Igreja com a erudição do Vosso presbítero São Beda,
o Venerável, concedei-nos sempre a luz da sua sabedoria e o apoio de seus
méritos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo. Amém.”
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