terça-feira, 17 de outubro de 2023

Quando a Cruz parecer pesada demais… Sejamos cristãos de fato! (Parte 2)

Quando a Cruz parecer pesada demais…
Sejamos cristãos de fato! 

Continuemos a leitura da Carta do Bispo Santo Inácio de Antioquia aos Romanos, escrita num contexto de perseguição, sofrimentos, martírios.

Como crerão na Ressurreição se não morrermos por Ele?
Como enfrentarmos a morte, sem a esperança da eternidade?

O que leva a estes testemunhos e atos heroicos? É a grande pergunta que emerge, e clama por uma resposta.

Em procura da resposta, temos certeza de que a notícia mais revolucionária que nossa fé professa é a promessa da imortalidade, a Ressurreição dos Mortos.  

Crer no Mistério da Páscoa, na passagem da morte para a vida, a âncora da esperança da imortalidade, que levou a atos heroicos Santo Inácio e tantos outros, como já o dissemos.

São memoráveis testemunhos a serem lidos com a dimensão pascal, em que a vida venceu a morte.

A consciência de que uma vida consumida e entregue por Cristo, será retomada na glória dos céus.

Santo Inácio, como tantos, não desejou a morte pela morte. Não se trata de um ato masoquista, de desvalorização ou falta de apreço pela vida presente. 

Trata-se da fé em Deus e de um amor que transcende às compreensões puramente humanas, concepções gerais da vida e quaisquer categorias de pensamentos filosóficos.

Além de todas as explicações lógicas, puramente materiais, existenciais e temporais.

Numa palavra: a fé em Deus e o amor por Ele transcendem a tudo que possamos pensar e tentar explicar, porque é de racionalidade transcendente por natureza.

A pós-modernidade, que prega o individualismo, o hedonismo, a finitude da vida, o consumismo, o relativismo de todas as coisas, não consegue captar e compreender seu sentido e conteúdo.

Com esta introdução, coloquemo-nos em imediata leitura da Carta.
Deixemos que o Espírito suscite instigantes pensamentos e questionamentos.

“Nem as delícias do mundo nem os reinos terrestres me interessam.
Mais vale para mim morrer em Cristo Jesus do que imperar até os confins da terra.

Procuro Aquele que morreu por nós: Quero Aquele que por nós ressuscitou.

Meu nascimento está iminente. Perdoai-me, irmãos! Não me impeçais de viver, não desejeis que eu morra, pois desejo ser de Deus.

Não me entregueis ao mundo nem me fascineis com o que é material.

Deixai-me contemplar a luz pura, onde, lá  chegando, serei homem.
Concedei-me ser imitador da paixão de meu Deus.

Se alguém O possui no coração, entenderá o que quero e terá compaixão de mim, sabendo da ânsia que me atormenta.

O príncipe deste mundo deseja arrebatar-me e corromper meu amor para com Deus.

Nenhum de vós, aí presentes, o ajude. Ponde-vos antes de meu lado, ou melhor, do lado de Deus.

Com efeito, não podeis pronunciar o nome de Jesus Cristo, enquanto cobiçais o mundo.

Não more em vós a inveja. Mesmo que eu em pessoa vos rogasse algo diferente, não me escuteis.

Crede antes no que vos escrevo. Vivo, vos escrevo, desejando morrer. Meu amor está crucificado.

Não há em mim fogo que busque alimentar-se da matéria, apenas uma água viva e murmurante dentro de mim, dizendo-me em segredo: Vem para o Pai!

Não sinto prazer com o alimento corruptível nem com as volúpias deste mundo.

Quero o Pão de Deus, a carne de Jesus Cristo, que nasceu da linhagem de Davi.

E quero a bebida, O Seu Sangue, que é a caridade incorruptível.
Não quero mais viver como os homens. Isto acontecerá se vós quiserdes.

Querei-o, rogo-vos, para que sejais vós também queridos. Com poucas palavras dirijo-me a vós.
Acreditai-me: Jesus Cristo vos manifestará que digo a verdade,
Ele que é a boca verdadeira pela qual o Pai verdadeiramente falou.
Pedi vós por mim, para que o consiga.

Não por motivos carnais, mas segundo a vontade de Deus que foi que vos escrevi. Se for martirizado, vós me quisestes bem. Se for rejeitado, vós me odiastes.

Lembrai-vos em vossas Orações da Igreja da Síria, que tem Deus em meu lugar. Em lugar do bispo, Jesus Cristo e a vossa caridade a governarão.

Envergonho-me de ser contado entre seus membros, pois não sou digno disto, já que sou o ultimo deles e como que um aborto.

Na verdade, alcançarei a misericórdia de ser alguém se possuir a Deus.

Saúdam-vos o meu espírito e a caridade das Igrejas que me recebem em nome de Jesus Cristo e não como um passante qualquer.

De fato, as Igrejas, que não se acham no caminho por onde vou passando, antecipam-se a meu encontro em cada cidade” (1)

Reflitamos:

- Por quantas verdades nos movemos?
- Por quantas verdades somos capazes de morrer?

- Creio na Ressurreição da Carne, na vida eterna?
- Tenho uma fé genuinamente Pascal, a exemplo de Santo Inácio de Antioquia?

Súplicas que brotam no mais fundo de nosso coração, quando refletimos e contemplamos a convicção e o testemunho de Santo Inácio, e de todos que na vida o sangue derramaram por amor de Cristo, sejam semente de novos cristãos e cristãs.

Que a vida por amor sacrificada, de Santo Inácio, nos leve ao esforço de nos tornarmos alegre e agradável oferenda a Deus, como hóstias santas e imaculadas!

Inspirados pelo seu exemplo, sejamos mais, decididamente, comprometidos e apaixonados por Cristo, na espera de um dia gozarmos as delícias da eternidade. Amém!  


PS: Liturgia das Horas vol. III - pág. 293-294.

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