Eucaristia: milagre do amor e da partilha
Com a Liturgia do 17º Domingo do Tempo Comum (ano B), contemplamos a
ação de Deus: é próprio do Seu Amor vir sempre ao nosso encontro saciando nossa
fome de amor, liberdade, justiça, vida, esperança e paz.
A Liturgia da Palavra é um grito profético: não tem sentido a morte
pela fome. Infelizmente, a fome no mundo não depende da falta de alimentos, mas
é resultado do egoísmo, do acúmulo, por parte de poucos, das riquezas que Deus
colocou à disposição de todos.
A fome não é um problema criado por Deus, mas por nós. Se as lições
divinas aprendermos, de fome de pão material e espiritual ninguém nunca mais
morrerá.
Temos a graça de refletir quais são nossas “fomes” e como procuramos
saciá-las, sem jamais perder o sentido da mais preciosa fome que possamos ter,
como acima mencionamos, e somente com Jesus, Pão da Vida e da Eternidade, é que
ela será plenamente saciada.
Com a passagem da primeira Leitura (2Rs 4,42-44), refletimos sobre o
gesto de acolhida, amor e partilha, feito pela viúva, que acolhendo a pessoa do
profeta, acolhe o próprio Deus.
A passagem bíblica tem como cenário um período bastante conturbado da
História do Povo de Deus. Um contexto de infidelidade e injustiça; a oposição
da idolatria (Baal) e a adoração ao Deus vivo e verdadeiro (Javé).
Elizeu fazia parte de uma comunidade de filhos de Profetas, que viviam
pobremente como seguidores incondicionais de Javé. Tem como missão apontar
Deus, que verdadeiramente sacia a fome da humanidade, não promovendo espetáculos,
mas nos pequenos gestos de partilha, doação e solidariedade, e quer contar
conosco para ir ao encontro dos irmãos mais necessitados, oferecendo a vida em
abundância.
Contemplamos o grande paradoxo: a generosidade, a partilha e a
solidariedade não empobrecem, mas geram vida em abundância. Passa-se do egoísmo
à partilha, da partilha à sobra.
Esta experiência vivida inspirará os autores dos Evangelhos para falar
da multiplicação dos pães.
Na passagem da segunda Leitura (Ef 4,1-6), o Apóstolo Paulo nos
apresenta a figura do Homem Novo que abandona todo egoísmo, orgulho e
autossuficiência para cultivar atitudes de humildade, mansidão e paciência.
A passagem é a "Carta do cativeiro", uma sólida catequese
paulina, uma síntese de seu pensamento, e com ela refletimos sobre quais devem
ser os compromissos a serem vividos com Cristo, para que sejamos, de fato,
criaturas novas: união, humildade, mansidão, paciência, unidade (dom de Deus e
empenho humano) que se fundamenta na comunhão da Trindade Santa. A comunidade
deve estar sempre vigilante, superando manifestações de rivalidade, inveja,
ódio, divergência, divisões e ciúmes. Qual comunidade está isenta destes males
que a desfigura?
Mais uma vez, voltamos a refletir sobre os muros a serem destruídos
dentro de nossas famílias, comunidades e mundo, e quais são as pontes de
unidade e de paz a serem edificadas.
Com a passagem do Evangelho (Jo 6,1-5), refletimos sobre a lógica do
Reino, que se funda na partilha, em oposição à lógica do mundo, que é o
egoísmo.
É o grande convite à generosidade e à partilha. Evidentemente que o
sinal feito por Jesus tem matizes da Eucaristia que instituirá pouco mais
tarde.
Aprendemos, em cada Ceia Eucarística celebrada, que o pão é
insuficiente, quando cada um procurar saciar somente a sua fome, mas se
multiplicará sem medida, abundantemente, quando todos estiverem dispostos a
colaborar, a fim de que ninguém fique privado do que lhe é próprio.
Deste modo, o Evangelista apresenta a ação libertadora de Jesus como o
novo Moisés. Jesus é o Pão que sacia a sede de vida da humanidade. Não mais a
travessia do Mar Vermelho, mas agora a grande travessia, a Páscoa da
Libertação.
Deus realizou a Antiga Aliança com Moisés, e agora, Jesus no Monte é o
Sinal e o realizador da Nova e Eterna Aliança.
Lá, Moises recebe a Palavra, os Mandamentos; aqui, Ele é a própria
Palavra, não apenas o Mandamento do Amor, mas a própria fonte e expressão
máxima do Amor: Jesus.
Jesus revela a face de Deus, e nos convida a não fugirmos da
responsabilidade. Revela o rosto de Deus, um rosto de bondade que é atento às
necessidades do povo. Jesus é o próprio Deus que Se revestiu de nossa
humanidade e vem ao nosso encontro para nos revelar o Amor Trinitário.
A comunidade de Seus seguidores é chamada sempre ao abandono dos velhos
esquemas, e a abrir-se sempre ao novo: amor e partilha.
Não podemos jamais nos omitir diante dos clamores dos empobrecidos. É
preciso construir uma sociedade nova, não mais a sociedade da carência, mas a
sociedade da saciedade, onde ninguém é privado do essencial para viver.
Em Jesus, o povo vê Aquele que vai ajudar a superar a miséria e a
escravidão. Somente n’Ele há esperança de um novo tempo.
Na multiplicação dos pães, no Evangelho proclamado, cinco pães e dois
peixes, igual a sete, que significa totalidade.
Temos tudo para saciar a fome da multidão, nada nos falta.
A sobra recolhida e guardada, sem desperdício, implica que a missão é inacabada
e será sempre necessária uma nova partilha.
Questionemo-nos:
- Cremos no milagre do amor e da partilha?
- Quais são os peixes e pães que temos para partilhar, para
que o milagre da multiplicação de Deus aconteça?
- Nossas Eucaristias celebradas têm levado a compromissos
irrenunciáveis com a fome dos empobrecidos?
- Temos procurado Jesus, no Pão da Palavra e da Eucaristia, para
saciar a nossa fome?
- Vivemos como criaturas novas, na humildade, bondade, paciência?
- Cremos na divina providência ou nos inquietamos por qualquer
coisa?
- O que é preciso para que haja menos inquietação, mais confiança
e compromissos solidários com o mundo novo?
Concluindo, ninguém
pode dizer que nada tem para oferecer. Sempre temos algo que podemos dar ao
outro para fazê-lo melhor: amor, amizade, tempo, atenção, sorriso.
Quando nos
colocamos nas mãos de Deus com toda a confiança, abrimos nosso coração e
mãos, oferecemos o que de melhor temos, e Deus, na sua infinita
onipotência e bondade, faz o milagre acontecer.
Não nos ocorra de ficarmos esperando que Deus tudo faça. Partilhemos nossos pães
e peixes e teremos muitíssimo mais a oferecer.
Quem a Deus ama e confia, confiando se entrega, se entregando recebe, e recebe,
imensuravelmente, já nesta vida e na vida eterna.
Oremos:
"Deus,
Nosso Pai, que quisestes simbolizar no Pão abundante a Salvação que colocais
à disposição de todos os seres humanos, fazei que possamos recebê-Lo nesta
Celebração comendo juntos, em
unidade de mente e coração, o Corpo do Vosso Filho.
Só assim poderemos partilhar o que nos dais, contribuindo para que
ninguém fique privado do alimento necessário. Amém!".
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