quarta-feira, 23 de agosto de 2023

“As pérolas preciosas conduzem à pérola de grande valor”

 


“As pérolas preciosas conduzem à pérola de grande valor”

Sejamos iluminados pelo Sermão n. 10 sobre a pérola de grande valor, escrito por Orígenes (séc.III), à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13,44-52).

“O texto que buscava pérolas preciosas podem compará-lo com este: buscai e achareis; e com este outro: quem busca, encontra. Por que se diz buscai e quem busca encontra? Arrisco a ideia de que se trata ‘das’ pérolas e ‘a’ pérola, pérola que adquire o que deu tudo e aceitou perder tudo, pérola a propósito da qual diz Paulo: Eu perdi tudo para ganhar a Cristo. Ao dizer ‘tudo’ se refere às pérolas preciosas; e ao referir ‘para ganhar a Cristo’ aponta para a única pérola de grande valor.

Preciosa é a lâmpada para aqueles que vivem nas trevas, e seu uso é necessário até que se levante o sol; preciosa era também a glória que irradiava a face de Moisés e penso que também a dos profetas: espetáculo tão maravilhoso que, graças a ele, nos abrimos à possibilidade de contemplar a glória de Cristo, glória para a qual o Pai presta testemunho, dizendo: Este é o meu Filho amado, meu predileto.

Aquele esplendor já não é esplendor, eclipsado por esta glória incomparável, e nós necessitamos, em um primeiro momento, de uma glória suscetível de desaparecer para dar lugar a uma glória mais excelente, assim como temos necessidade de um conhecimento ‘parcial’, que será extinto quando chegar o perfeito.

Assim, toda alma que adere à primeira infância e caminha para a perfeição necessita, até que o tempo se cumpra, de pedagogo, tutores e curadores, para que ao chegar à idade prefixada por seu pai, aquele que em nada se diferenciava de um escravo, sendo senhor de tudo, receba, uma vez libertado da mão do pedagogo, dos tutores e curadores, seus bens patrimoniais, comparáveis à pérola de grande valor e à futura perfeição que extingue com o que é parcial, no momento em que for capaz de aderir à excelência do conhecimento de Cristo, depois de exercitar-se naqueles conhecimentos que, por assim dizer, estão sob o conhecimento de Cristo.

Porém, a grande massa, que não captou a beleza das numerosas pérolas da lei, nem o conhecimento ainda ‘parcial’ que se encontra em todas as profecias, imaginam-se poder encontrar – sem antes ter esclarecido e compreendido perfeitamente essas riquezas – a única pérola de grande valor e contemplar a excelência do conhecimento de Cristo, em comparação da qual pode-se dizer que tudo o que precedeu a tão elevado e perfeito conhecimento, sem ser por sua própria natureza lixo, aparece como tal, pois se pode compará-la ao esterco que o Senhor da vinha lança ao redor da figueira, para que produza mais fruto.

Assim, tudo tem o seu tempo e ocasião, todas as tarefas debaixo do sol: tempo de recolher pedras, isto é, pérolas preciosas, e depois de tê-las recolhido, tempo de encontrar a única pérola de grande valor, momento em que é preciso vender tudo o que se possui e comprá-la.” (1)

Como discípulos missionários do Senhor, estamos em permanente vigilância e discernimento do que é passageiro ou eterno, do que realmente tem valor ou não.

Com a Sabedoria do Espírito, façamos com os necessários discernimentos, sobretudo em nossa ação evangelizadora, nos consumindo tão apenas por aquilo que vale a pena, sem esgotamentos, cansaços inúteis e estéreis.

Oremos:

“Ó Deus, sois o amparo dos que em Vós esperam e, sem Vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por Vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!” (2)

 

(1)   Lecionário Patrístico Dominical, Editora Vozes – 2013 - pp. 184-185.

(2)   Oração do dia da Missa do 17º Domingo do Tempo Comum

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG