sábado, 27 de julho de 2024

Em poucas palavras...

 


O genuíno culto espiritual

“O genuíno culto espiritual não se baseia numa construção material, mas na observância das normas morais especialmente a justiça e o amor fraterno” (1)

(1) Comentário do Missal Cotidiano sobre a passagem do Livro do Profeta Jeremias (Jr 7,1-11) - Edições Paulinas - pág. 1069

 

O perigo da cultura do imediatismo

O perigo da cultura do imediatismo

Entre tantas virtudes que devemos cultivar, a paciência é uma das mais importantes.  Virtude do ser humano que consiste na disposição de suportar a adversidade de forma voluntária, enquanto se espera algo bom e melhor.

Mas como sermos pacientes se somos bombardeados pela cultura do imediatismo, que consiste no “alcançar ontem o que queremos hoje”; se basta pararmos um pouco diante das propagandas publicitárias e perceberemos os apelos explícitos e implícitos para o consumo, à satisfação imediata, à voracidade do consumo, às pseudonecessidades?

Mais grave ainda, quando esta cultura passa a determinar nossas relações na família, na Igreja e na sociedade, levando-nos à impaciência de ouvir, esperar, silenciar, acolher o outro com seus problemas e sentimentos.

A cultura do imediatismo sacrifica a virtude da paciência, e faz suas vítimas, influenciando grandemente até mesmo no modo de vivermos nossa relação também com Deus.

Queremos uma religião que nos traga respostas e soluções imediatas: cura, milagres, espetáculo, emoção instantânea (ainda que passageira), prosperidade com matizes de individualismo, relativizando o poder redentor que a Cruz tem.

Renovemos o nosso ardor na promoção da cultura da vida, para não nos curvarmos à cultura do imediato e seus apelos consumistas e individualistas, pois não podemos permitir que o império do imediato sufoque e mate precipitadamente tantas sementes que silenciosamente foram plantadas, cultivadas e nutridas pela força da Palavra de Deus e da linfa vital do Seu Amor presente na Eucaristia.

Ressoem em nosso coração, entre tantas, duas belas Parábolas do Divino Mestre, Jesus, expressão da suprema paciência de Deus com a humanidade, sobretudo com os pecadores, para que se convertam e vivam: a Parábola do joio e do trigo, que retrata a necessária paciência no semear o bem, apesar do mal que também pode ser semeado; e também a Parábola da semente que germina por si só secretamente para produzir frutos no tempo certo, (Mt 13,24-30 e Mc 4,26-29, respectivamente).

Cultivando e amadurecendo a virtude da paciência, sem imediatismos estéreis, façamos florescer e frutificar novos tempos, novas relações, novo modo de viver, superando a cultura do imediatismo e suas trágicas consequências.

“Nosso coração se dilatou”

                                                   


 

“Nosso coração se dilatou”

 

“Pois aquele que é amado, sem temor

 passeia no íntimo do coração do que ama”

 

A Liturgia das Horas nos apresenta uma homilia do bispo São João Crisóstomo (séc. IV), sobre a segunda Carta de Paulo aos Coríntios, possibilitando-nos uma reflexão sobre a verdadeira caridade.

 

Nosso coração se dilatou. Aquilo que produz calor costuma dilatar. Assim é próprio da caridade dilatar, pois é uma virtude cálida e fervente.

Ela abria também a boca de Paulo e lhe dilatava o coração. 'Não amo só de boca, diz ele; meu coração, em verdade, harmoniza-se com o amor; por isso falo confiante, com toda a voz e toda a mente'.

Nada mais amplo do que o coração de Paulo que, à semelhança de um enamorado, abraçava a todos os fiéis com intenso amor, sem dividir e enfraquecer a amizade, mas conservando-a indivisa.

Que há de admirar ser assim em relação aos homens piedosos, se até aos infiéis da terra inteira seu coração os abraçava?

Por isto não diz apenas 'Amo-vos', mas faz com maior ênfase: Nossa boca se abre, nosso coração se dilata. 

Guarda-os a todos dentro de nós e não de qualquer jeito, mas com imensa amplidão.

Pois aquele que é amado, sem temor passeia no íntimo do coração do que ama.

Assim diz: Não estais apertados em nós, mas sim em vossos corações.  Vê a censura temperada com a não pequena indulgência. Isto é bem de quem amaNão disse: 'Vós não me amais', e sim: 'Não do mesmo modo'. De fato, não queria atormentá-los com maior severidade.

Em várias passagens, extraindo textos de cada epístola sua, pode-se ver de que amor incrível ardia para com os fiéis.

 

Aos romanos escreve: Desejo ver-vos: e muitas vezes fiz o propósito de ir até vós; e, também: Se de qualquer modo puder ir fazer-vos boa visita.

Aos gálatas escreve: Meus filhinhos, aos quais gero de novo; e aos efésios: Por esta razão dobro meus joelhos por vós.

E aos tessalonicenses: Qual a minha esperança ou gáudio, ou coroa da glória? Não sois vós? Dizia também carregá-los em suas cadeias e em seu coração.

Igualmente aos colossenses, escreve: Desejo que vejais vós e aqueles que ainda não viram meu rosto, a grande luta que sustento por vós, para que vossos corações se fortaleçam.

Aos tessalonicenses: À semelhança de uma mãe que acalenta seus filhos, assim amando-vos, desejávamos vos dar não só o Evangelho, mas nossas vidas. Não estais apertados em nós.

Não diz apenas que os ama, mas que é amado por eles, para deste modo atraí-los melhor. Pois assim escreve: Tito chegou e contou-nos vosso desejo, vossas lágrimas, vosso zelo”.

Notável o enamoramento do apóstolo por Jesus Cristo, fazendo de Cristo a razão de seu viver, e sua vida foi transformada; fez deste amor fonte de relacionamento amoroso com as comunidades fundadas e acompanhadas.

Somente nutridos da Fonte do amor, enamorados por Ele, é que chegaremos à maturidade do amor pela Igreja que somos.

Invoquemos o fogo do Espírito, para que aqueça e dilate nosso coração; e assim, “os amados” de Deus, no íntimo d’Ele passeiem sem medo algum, como nos falou São João Crisóstomo.

Reflitamos:

- Sinto-me enamorado por Cristo?

- A caridade dilata meu coração para que nele caibam os irmãos e irmãs da comunidade que faço parte?

- Como vivencio este amor por Cristo em relação a Sua Igreja?

- O que significa para mim a comunidade que participo?

 

- O que mais me toca ao contemplar o testemunho de Paulo em relação a Cristo e a Sua Igreja?

Concluindo, no coração onde o amor está presente, alargado e redimensionado fica, para amar na mesma medida de Deus: um \mor verdadeiramente imensurável!

 

Pacientes e misericordiosos sejamos

                                                

Pacientes e misericordiosos sejamos

A Liturgia da Palavra do sábado da 16ª Semana do Tempo Comum nos apresenta a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13, 24-30).

Através desta Parábola, contemplamos o ser de Deus, que é paciente, cheio de misericórdia, indulgente e clemente.

Urge que saibamos silenciar para a contemplação da face e do ser divino, que Se manifesta na misericórdia, que faz chover sobre bons e maus.

A Parábola que ouvimos na passagem, favorece a nossa conversão e o nosso crescimento espiritual, pois nos questiona, exorta, anima, ensina, fortalece a fé e nos leva ao mergulho tão necessário dentro de nós mesmos.

É como injeção de ânimo, de esperança e renovação de compromissos com o Reino de Deus, e ao mesmo tempo convida-nos ao cuidado,   multiplicando na vigilância, a oração, o diálogo, o silêncio, pois dentro de cada um de nós pode muito bem coexistir uma belíssima plantação de trigo, mas sufocada pela indesejável plantação do joio, sem culpar terceiros.

Sendo assim, expulsemos todo o desânimo, a apatia, a indiferença, os prejulgamentos, os preconceitos. Creiamos na força da Palavra, que acolhida no mais profundo de nós, em chão fértil, frutos abundantes jamais faltarão.

Abandonemos toda a atitude simplista de condenação, porque de joio e de trigo todos temos um pouco. Cuidado haveremos de tomar de não excomungar, excluir, extirpar, eliminar o pecador junto com seu pecado.

Seja a paciência a expressão da confiança na Misericórdia Divina e na esperança de que todos temos de ser melhores.

Mais paciência e misericórdia (não como sinônimo de conivência), menos julgamento e condenação, nos farão comunidades mais pascais, evidentemente zelando pelo amadurecimento e crescimento do testemunho, sem jamais esvaziar e mutilar a Palavra Divina e sem negar e contratestemunhar a Eucaristia que celebramos - Mistério de Amor e Comunhão. 

Paciência e misericórdia divinas

                                                         

Paciência e misericórdia divinas

A Liturgia da Palavra do sábado da 16ª Semana do Tempo Comum nos apresentará a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13, 24-30).

Algumas passagens bíblicas, de modo especial os Salmos, parecem oferecer uma concepção de um Deus impaciente, que queima as etapas, em que os apelos à vingança são bastante frequentes (1Rs 18,40; SI 82 e 108).

Mas há outras passagens mais importantes que desmentem essa impressão, e podemos afirmar que a Escritura é o Livro da paciência divina, que sempre adia o castigo do seu povo (Ex 32,7-14).

Os Profetas falam da cólera de Deus, que não é o último e definitivo momento da manifestação divina: o perdão sempre vence.

A Bíblia nos apresenta Javé, rico em graça e fidelidade, e sempre pronto a retirar Suas ameaças, quando Israel volta novamente ao caminho da conversão (Sb 12,12.16-19).

O Profeta Elias, cheio de zelo, em experiência pessoal, compreende que Deus não está no furacão ou no terremoto; Ele Se apresenta na brisa leve, no sopro do vento mais delicado (1Rs 19,9-13).
No Novo Testamento, os Apóstolos Tiago e João são censurados por causa de seu desejo de fazer cair raios sobre os samaritanos que não acolhem Jesus (Lc 9,51-55; Mt 26,51).

Esta foi a Boa-Nova do Reino inaugurada por Jesus, anunciada a todos e, de modo especial para os pecadores, sem exclusão de ninguém no Seu Reino: todos são a ele chamados, todos podem aí entrar.

Em todos os momentos, Jesus encarnou e viveu a paciência divina, e nisto consiste a missão da Igreja, Corpo de Cristo, encarnar entre os homens a paciência de Jesus.

Como Igreja, temos que revelar no mundo a verdadeira face do amor, sem jamais destruir as pontes de comunicação com a força misericordiosa de Deus, como vemos no Evangelho (Mt 13,24-43).

Vejamos o que nos diz o Comentário do Missal Dominical:


“Na terra, o trigo está sempre misturado com o joio, e a linha de demarcação entre um e outro não passa pelas páginas dos registros paroquiais ou pelas fronteiras dos países; está no coração e na consciência de cada homem. Deve-se sempre recordar que a separação entre os bons e os maus só será feita depois da morte”.(1)

Aprendamos com Deus a viver a divina paciência diante das dificuldades do mundo, com os que pensam e agem diferente de nós.

Ela é alcançada quando nos reconhecemos diante de Deus como frágeis criaturas modeladas pela Mão Divina, e nos configuramos a Jesus Cristo, que Se apresentou a nós manso e humilde de coração.

Cabe a Deus o julgamento final, não nos cabe catalogar as pessoas entre trigo e joio. Ao contrário, é preciso que nosso coração seja entranhado pela misericórdia e paciência divina, para que sejamos puro trigo de Deus em Sua seara.

Somente a abertura e acolhida do Espírito e a vivência da Palavra que Jesus nos comunicou, nos farão verdadeiramente puros trigos de Deus.


(1) Missal Dominical – Editora Paulus - pág. 749. 

Muito mais do que uma fábula

                                                          

Muito mais do que uma fábula

Houve uma reunião com todos os animais, e cada um deles deveria dizer o que tinha de específico, que o identificasse diante dos humanos, e que despertasse o coração até mesmo dos mais insensíveis. Foi lavrada uma ata para que tomássemos conhecimento.

Vamos então ouvir a ata:
“Aos vinte dias do mês de julho de dois mil e onze, começou a reunião com todos os animais da floresta. Após longa espera pelos últimos, foi dada a palavra a quem quisesse dizer o que o caracteriza cada um diante dos olhos humanos.

O primeiro a tomar a palavra foi o coelho:
— “Sou ágil, rápido. Nada pode me acompanhar. Admiram-me pela rapidez e também pela fertilidade. Claro que tenho também outras qualidades, como também limitações. Nenhum animal é perfeito, bem sabemos.”

O segundo foi a águia:
— “Faço voos altos. Contemplo as coisas lá de cima. Minhas asas me sustentam em voos invejáveis. Muitos ficam olhando para minhas manobras. Como o coelho, também tenho outras qualidades; meu processo de renovação e prolongamento da vida, mas também tenho limitações. Nenhum animal é perfeito, bem sabemos.”

Em seguida, um peixe por um momento apontou no mar e gritou bem alto:
— “Também faço parte desta reunião. Não posso ficar muito tempo fora da água, terei que ser breve. Mergulho nas profundezas do mar, conheço coisas que muitos animais não conhecem. Não tenho tempo para descrevê-las, quanto mais profundo o mergulho mais coisas posso revelar.”

Quando começou a falar de suas limitações (e  uma delas é não poder ficar muito tempo fora da água), mergulhou novamente no mar. Se tempo tivesse com certeza diria: “nenhum animal é perfeito, nós peixes, também aqui o sabemos”.

Depois de um longo silêncio a tartaruga falou de sua especificidade, de como é conhecida pelos humanos, sua lentidão e sua vida longa (décadas). Mas a reunião tinha tempo limitado, e como havia muitos animais, nem todos puderam falar. A tartaruga nem tempo teve de falar sobre suas naturais limitações; mal pode se esquivar como os demais e nos ensinar dizendo: “Nenhum animal é perfeito, bem sabemos”.

Não havendo mais tempo para outros pronunciamentos, foi encerrada a reunião e para constá-la...”

Fábula? Muito mais do que uma fábula.
Como Igreja, temos muito que aprender com esta fábula. Somos diferentes, como os animais nos falaram. Temos nossas especificidades, nossas virtudes e limites. As diferenças se tornam nossas riquezas. Um só é o Espírito, diversos os dons, ministérios e carismas como nos falou o Apóstolo Paulo (1Cor 12 e Ef 4).

Assim é a Igreja, uma comunidade de eleitos, cada um podendo dar o melhor de si com amor para que o Reino de Deus aconteça.

Temos que aprender com o coelho a agilidade e a fecundidade. Há coisas que não podem ser morosas — o amor, a caridade, a solidariedade, o perdão, a partilha, a alegria, a comunhão, a fidelidade, a doutrina... Fecundidade do Espírito — quando a Ele nos abrimos não nos faltam respostas aos desafios da pós-modernidade. Urge que sejamos fecundados pela ação do Espírito para fazer frutificar a Semente do Evangelho.

Aprender com a águia a fazer voos mais altos, sondando as alturas divinas com a ajuda do Espírito. Buscar as coisas do alto onde Deus Se encontra (Cl 3,1). Buscar o amor, a verdade, a justiça, o direito, a paz, a fraternidade, a liberdade, o respeito, a defesa da vida e sua beleza sacral, bem como da Terra, a nossa Casa Comum, numa necessária ecologia integral.

Como os peixes, mergulhar nas profundezas dos Mistérios Divinos. Mergulhar profundamente no Mistério do Amor Trinitário, como diz aquele belíssimo canto “quero mergulhar nas profundezas do Espírito de Deus, descobrir suas riquezas, em meu coração...”. Fazer o mais desafiador e necessário mergulho dentro de nós mesmo para Deus encontrar. Afinal, Ele quis habitar no mais profundo de nós; somos Seu templo, Sua morada, e Ele o nosso mais Belo Hóspede...

Aprender com as tartarugas! “Mas é lenta demais”, dirão. Mas assim é a Igreja, assim são as “coisas” divinas, assim é o Reino de Deus como muito bem vemos nas Parábolas de Jesus (Mt 13) e no Salmo 85. Deus é assim conosco: lento na ira, paciente e misericordioso.

Ele espera pacientemente nossa conversão, pois somos lentos em construir vínculos verdadeiramente fraternos, lentos ao perdoar, lentos em compreender as imperfeições do outro, como se fossemos a medida da perfeição.

Paciência, pois o joio e o trigo crescem juntos (cf. Mt 13,24-30) e Deus, no tempo oportuno, fará a colheita, ou ainda, fará a separação dos peixes bons e ruins... Não nos cabe julgar, rotular, classificar, excluir ninguém da Misericórdia e Salvação Divina.

Acolhida a fábula, poderíamos nos colocar em atitude de revisão de nosso caminhar.

Reflitamos:

- O que ela nos diz?
- Em que temos que nos converter e melhorar?

Precisamos ter coragem para olharmos para nós mesmos, para nossa comunidade e, com misericórdia, fazermos as mudanças necessárias para melhor o Reino servir, a ponto de podermos dizer:

O Reino de Deus é nossa maior riqueza, nossa mais bela pérola, nosso mais belo tesouro...”. 

Aprendamos com a Parábola do joio e do trigo

                                                         

Aprendamos com a Parábola do joio e do trigo

No sábado da 16ª Semana do Tempo Comum, ouviremos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13,24-30) sobre a Parábola do trigo e do joio.

Vejamos o que nos disse Santo Agostinho em duas citações:

“Os maus existem no mundo ou para que se convertam, ou para que por eles, os bons, exercitem a paciência”;

 “Se há alguém que errou, que no próximo encontro ele possa ver em nossos olhos que estamos reconciliados com ele, que não o condenamos mais, porque a Palavra de Deus nos fez cair o gadanho da mão” .(1)

Podemos afirmar que a Parábola do joio e do trigo é um apelo à humildade e à misericórdia que se irradia. É um compromisso concreto que assumimos ao celebrar a Eucaristia dentro e fora da comunidade:

Tomemos consciência de que todos nós somos trigo e joio ao mesmo tempo. Apenas Jesus foi o puro trigo, sem joio algum, ou seja, não conheceu o pecado, ao contrário, o destruiu.

Jesus é o grão que um dia caiu na terra e morreu. Um grão que foi transformado em Pão Eucarístico, que vem a nós e Se entrega por nós como Salutar Alimento, para que nos tornemos trigos de Deus.



(1) “O Verbo Se fez carne” – Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria - 2013 - p. 157 

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