terça-feira, 3 de setembro de 2024

Anunciar a Palavra do Senhor: graça a nós confiada (06/02)

 


Anunciar a Palavra do Senhor: graça a nós confiada

Sejamos enriquecidos pelo Sermão n. 17 de São Gregório Magno (séc VI), sobre o ofício da pregação:

Não leveis dinheiro, nem sacola, nem sandálias; e não saudeis a ninguém pelo caminho. O pregador deve ter tanta confiança em Deus que, mesmo que não se aprovisione do necessário para a vida presente, esteja, contudo, muito seguro de que nada lhe faltará; não ocorra que, por ter a atenção centrada nas coisas temporais, descuide de prover aos demais as realidades eternas.

Quando entreis em uma casa, dizei primeiro: Paz a esta casa. E se ali houver pessoas de paz, descansará sobre eles vossa paz; se não voltará para vós. A paz que se oferece pela boca do pregador, ou repousa na casa, se nela existem pessoas de paz, ou volta ao próprio pregador; porque ou terá ali algum predestinado para a vida que colocará em prática a palavra celestial que ouve, ou, se ninguém quiser ouvir, o próprio pregador não ficará sem fruto, porque a ele retorna a paz, uma vez que o Senhor lhe recompensará, concedendo-lhe a recompensa pelo trabalho realizado.

E vede como aquele que proibiu levar sacola e dinheiro concede os meios necessários de subsistência através da própria pregação, pois acrescenta: Ficando na mesma casa, comei e bebei daquilo que tiverem: porque o trabalhador merece o seu salário. Se nossa paz é aceita, justo é que fiquemos na mesma casa, comendo e bebendo daquilo que tenham, e assim recebamos uma retribuição terrena daqueles a quem oferecemos os prêmios da pátria celestial. Deste modo, a recompensa que se recebe na vida presente deve estimular-nos a aspirar com mais entusiasmo a recompensa futura.

Por isso, um pregador já experimentado não deve pregar nem receber a recompensa nesta terra, mas deve receber a paga para poder continuar pregando. Porque quem prega para receber a recompensa aqui, em honra ou em moeda, priva-se indubitavelmente da recompensa eterna. Porém, quem prega buscando agradar aos homens para atraí-los com suas palavras ao amor do Senhor, não ao seu próprio, ou recebe uma retribuição para não acabar extenuado no ministério da pregação por causa de sua pobreza, este certamente receberá a sua recompensa na pátria celestial, porque durante sua peregrinação somente recebeu o estritamente necessário.

E o que nós fazemos, ó pastores, que não só recebemos a recompensa, mas ainda por cima não somos operários? Recebemos, já o creio, os frutos da santa Igreja para nosso sustento cotidiano, e, contudo, não nos aplicamos a fundo na pregação em benefício da Igreja eterna. Pensemos qual será a penalização subsequente ao fato de ter recebido um salário sem ter completado a jornada laboral. Vejam, nós vivemos das oferendas dos fiéis; e o que fazemos por suas almas? Invertemos em gastos pessoais aquilo que os fiéis ofereceram para remissão de seus pecados, e, no entanto, não nos esforçamos, como seria justo, em lutar com dedicação para a oração ou para a pregação contra esses mesmos pecados.”

Ao Presbítero é confiada pela Igreja, a graça de anunciar a Palavra do Senhor, cumprindo a sua missão de ensinar, bem como também santificar o Povo de Deus a ele confiado.

Elevemos a Deus orações para que cumpra com zelo esta missão, com a participação de inúmeros cristãos leigos e leigas, numa expressão autêntica de sinodalidade que sempre necessária.

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pág. 426-428

PS: oportuno para aprofundamento da passagem do Evangelho de Marcos (Mc 6,7-13)

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG