“Os profetas se tornaram nossos olhos”
Em seu Tratado sobre o fim dos tempos, o Bispo Santo Hipólito de Roma (séc. III) nos fala sobre a vocação e a missão dos Profetas.
“Os profetas se tornaram nossos olhos porque previram na fé o Mistério do Verbo. De fato, anunciam a sua posteridade as coisas futuras; a nós, porém, não somente nos anunciaram o que já tinha acontecido – como se tivessem sido profetas somente em função de uma só geração -, mas também nos anunciaram coisas que ainda aconteceriam em benefício de todos. Na verdade, devia ser chamado profeta quem realmente era profeta.
Todos estes homens, fortalecidos com o espírito de profecia e dignamente honrados pela própria Palavra de Deus, alguns deles unidos como as cordas da cítara tocada pela inspiração, nos anunciavam o que Deus queria. Pois não profetizaram nada por impulso próprio, com o propósito de enganar-te.
Nem pregavam o que queriam, mas, primeiramente e mediante a palavra, chegavam a uma reta inteligência, e depois, através de visões, eram ensinados a serem melhores. Desta forma, recebiam o mandato, expressavam corretamente a revelação que Deus fazia somente a eles. De outra forma, como poderiam profetizar como profetas?
O que previam do futuro sob o impulso do Espírito anunciavam a nós; e certamente não se limitavam a dizer coisas relativas ao passado, coisas que todo mundo podia ver, mas que realmente nos anunciaram o futuro. Por esta razão foram considerados profetas. Também por esta razão, já desde o princípio, os profetas foram chamados ‘previdentes’.
Instruídos por aqueles que dentre eles falaram corretamente, também nós pregamos. E não é que, baseados em nossa própria sabedoria, nos lancemos a divulgar coisas novas, mas as palavras que desde o princípio foram pronunciadas e escritas, nós as recebemos na plenitude dos tempos e as explicamos em benefício daqueles a quem foi dado crer retamente, a fim de que sirvam a ambos de utilidade comum: para aqueles que são atentos lhes manifestemos corretamente as coisas futuras, e para aqueles que escutam as nossas palavras, lhes manifestamos a força das máximas proféticas”. (1)
Também pelo batismo, recebemos a graça de sermos profetas, e com isto também a graça de também nos tornarmos como os profetas bíblicos mencionados pelo Bispo - “Os profetas se tornaram nossos olhos porque previram na fé o Mistério do Verbo”.
Em todo o tempo somos chamados, a exemplo dos profetas, sermos “previdentes”, relendo o presente e passado à luz da fé, a fim de que construamos um futuro marcado em que todos tenhamos vida plena, abundante e feliz, sempre iluminados pela Palavra de Deus, na fidelidade aos Ensinamentos da Igreja.
Hoje e sempre é preciso que sejamos profetas, com olhares de esperança e confiança num novo amanhecer, iluminados pela fé, sobretudo nas situações mais adversas e sombrias.
(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – p. 630-631
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