terça-feira, 23 de julho de 2024

O Perdão e as três dimensões do tempo

                                                    

O Perdão e as três dimensões do tempo

Reflexão à luz da passagem do Livro de Miqueias (Mq 7,14-15.18-20), em que nos apresenta as últimas palavras do Livro de Miqueias, com tom de súplica e louvor dirigidos ao Senhor, e note-se que primeiro Deus é invocado como Pastor (vv.14-15), e depois como tão somente Aquele que pode perdoar.

A primeira invocação aparece em várias passagens bíblicas (Sl 23; Ez 34; Jo 10). 

Voltemo-nos para a segunda: Deus não somente é Pastor, mas o Profeta revela que o “o perdão é prodígio maior por ser capaz de extirpar o mal do coração do homem” (1).

O salmista no Salmo responsorial (Sl 84,2-8), por sua vez, retrata em poucos versículos a consciência do pecado do povo. Note-se que nos apresenta as três dimensões do tempo: “o passado dos benefícios realizados por Deus; o presente da súplica para que cesse a ira do Senhor; e o futuro da esperança numa vida e numa alegria renovada” (2).

Assim é Deus: um Pastor que ama, cuida, ouve a prece do rebanho, e Seu perdão é sempre imenso e gratuito e ampara nossa esperança de dias melhores, porque envolvidos e renovados por Sua misericórdia.

Assim acontece quando pecamos: se tomarmos consciência de nosso pecado, imediatamente nos acompanhará a memória de inumeráveis sinais que expressam a bondade e o amor de Deus para conosco; sentimo-nos com a consciência contrita, e suplicamos o perdão de Deus, como possibilidade de uma nova vida, um novo modo de ser e de se relacionar.

Uma vez que o autêntico perdão de Deus é buscado, e acompanhado de compromissos sinceros de conversão permanente e novas atitudes (sobretudo no Sacramento da Penitência, um dos Sacramentos de Cura que a Igreja nos oferece), sentimos o transbordar de uma indizível e incontida alegria, como encontramos nas três Parábolas da misericórdia, do Evangelho de São Lucas (Lc 15).

Como vemos, o autêntico perdão divino nos faz viver as três dimensões do tempo, e somente Deus pode assim fazer. 

Somente um Deus que nos ama assim, com fidelidade irrenunciável, sempre pronto a perdoar e acreditar, nos permite construir um novo amanhecer, sem guerras, atentados, banalização da vida, corrupção, violência, ou quaisquer outros sinais menores ou maiores que firam e maculem a beleza da vida, de sua sacralidade, quer da humanidade (de sua concepção ao seu declínio natural), quer do mundo em que habitamos, o planeta terra, nossa casa comum.

(1) (2) Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - pag.780.

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