domingo, 30 de junho de 2024

“A tríplice confissão apaga a tríplice negação..."

 


“A tríplice confissão apaga a tríplice negação...”

À luz dos Tratados sobre o Evangelho de São João, do Bispo Santo Agostinho (Séc. V), reflitamos sobre a força do amor que vence o temor da morte.
 
“O Senhor interroga sobre o que já sabia, não só uma vez, mas duas e três vezes: se Pedro o ama. De todas as vezes, ouve uma só resposta, que Pedro o ama. E, em todas elas, confia a Pedro o pastoreio de suas ovelhas.
 
A tríplice confissão apaga a tríplice negação, para que a língua não sirva menos ao amor do que ao temor; e não pareça que a iminência da morte o obrigou a falar mais do que a presença da vida. Seja serviço de amor apascentar o rebanho do Senhor, como foi prova de temor negar o pastor.
 
Quem apascenta as ovelhas de Cristo, como se fossem suas, não ama a Cristo mas a si mesmo.
 
Contra esses, que também o Apóstolo censura dizendo que procuram os próprios interesses e não os de Cristo, estas palavras que o Senhor repete insistentemente são uma séria advertência.
 
Então que quer dizer: Tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas (Jo 21,17) senão: Se me amas, não penses em te apascentar a ti mesmo, mas as minhas ovelhas; apascenta-as, considerando minhas, não tuas; procura nelas minha glória, não a tua; meus interesses, não os teus; não sejas daqueles que nos tempos de perigo só amam a si mesmos e tudo o que deriva deste princípio, que é a raiz de todo mal.
 
Os que apascentam as ovelhas de Cristo, não amem a si mesmos; não as apascentem como sendo próprias, mas como pertencentes a Cristo.
 
O defeito que mais devem evitar os que apascentam as ovelhas de Cristo consiste em procurar os próprios interesses e não os de Jesus Cristo, destinando ao proveito próprio aqueles por quem Cristo derramou o seu sangue.
 
O amor de Cristo deve crescer até atingir tal grau de ardor espiritual naquele que apascenta as suas ovelhas, que supere até mesmo o natural medo da morte, que nos leva a não querer morrer, ainda que queiramos viver com Cristo.
 
Contudo, por maior que seja o temor da morte, deve vencê-lo a força do amor com que se ama Aquele que, sendo nossa vida, quis sofrer até a morte por nós.
 
Na verdade, se não houvesse ou fosse insignificante o mal da morte, não seria tão grande a glória dos mártires. Mas, se o Bom Pastor, que deu a vida por suas ovelhas, suscitou tantos mártires entre as suas ovelhas, quanto mais não devem lutar pela verdade até à morte, e até o sangue, contra o pecado, aqueles que receberam o encargo de apascentá-las, isto é, de instruí-las e dirigi-las?
 
Por este motivo, diante do exemplo da paixão de Cristo, e ao pensar em tantas ovelhas que já o imitaram, quem não compreende que os pastores devem ser os primeiros a imitar o Pastor? Na verdade, os mesmos pastores são também ovelhas do único rebanho, governado pelo único Pastor. De todos nós ele fez suas ovelhas, por todos nós padeceu; para padecer por todos nós, ele mesmo se fez ovelha”.
 
“A tríplice confissão apaga a tríplice negação”, assim aconteceu com Pedro. Também nós precisamos permanentemente declarar nosso amor pelo Senhor, superando possível “negação”, com nossas infidelidades e pecados.
 
Urge rever nossos caminhos, palavras, pensamentos e atitudes, a fim de que sejamos autênticas testemunhas do Cristo Ressuscitado.
 
Renovemos em nós a força do amor que vence o temor da morte, bem como a nossa fé no Senhor, que conosco caminha, ainda que não percebamos.
 
A exemplo de Pedro, renovemos em nós a chama do primeiro amor, para vencermos as dificuldades e tentações do quotidiano, em plena fidelidade ao Senhor, como rezamos na oração que Ele mesmo nos ensinou:
 
“Pai Nosso, que estais nos céus... Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.”


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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG