quarta-feira, 24 de julho de 2024

Palavra do Senhor: escutar e viver

                                                            

Palavra do Senhor: escutar e viver

Para aprofundamento da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13,1-23), acolhamos o Sermão do Papa e Doutor da Igreja São Gregório Magno (séc. VI).

“Retenham em vosso coração as Palavras do Senhor que escutastes com os vossos ouvidos; porque a Palavra de Deus é o alimento da alma; e a palavra que se ouve e não se retém na memória é precipitada como o alimento, quando o estômago está mal; mas preocupa-se com a vida de que não retém os alimentos no estômago.

Vede que tudo o que fazeis passa, e cada dia, quer queirais ou não, vos aproximais mais ao último juízo, sem nenhum perdão de tempo. Então, por que se ama o que se vai abandonar?

Por que não se dá importância sobre o fim aonde se vai chegar? Lembrai-vos de que se diz: ‘Se alguém tem ouvidos para ouvir, que ouça’. Todos os que escutavam ao Senhor tinham os ouvidos do corpo; mas aquele que diz a todos os que têm ouvidos: ‘Se alguém tem ouvidos para ouvir, que ouça’, não há dúvida alguma que se referia aos ouvidos da alma.

Procurai, portanto, guardar no ouvido de vosso coração a palavra que escutais. Procurai que a semente não caia à beira do caminho, não aconteça que venha o espírito maligno e arrebate a palavra de vossa memória.

Procurai que se a semente não caia em terra pedregosa e produza o fruto das boas obras sem as raízes da perseverança. A muitos lhe agrada o que escutam, e se propõem a fazer o bem; mas assim que começam a serem molestados pelas adversidades abandonam as boas obras que tinham começado. A terra pedregosa não teve seiva suficiente, porque o que tinha germinado não o levou até o fruto da perseverança.

Existem muitos que, quando ouvem falar contra a avareza, a rejeita, e exaltam o menosprezo das coisas deste mundo; mas assim que a alma vê uma coisa que desejar, esquece daquilo que louvava.

Existem também muitos que, quando ouvem falar contra a impureza, não somente não desejam saciar-se com as imundícias da carne, mas até se envergonham das máculas com as quais se mancharam; mas assim que a sua vista se apresenta a beleza corporal, de tal forma é o coração arrastado pelos desejos, como se nada houvesse feito nem determinado contra estes desejos, e realiza o que é digno de condenar-se, e, que ele mesmo havia condenado ao recordar que o havia cometido.

Muitas vezes nos contristamos por nossas culpas e, contudo, voltamos a cometê-las depois de já tê-las chorado”

Assim devemos fazer: guardar no ouvido do coração a Palavra de Deus que lemos, ouvimos ou meditamos e, sobretudo quando proclamada na Mesa da Palavra.

Quando elas entranham os ouvidos da alma, devem ser postas em prática, pois tão somente assim poderemos nos céus entrar, como bem nos disse o Senhor: somente quem ouvir Sua Palavra e a puser em prática é que entrará no Reino dos Céus (Mt 7,21).

Não podemos ser meros ouvintes da Palavra, mas devemos nos empenhar, com a graça de Deus, para colocá-La em prática.
Não ocorra que a Palavra caia como chuva em nosso coração, e seja como a mais bela chuva sobre as pedras, que por mais abundantes que sejam, não as tornarão fecundas.

Que os ouvidos do nosso coração sejam abertos e fecundos à Palavra de Deus, para que, através de nosso discipulado produza os frutos por Deus esperados.



Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – p. 176-177

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