Alegria da missão e da vocação profética
“A missão de Jesus é a nossa missão”
A Liturgia da Palavra do 15º Domingo do Tempo Comum (ano B), convida-nos a refletir sobre a vocação profética que é um dom de Deus.
Com a passagem da primeira Leitura (Am 7,12-5), refletimos sobre a vocação e a corajosa atuação do Profeta Amós, que foi chamado por Deus, quando envolvido estava por suas atividades de pastor de gado e cultivador de sicômoros.
Amós não é um Profeta convencional, profissional e não vive da profecia. Para ele, viver a vocação profética é a mais bela expressão de confiança e compromisso com o Projeto de Deus, que estava sendo desvirtuado através da prática da injustiça, violação do valor sagrado do culto, e do triste empobrecimento de tantos à custa do luxo e da suntuosidade de poucos.
A vocação profética é sempre um risco e pode ser acompanhada de rejeição e expulsão. Sendo o Profeta a autêntica voz de Deus muitas vezes tentarão calar sua voz, como aconteceu com Amós.
Entretanto como bem diz o refrão de um canto – “se calarem a voz dos Profetas, as pedras falarão” – Amós não se calou e levou a termo sua missão apontando a infidelidade e as indesejáveis e trágicas consequências que viriam pouco mais tarde.
A passagem da segunda Leitura (Ef 1, 3-14) é um hino Paulino de riqueza imensurável. Uma passagem bíblica que deve ser lida e relida incontáveis vezes. Em forma de hino e Oração, Paulo oferece uma síntese doutrinal de toda a Carta.
Ele nos fala do Mistério Divino que se revela na história em diversos momentos: na criação por meio de Jesus Cristo; através dos Profetas Deus também Se revelou e instruiu a humanidade; na plenitude dos tempos Se revelou enviando o próprio Filho; Se revelou pela Palavra Encarnada, anunciada, crucificada, ressuscitada; Se revela na ação e missão da Igreja, até que possamos alcançar a glória da eternidade.
É próprio do Amor de Deus revelar-se, dar-se a conhecer a quem se abre à Sua ação e presença. E ainda mais, Paulo nos fala que Deus desde o princípio nos predestinou e nos criou para sermos Santos e irrepreensíveis no amor para com Ele.
Deste modo, a vida cristã consiste em rejeitar o que não for digno para o cristão e abraçar tudo o que for digno deste nome. Nisto também consiste uma vida profética: saber discernir o que é bom e justo, santo e verdadeiro daquilo que não é bom e nos torna impermeáveis a graça e ao Amor transbordante de Deus para conosco, porque mergulhados na vida do pecado, escuridão e desamor.
Na passagem do Evangelho (Mc 6,7-13), Jesus, Profeta do Pai por excelência, envia os discípulos dois a dois para pregar a Boa Nova do Evangelho, anunciando a conversão, mudança de mentalidade e atitudes para a acolhida da chegada do Reino.
Não somente envia, mas lhes confere o poder que tem junto do Pai para expulsar demônios, curar os enfermos, inaugurar relações novas de vida e liberdade.
Há, porém, algumas exigências que devem marcar a vida dos discípulos do Senhor:
- a alegria da missão por Ele confiada;
- o despojamento;
- a pobreza;
- a simplicidade;
- a liberdade total diante de tudo e de todos;
- a confiança incondicional no poder e na providência divina;
- a maturidade para suportar a rejeição e as adversidades.
Assim afirma o Missal Dominical:
“Quem anuncia não deve ter nada que pese, deve ser leve e desembaraçado, não tanto de alforje e capa, mas antes, livre de interesses humanos, de ideologias a defender, de compromissos com as potências deste mundo. Essas coisas não lhe permitem estar livre, condicionam-no, embaraçam-lhe o trabalho, enfraquecem-lhe o zelo, impedem-no de merecer crédito”.
Aprendamos com os Apóstolos, os Santos e tantos quantos que deram testemunho de sua fé, que sem paixão por Jesus, fascínio por Ele e pelo Reino, não há apostolado, não há missão e tão pouco profecia.
Ninguém é Profeta por iniciativa própria, mas a vocação profética é prerrogativa divina. Em cada tempo Deus suscita Profetas para serem Sua voz, Sua Palavra, a vibração de Suas cordas vocais.
No coração do mundo, o Profeta é o pulsar do coração de Deus, sua missão consiste em ajudar a construir relações que estejam em perfeita sintonia com o Projeto Divino.
A missão do Profeta não é fácil. Ele é alguém que antes de tudo escuta a Palavra de Deus, acolhendo-a no mais profundo de si mesmo para anunciá-la e testemunhá-la com credibilidade.
O Profeta tem a missão de tornar a vida uma bela canção, uma bela melodia, em perfeito tom e sintonia com o Projeto divino, na mais bela harmonia, um canto novo de alegria, vida, justiça e paz:
“Não só a Igreja na sua totalidade, mas também cada cristão deve sentir-se escolhido pessoalmente, chamado e enviado: cada um de nós faz parte de um projeto cósmico, a construção do Reino de Deus. O grande pecado seria sentirmo-nos sozinhos ou sentirmo-nos inúteis” (1)
Reflitamos:
- Como vivo a vocação profética recebida no dia do meu Batismo?
- Quais são as vozes proféticas no tempo presente?
- Como procuro viver a santidade e a filiação divina?
- Qual é a missão que Jesus me confia?
- Sinto alegria em realizá-la?
- Onde e quando sinto a presença e ação de Deus se revelando em minha vida?
É sempre tempo de reavivar a chama profética, crepitar ardente no coração, para que a alegria da missão torne visível o quanto nos configuramos ao Senhor, e assim geremos e formemos Cristo em nós e nos outros.
(1) Leccionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - pág. 714
Nenhum comentário:
Postar um comentário