Eucaristia:
Salutar Sacramento dos peregrinos do Senhor
Sejamos enriquecidos pelo Tratado sobre os Mistérios, escrito pelo bispo Santo Ambrósio (Séc. IV):
“Vemos que são maiores as obras da graça do que as da natureza. Entre as obras da graça, incluímos a graça da bênção profética. Se a bênção humana teve a força de mudar a natureza, que diremos da própria consagração divina, em que agem as palavras mesmas do Senhor e Salvador? Porque este sacramento que recebes se realiza pela palavra de Cristo. Se tanto pôde a palavra de Elias que fez o fogo descer do céu, não terá a palavra de Cristo o poder de mudar a substância dos elementos? Já leste acerca da criação do mundo inteiro que Ele falou e tudo foi feito, ele ordenou e tudo foi criado. Portanto a palavra de Cristo, que pôde do nada fazer o que não era, não poderá mudar o que existe para aquilo que não era? Dar novas naturezas às coisas não é menos do que mudá-las.
Mas por que apresentamos argumentos? Voltemo-nos para seus exemplos, confirmemos pelos mistérios da encarnação a verdade do mistério. Acaso, quando Jesus nasceu de Maria, foi observada a natureza comum? Normalmente, a mulher concebe pela união com o homem. Está, portanto, bem claro que a Virgem gerou fora da ordem natural. E este que consagramos é o corpo que proveio da Virgem. Por que exiges aqui que seja segundo a natureza, quando foi além da natureza que da Virgem se deu o nascimento do mesmo Senhor Jesus? É realmente a verdadeira carne de Cristo que foi crucificada, sepultada; é verdadeiramente o sacramento desta carne. O próprio Senhor Jesus declara: Isto é o meu corpo. Antes da bênção das palavras celestes era outra realidade; depois da consagração, entende-se o corpo. Ele mesmo diz que é seu sangue. Antes da consagração é outra coisa; depois da consagração, chama-se sangue. E tu dizes: ‘Amém’; o que quer dizer: ‘É verdade’. Confesse o nosso interior o que proclamam os lábios, sinta o afeto o que a palavra soa.
Vendo tão grande graça, a Igreja exorta seus filhos, exorta os amigos a que
acorram ao sacramento: Comei, amigos
meus, bebei e inebriai-vos, meus irmãos. O que comemos, o que bebemos, o
Espírito Santo pelo Profeta o exprimiu: Provai
e vede, como é suave o Senhor; feliz de quem n’Ele confia. Neste sacramento
está Cristo porque é o corpo de Cristo. Não é, por conseguinte, alimento
corporal, mas espiritual. O Apóstolo, falando da sua figura, dizia: Nossos pais comeram o pão espiritual e
beberam da bebida espiritual. O corpo de Deus é corpo espiritual; o corpo
de Cristo é corpo do espírito divino, porque Cristo é Espírito, como lemos: O Espírito diante de nossa face, o Cristo
Senhor. E na Carta de São Pedro encontramos: E Cristo morreu por vós. Por fim este pão fortalece o nosso coração
e esta bebida alegra o coração do homem;
assim nos lembra o Profeta.” (1)
O
Sacramento da Eucaristia é verdadeiramente a presença de Jesus Cristo, e ao
recebê-La, somos fortalecidos para o testemunho da fé, nosso coração se plenifica
de alegria, no carregar da cruz cotidiana, com suas renúncias necessárias:
“O primeiro anúncio
da Eucaristia dividiu os discípulos, tal como o anúncio da paixão os
escandalizou: «Estas palavras são insuportáveis! Quem as pode escutar?» (Jo 6, 60).
A Eucaristia e a
Cruz são pedras de tropeço. É o mesmo mistério e não cessa de ser ocasião de
divisão. «Também vos quereis ir embora?» (Jo 6, 67): esta pergunta do Senhor
ecoa através dos tempos, como convite do Seu amor a descobrir que só Ele tem
«Palavras de vida eterna» (Jo 6, 68) e que acolher na fé o dom da Sua
Eucaristia é acolhê-Lo a Ele próprio” (2)
Peregrinos da esperança sejamos, pela Eucaristia nutridos para o
bom combate da fé. Amém.
(1) Liturgia das Horas – Volume Tempo Comum III - pp.460-461
(2) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n.1336
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