“Jesus lhes dizia:
'Um profeta só não é estimado em sua pátria,
entre seus parentes e familiares'” (Mc 6,1)
Com a Liturgia do 14º Domingo do Tempo Comum (ano B), refletimos sobre o chamado que Deus faz para a realização de Seu Projeto de Salvação: Deus chama os pequenos e fracos e, através destes, manifesta a Sua força. Escolhe, acompanha e envia em missão e os assiste em todo o tempo e em todas as situações.
Na passagem da primeira Leitura, refletimos sobre a vocação do Profeta Ezequiel (Ez 2,2-5) que, como toda vocação profética, é uma iniciativa de Deus e uma resposta humana, para ser no meio do Povo a voz de Deus: a missão do Profeta consiste em falar e atuar em nome de Deus.
O Profeta Ezequiel exerce o ministério profético no difícil tempo do exílio na Babilônia, e pode ser chamado “o Profeta da esperança”, denunciando as infidelidades a Javé que levaram o povo ao exílio, e também destruindo as falsas esperanças dos exilados, levando-os a confiar tão apenas em Deus, que não os abandonou e os reconduzirá de volta à sua terra.
O ministério do Profeta Ezequiel nos revela que Deus chama homens e mulheres frágeis e limitados e sua missão consiste em apresentar Sua proposta, ou seja, ser uma voz humana que indique os caminhos de Deus.
Pelo Batismo, também recebemos a missão de sermos profetas, fomos ungidos como profetas à imagem de Cristo. Como profetas, temos que viver com os olhos postos em Deus e os olhos postos no mundo (uma mão na Bíblia e a outra no jornal diário).
Deste modo conseguimos perceber a distância existente entre o sonho de Deus para a humanidade e a realidade vivida.
A vocação profética por vezes comporta perseguição, sofrimento e marginalização, e por isto, é preciso vencer todo medo, comodismo, preguiça que nos impeçam de viver esta missão.
Reflitamos:
- Quem são e onde estão os profetas hoje?
- O que mais nos impede a vivência da vocação profética?
- Temos consciência de que as fragilidades não são obstáculos para a vivência da vocação profética?
Na passagem da segunda Leitura (2 Cor 12,7-10), o Apóstolo Paulo nos comunica a mensagem de que somos instrumentos frágeis, finitos e limitados nas mãos de Deus.
Ele próprio não se vale de seus méritos e se apresenta como homem frágil e vulnerável, a quem Deus chamou e enviou para dar testemunho de Jesus Cristo a todo o mundo.
A finitude e a fragilidade não são determinantes para a missão, porque o que prevalece é a graça divina. Em nossa fraqueza, Deus manifesta a Sua força para vencermos todo desânimo e tentação de desistir.
O cristão autêntico vive em função de Cristo e conta com Ele na Palavra e na Eucaristia.
Reflitamos:
- Qual é o lugar que Jesus ocupa em minhas decisões, projetos, opções e atitudes?
- Quando experimentei a força de Deus em minha fraqueza?
Na passagem do Evangelho (Mc 6,1-6), contemplamos a ação de Deus, que Se revela na fraqueza e na fragilidade, e por isto a dificuldade dos conterrâneos de Jesus reconhecê-Lo como Salvador da humanidade; não conseguem reconhecer a presença de Deus naquilo que Ele diz e faz.
Esta rejeição, no entanto, não invalida Sua procedência divina nem O leva a desistir da missão pelo Pai confiada.
No rosto humano de Jesus, a divindade de Deus se revela, e no rosto divino de Jesus se revela a Sua humanidade: em Jesus o humano e o divino se encontram.
A atitude de Jesus nos convida a nunca desanimar e desistir: Deus tem Seus Projetos e sabe como transformar o fracasso em êxito.
Pelo Batismo, continuamos a missão de Jesus vivendo a vocação como graça e enfrentando as possíveis dificuldades.
A missão do profeta, no seguimento do Senhor, não é a busca do prazer, sucesso, vedetismo, holofotes, mas é algo sério, profundo e que dá sentido à vida.
É Deus que nos chama para a vocação profética apesar de nossas limitações, mas somente uma paixão profunda por Jesus nos fará profetas, aguentando o espinho na carne, enfrentando e superando incompreensões, oposições e acusações.
Reflitamos:
- Qual é a minha vocação na Igreja e no mundo?
- De que modo me abro à graça divina para viver a vocação e enfrentar possíveis dificuldades?
- Para onde Deus me envia?
- Como se manifesta em mim a graça divina?
Voltemo-nos à oração depois da comunhão da Solenidade de Pedro e Paulo, que muito nos fortalece no discipulado e missão para sermos hoje os profetas no mundo como Deus tanto espera.
“Concedei-nos, ó Deus, por esta Eucaristia, viver de tal modo na Vossa Igreja que, perseverando na Fração do Pão e na Doutrina dos Apóstolos, e enraizados no Vosso Amor, sejamos um só coração e uma só alma. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém!”
Tão somente enraizados no amor de Deus e nutridos pelo Pão da Imortalidade, iluminados pela Palavra do Senhor, e com a força e luz do Santo Espírito é que poderemos realizar com solicitude e ardor a missão profética recebida no dia de nosso Batismo.
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