sexta-feira, 5 de julho de 2024

Sem paixão e a Graça Divina não há profecia (XIVDTCB)

Sem paixão e a Graça Divina não há profecia

A Liturgia do 14º domingo (ano B) revela um Deus que nos chama para sermos Suas testemunhas, apesar de nossas limitações, fragilidades, pois é paradoxalmente em nossa fraqueza que Ele manifesta a Sua força.

Com a primeira Leitura (Ez 2, 2-5) refletimos sobre a vocação profética, que consiste numa iniciativa de Deus. Não existe autovocação, ninguém é Profeta por iniciativa própria, pois sua vocação é antes um desígnio divino.

O Profeta é uma pessoa frágil e limitada, mas contando sempre com a força e presença de Deus, torna-se uma voz humana que indica os caminhos de Deus.

Sua vocação é fruto da eleição divina, apesar dos limites humanos naturais.

Ezequiel, o Profeta da esperança, exerceu seu ministério no dificílimo momento da história do Povo de Deus, no meio dos exilados judeus. Sua missão consistiu em destruir as falsas esperanças dos exilados e denunciar a multiplicação de infidelidades do Povo a Javé. 

Portanto, a missão do Profeta é revelar o sonho de Deus, que é infinitamente superior à realidade que se nos apresenta.  Tem os olhos postos em Deus no mundo. Lê a realidade, o “jornal diário” à luz da Palavra Divina. 

É um precioso instrumento nas mãos de Deus para Sua proposta libertadora, e por isto o Profeta Ezequiel tem a árdua missão de alimentar a esperança e a confiança em Deus, irrevogavelmente fiel à Sua Aliança com o Povo.

Poderá sofrer perseguições, sofrimentos, marginalização ou sucumbir no medo, comodismo ou preguiça.

Reflitamos:

-  Quem são e onde estão os Profetas de hoje?
-   Como vivemos a vocação profética recebida no dia de nosso Batismo?

-  O que mais impede a vivência de minha vocação profética?
-  Tenho consciência de que minhas fragilidades não são obstáculos para viver a vocação profética?

O Apóstolo Paulo na passagem da segunda Leitura (2Cor 12,7-10) reforça o fato de sermos instrumentos finitos e limitados nas mãos de Deus.

O texto pertence à terceira parte da Carta em que Paulo, num estilo apaixonado, defende a autenticidade de seu ministério diante de “superapóstolos” que o acusavam de não ser fiel à doutrina dos Apóstolos, entre outras coisas.

Paulo não se vale dos seus méritos, mas se apresenta como homem frágil e vulnerável, para que a força e a graça de Deus nele se manifestassem e mostrassem os Seus caminhos.

Há uma fraqueza que permite a plena manifestação do poder de Deus: é a que é vista e aceita com fé humilde, com disponibilidade confiante, com obediência filial. Então Deus pode fazer coisas grandes”. (1)

É na fraqueza humana que Deus revela a Sua força, e faz-se necessário vencer toda e qualquer forma de desânimo e a tentação de desistir:

“Do mesmo modo, porém, como Cristo Crucificado é ‘poder de Deus e sabedoria de Deus para todos os que creem’, assim a fraqueza do evangelizador não lhe é tirada, mas é vista num mundo diametralmente oposto – 'quando sou fraco, então é que sou forte' (v.10)". (2)

Com Paulo, aprendemos que o cristão autêntico vive em função de Cristo.

Reflitamos:

  -   Qual o lugar que Jesus ocupa em minhas decisões, projetos, opções e atitudes?
  -   Como acolho a graça de Deus em minha vida e missão?

  -   Sou consciente de minhas fraquezas e limitações para que apesar delas, Deus possa manifestar a Sua força, Seu Projeto, Seus desígnios?
  -   Confio na força e atuação de Deus por meio de minha condição finita e frágil?

Com a passagem do Evangelho (Mc 6,1-6), contemplamos através da ação e presença de Jesus, um Deus que Se manifesta na fraqueza e na fragilidade. 

Os conterrâneos de Jesus em Nazaré, não souberam ir ao encontro e acolher Deus na pessoa de Jesus, o Emanuel, Deus conosco, ao contrário, tiveram uma reação totalmente oposta, de rejeição, indiferença.

Podemos nós também acolher ou nos tornarmos indiferentes à proposta de Jesus, como Seus conterrâneos, fechados em nossos esquemas mentais, preconceitos diversos, que impedem o reconhecimento e acolhida d’Ele em nossa vida.

Embora rejeitado pelos Seus a missão de Jesus não é invalidada e tão pouco interrompida. Bem dizia São Francisco pelos caminhos da Itália: “O Amor não é amado”.

“Cristo Crucificado é o emblema do Amor infinito de Deus por nós. Embora vergados sob a Cruz, com coração obstinado, os homens desafiam a Sua onipotência; Ele permanece inerme na Cruz, mostrando um Amor indefectível, mais forte que a morte.

[...] A Cruz de Cristo revela a maldade humana, mas, mais ainda, revela o Amor de Deus. Aos pés da Cruz de Cristo confrontam-se num dramático e perene duelo, ‘a fortaleza débil’ do homem e a ‘fraqueza forte’ de Deus. A fé é que nos revela quem é o vencedor”. (3)

Pode ocorrer na missão dos discípulos o mesmo, importa não deixar se levar pelo desânimo, frustração, dificuldades.

Se grande é a incredulidade humana, bem maior é o Amor de Deus por nós. 

Reflitamos:

  -  A missão do Profeta não é uma missão de descanso e fuga. Assim compreendo a minha missão?
  -  A missão do Profeta não é pelo prazer, mas fidelidade ao Sopro do Espírito, suportando as diversas dificuldades acima mencionadas. Sei suportar estas dificuldades, provações, na vivência de minha vocação profética?

  -   Qual é a minha vocação?
  -   Para que Deus me chama?

  -   Para onde Deus me envia?
  -   Como se manifesta em mim a graça divina?
  -   Quais são as dificuldades a serem superadas?

Colocar-se frente a estas questões permite um olhar mais atento aos grandes personagens da Bíblia, que viveram sua história de amor e sedução por Deus, cada um em seu tempo: Ezequiel, o Apóstolo Paulo, e tantos outros.

Hoje, na fidelidade ao Senhor, é preciso enraizar profundamente em Seu Amor, sem o que a chama profética se apagaria totalmente, e com isto não saberíamos qual o sentido do próprio existir.

Que na Eucaristia celebrada, pela Palavra de Deus iluminados, e pelo Pão da Imortalidade fortalecidos, renovemos e revigoremos a nossa vocação profética. 

Precisa-se de Profetas autênticos, para que o mundo seja mais próximo do que Deus quer para nós. Qual é a nossa resposta?

Oremos:
Que Deus nos conceda a graça de uma fé humilde,
disponibilidade confiante e obediência filial,
para vivermos autenticamente a missão que nos confia, 
não por causa de nossa força e mérito,
até mesmo por falta deles. 
Amém!


(1) (2) (3) - Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa -  pág. 663-666.

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