“Vinde a mim...”: um amoroso convite
A
Liturgia do 14º Domingo do Tempo Comum nos apresenta a passagem do Evangelho de
Mateus (Mt 11,25-30), e somos enriquecidos com a Catequese Batismal de São
João Crisóstomo, Bispo e Doutor da Igreja (séc. V).
“Vinde
a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso de vossos fardos e Eu
vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou
manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso para as vossas almas.
Vistes maior superabundância de bondade? Percebes a generosidade do convite? Vinde
a mim – diz – todos vós que estais cansados e fatigados. Amoroso o
convite! Inefável a bondade!
Vinde
a mim todos:
não somente os que ordenam, mas também os que obedecem; não somente os livres,
mas também os escravos; não somente os homens, mas também as mulheres; não
somente os jovens, mas também os anciãos; não somente os de corpo são, mas
também os aleijados e entrevados, todos – diz – vinde. Tais são,
realmente, os dons do Senhor: não conhece diferença entre escravo e livre, nem
entre rico e pobre, mas toda esta desigualdade está rejeitada: Vinde –
diz – todos vós que estais cansados e fatigados.
Observa
a quem Ele chama: aos que se esgotaram completamente nas iniquidades, aos que
estão oprimidos pelos pecados, aos que nem sequer podem mais levantar a cabeça,
aos que estão mortos de vergonha, aos que mais estão privados de confiança para
falar. E por que os chama? Não para pedir-lhes conta, nem para estabelecer um
tribunal. Então, para quê? Para fazer-lhes descansar de seu cansaço, para
tirar-lhes a sua carga pesada.
E
será que poderia acontecer algo mais pesado do que o pecado? Este, na
realidade, por mais que tantas vezes não o sintamos ou queiramos ocultá-lo das
pessoas comuns, é aquele que desperta contra nós o juiz incorruptível que é a
nossa consciência, e ela, sempre alerta, vai tornando nossa dor contínua, como
um carrasco que dilacera e sufoca a mente, mostrando desta forma a enormidade
do pecado. Aos que estão, pois, oprimidos pelo pecado – diz –, e como
sobrecarregados por uma carga, a estes aliviarei agraciando-lhes com o perdão
de seus pecados. Unicamente, vinde a mim! Quem será tão de pedra, quem
tão teimoso que não obedeça a um convite tão bondoso?
Em
seguida, para ensinar-nos também de que modo alivia, acrescenta: Tomai sobre
vós o meu jugo. ‘Entrai, diz, sob o meu jugo. Porém não vos assusteis ao
ouvir jugo, porque este jugo nem roça o pescoço nem faz abaixar a
cabeça; ao contrário, ensina a pensar nas coisas do alto e forma na verdadeira
filosofia.
Tomai
sobre vós o meu jugo, e aprendei: ‘Unicamente, entrai sob o jugo e aprendei.
Aprendei, ou seja: aplicai o ouvido, para poder aprender de mim’. De fato, não
vou exigir de vós nada pesado: vós, meus escravos, imitai a mim, vosso amo; vós
que sois terra e pó, imitai a mim, feitor do céu e da terra, vosso Criador: Aprendei
de mim, porque sou manso e humilde de coração.
Vês
a condescendência do Senhor? Vês sua inconcebível bondade? Não nos exigiu algo
pesado ou odioso. Realmente, ele não disse: ‘Aprendei de mim que realizei
prodígios, que ressuscitei mortos, que fiz milagres’. Tudo isso era unicamente
próprio de seu poder. Então, o quê? Aprendei de mim, porque sou manso e
humilde de coração, e vós encontrareis descanso para as vossas almas.
Percebes como são grandes os benefícios e a utilidade deste jugo?
Portanto,
o que foi considerado digno de entrar sob este jugo e é capaz de aprender do
Senhor a ser manso e humilde de coração, obterá para a sua alma todo o alívio.
Este é, realmente, o ponto capital de nossa salvação: quem é possuidor desta
virtude, mesmo que esteja unido ao corpo, poderá rivalizar com os poderes
incorpóreos e já não ter nada em comum com o presente”. (1)
Jesus
nos faz um amoroso convite e espera a nossa resposta. Acorramos ao Senhor, sem
demora, e n’Ele encontraremos acolhida amorosa.
Refaçamo-nos
de nossos cansaços, para continuarmos nosso discipulado: Seu jugo é suave e Seu
fardo é leve.
Sobretudo neste tempo tão difícil que estamos vivendo, marcado pelo isolamento social, vigilância, solidariedade para fazermos nossa travessia pelo mar revoltoso do medo e das dificuldades, no mesmo barco e debaixo da mesma tempestade. Mas certíssimos da Sua presença que nos ajuda a vencer todo o medo.
Carreguemos, portanto, com coragem e confiança nossa cruz quotidiana, certos de que não a carregamos sozinhos. E supliquemos humildemente:
Sobretudo neste tempo tão difícil que estamos vivendo, marcado pelo isolamento social, vigilância, solidariedade para fazermos nossa travessia pelo mar revoltoso do medo e das dificuldades, no mesmo barco e debaixo da mesma tempestade. Mas certíssimos da Sua presença que nos ajuda a vencer todo o medo.
Carreguemos, portanto, com coragem e confiança nossa cruz quotidiana, certos de que não a carregamos sozinhos. E supliquemos humildemente:
“Jesus,
manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao Vosso!”
(1)
Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp.
170-172
PS: Escrito em 04 de julho de 2020
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