terça-feira, 3 de setembro de 2024

Amar e cuidar dos que nos foram confiados

                                                 

Amar e cuidar dos que nos foram confiados

O Papa São Gregório Magno (Séc. VI), em sua Regra Pastoral, exorta aqueles que conduzem o rebanho pelo Senhor confiado, a serem pastores discretos no silêncio e úteis na palavra, como veremos.

“Seja o pastor discreto no silêncio, útil na fala, para não falar o que deve calar, nem calar o que deve dizer. Pois da mesma forma que uma palavra inconsiderada arrasta ao erro, o silêncio inoportuno deixa no erro aqueles a quem poderia instruir.

Muitas vezes, pastores imprudentes, temendo perder as boas graças dos homens, têm medo de falar abertamente o que é reto. E segundo a palavra da Verdade, absolutamente não guardam o rebanho com solicitude de pastor, mas, por se esconderem no silêncio, agem como mercenários que fogem à vinda do lobo.

O Senhor, pelo Profeta, repreende estes tais dizendo: ‘Cães mudos que não conseguem ladrar’ (Is 56,10). De novo queixa-se: ‘Não vos levantastes contra nem opusestes um muro de defesa da casa de Israel, de modo a entrardes em luta no dia do Senhor’ (Ez 13,5).

Levantar-se contra é contradizer sem rebuços aos poderosos do mundo em defesa do rebanho. E entrar em luta no dia do Senhor quer dizer: por amor à justiça resistir aos que lutam pelo erro.

Quando o pastor tem medo de dizer o que é reto, não é o mesmo que dar as costas, calando-se? É claro que se, pelo rebanho, se expõe, opõe um muro contra os inimigos em defesa da casa de Israel.

Outra vez, se diz ao povo pecador: ‘Teus profetas viram em teu favor coisas falsas e estultas; não revelavam tua iniquidade a fim de provocar à penitência’ (Lm 2,14).

Na Sagrada Escritura algumas vezes os profetas são chamados de doutores porque, enquanto mostram ser transitórias as coisas presentes, manifestam as que são futuras.

A Palavra divina censura aqueles que veem falsidades, porque, por medo de corrigir as faltas, lisonjeiam os culpados com vãs promessas de segurança; não revelam de modo nenhum a iniquidade dos pecadores porque calam a palavra de censura.

Por conseguinte, a chave que abre é a palavra da correção porque, ao repreender, revela a falta a quem a cometeu, pois muitas vezes dela não tem consciência.

Daí Paulo dizer: ‘Que seja poderoso para exortar na sã doutrina e para convencer os contraditores’ (Tt 1,9). E Malaquias: ‘Guardem os lábios do sacerdote a ciência; e esperem de sua boca a lei porque é um mensageiro do Senhor dos exércitos’ (Ml 2,7). Daí o Senhor admoestar por meio de Isaías: ‘Clama, não cesses; qual trombeta ergue tua voz’ (Is 58,1).

Quem quer que entre para o sacerdócio, recebe o ofício de arauto, porque caminha à frente, proclamando a vinda do rigoroso juiz, que se aproxima.

Portanto, se o sacerdote não sabe pregar, que protesto elevará o arauto mudo? Daí se vê por que sobre os primeiros pastores o Espírito Santo pousou em forma de línguas; com efeito, imediatamente impele a falar sobre ele aqueles que inunda de luzes”.

Como zelosos pastores no cuidado do rebanho, estas Regras devem ser sempre lembradas e nos acompanhar no exercício do ministério.

Da mesma forma, devem estar presentes no coração e na mente de todos os Agentes de Pastoral, de modo especial àqueles que têm o Ministério de Coordenação ou qualquer outra responsabilidade maior na comunidade.

Não podemos também deixar de reconhecer que este cuidado deve se fazer presente no coração dos pais e de todo educador, dentro ou fora do âmbito eclesial.

Supliquemos ao Senhor que o Seu Espírito venha em socorro de nossa fraqueza e tenhamos a palavra certa, na hora certa, para que não pequemos pela indiferença ou omissão.

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