“Usemos as coisas temporais, mas desejemos as eternas”
“Se não podeis deixar as coisas do mundo,
fazei uso delas de tal modo que não vos prendam a ele...”
Sejamos enriquecidos pela Homilia do Papa São Gregório Magno (séc. V) sobre os Evangelhos, que nos fala sobre a verdadeira atitude de cristãos diante dos bens que passam e dos que não passam.
“Desejaria exortar-vos a deixar tudo, mas não me atrevo. Se não podeis deixar as coisas do mundo, fazei uso delas de tal modo que não vos prendam a ele, possuindo os bens terrenos sem deixar que vos possuam.
Tudo o que possuís esteja sob o domínio do vosso espírito, para que não fiqueis presos pelo amor das coisas terrenas, sendo por elas dominados.
Usemos as coisas temporais, mas desejemos as eternas. As coisas temporais sejam simples ajuda para a caminhada, mas as eternas, o termo do vosso peregrinar.
Tudo o que se passa neste mundo seja considerado como acessório. Que o olhar do nosso espírito se volte para frente, fixando-nos firmemente nos bens futuros que esperamos alcançar.
Extirpemos radicalmente os vícios, não só das nossas ações, mas também dos pensamentos. Que o prazer da carne, o ardor da cobiça e o fogo da ambição não nos afastem da Ceia do Senhor!
Até as coisas boas que realizamos no mundo, não nos apeguemos a elas, de modo que as coisas agradáveis sirvam ao nosso corpo sem prejudicar o nosso coração.
Por isso, irmãos, não ousamos dizer-vos que deixeis tudo. Entretanto, se o quiserdes, mesmo possuindo-as, deixareis todas as coisas se tiverdes o coração voltado para o alto. Pois quem põe a serviço da vida todas as coisas necessárias, sem ser por elas dominado, usa do mundo como se dele não usasse.
Tais coisas estão ao seu serviço, mas sem perturbar o propósito de quem aspira às do alto. Os que assim procedem têm à sua disposição tudo o que é terreno, não como objeto de sua ambição, mas de sua utilidade. Por conseguinte, nada detenha o desejo do vosso espírito, nenhuma afeição vos prenda a este mundo.
Se amarmos o que é bom, deleite-se o nosso espírito com bens ainda melhores, isto é, os bens celestes. Se tememos o mal, ponhamos diante dos olhos os males eternos. Desse modo, contemplando na eternidade o que mais devemos amar e o que mais devemos temer, não nos deixaremos prender ao que existe na terra.
Para assim procedermos, contamos com o auxílio do Mediador entre Deus e os homens. Por meio d’Ele logo obteremos tudo, se amarmos realmente Aquele que, sendo Deus, vive e reina com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.”
Os cristãos estando no mundo não são do mundo e devem ter atitude diferente frente aos bens, de modo especial nos exorta o Papa, de modo que quanto mais Eucarísticos e Pascais formos:
Maior será nossa liberdade e desprendimento diante de tudo e de todos para maior fidelidade ao Senhor;
Maior também será nossa disponibilidade para amá-Lo e servi-Lo na pessoa do nosso próximo;
Maior será nosso contentamento com o que possuímos, afinal não precisamos muito para ser feliz quando nosso coração encontrou no Senhor o divino deleite e inebriamento;
Maior será também a gratidão pelo que possuímos, sem cairmos no consumismo que não dá o verdadeiro sentido e preenchimento da alma.
Maior alegria sentiremos quando menos trêfegos formos e soubermos trafegar entre as privações e provações da vida, com toda confiança no Senhor, buscando as coisas do alto onde habita Deus, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo – “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus.” (Cl 3,1).
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